Comuns em obras que envolvem escavações, construção de poços, instalações e manutenções de redes de água, gás e esgoto, as atividades em espaços confinados são motivo de muita regulamentação para garantir a segurança dos trabalhadores. É considerado espaço confinado o ambiente que possui aberturas de entrada e saída limitadas e ventilação natural escassa, com pouco ou nenhum oxigênio.
Os riscos inerentes ao trabalho nessas condições são altos e podem ser fatais: da asfixia à intoxicação por substâncias químicas, passando por quedas, soterramentos, choques elétricos, explosões e incêndios provocados pela presença de vapores e gases inflamáveis. Tamanha periculosidade requer uma gestão de segurança e saúde criteriosa, incluindo uma série de ações de prevenção de riscos, medidas administrativas de controle e muito treinamento para o trabalho em condições difíceis.
O que dizem as normas?
O principal documento que estabelece diretrizes para o trabalho em espaços confinados é a Norma Regulamentadora n°33, do Ministério do Trabalho, que especifica responsabilidades a empregados e a empregadores e veda a designação para serviços em espaços confinados sem a prévia capacitação do trabalhador.
A NR-33 exige que todos os espaços confinados sejam adequadamente sinalizados, identificados e isolados, para evitar que pessoas não autorizadas entrem nestes locais, o que pode gerar acidentes. O documento também determina que o profissional só poderá entrar em um espaço confinado depois de obtida a permissão de entrada e trabalho (PET), um formulário que lista procedimentos de segurança e emergência e que é preenchido pelo supervisor de entrada.
A NR-33 estabelece, ainda, que sejam observadas, de forma complementar, normas da ABNT como a NBR 14.606 – Postos de Serviço – Entrada em Espaço Confinado. Ainda em 2017, o arsenal normativo que regulamenta o trabalho em espaços confinados deverá contar com mais um texto, a ABNT NBR 16.577 – Espaço Confinado – Prevenção de Acidentes, procedimentos e medidas de proteção. Atualmente em consulta pública, a nova norma vai substituir a NBR 14.787:2001 e estabelece requisitos para identificar, caracterizar e reconhecer os espaços confinados, bem como para implantar um sistema de gestão que garanta a segurança e a saúde dos trabalhadores.
Planejamento conforme a NR33
“A organização do trabalho em local confinado deve considerar as ameaças presentes neste espaço, tais como calor, queda em altura, vapores, gases e poeiras, avaliando a toxidade e os riscos de explosão, bem como eventuais riscos biológicos”, salienta o consultor em segurança no trabalho Giovani Pons Savi.
De acordo com o engenheiro Jonathan Ribeiro, também consultor em segurança do trabalho, entre as principais etapas que compõem o planejamento do trabalho em espaços confinados, destacam-se:
1. Identificação, caracterização e elaboração do prontuário do espaço confinado
2. Treinamento dos colaboradores
3. Permissão de Entrada de Trabalho (PET)
4. Entrada no espaço confinado
5. Monitoramento contínuo das condições atmosféricas
Os responsáveis pelo planejamento dessas atividades são o engenheiro responsável pela obra e o engenheiro de segurança do trabalho.
Proteção individual e coletiva
A proteção individual para os profissionais que atuam em espaços confinados é definida em função dos riscos encontrados e, em geral, envolve o uso conjunto de EPIs, como cintos de segurança, linha de vida para acesso e resgate (quando há diferença de nível), calçados (que podem ser impermeáveis se o local for alagado), luvas, óculos, lanternas especiais, rádios de comunicação e detectores de gases. Dependendo da situação, máscaras individuais podem estar conectadas a cilindros de oxigênio.
O espaço confinado deve ser previamente preparado para o serviço com equipamentos para iluminação à prova de explosão, além de exaustores e ventiladores para melhorar níveis de oxigênio no local e diluir concentrações de gases e vapores. O projeto que antecede a entrada dos trabalhadores precisa prever, ainda, sinalização de segurança por meio de placas, fitas zebradas, cones etc.
No rol de equipamentos fundamentais para quem atua em locais confinados, estão os medidores de gases que servem para verificar os níveis de oxigênio e de outros gases e vapores tóxicos e inflamáveis. O mercado oferece modelos com variados graus de sofisticação. Mas, segundo Ribeiro, “deve-se dar preferência para equipamentos de leitura direta, intrinsecamente seguros, providos de alarme, calibrados e protegidos contra emissões eletromagnéticas ou interferências de radiofrequência”.
De acordo com a NR-33, tanto os equipamentos de sondagem inicial quanto os de monitoramento contínuo da atmosfera precisam ser calibrados e testados antes do seu uso, além de serem apropriados para o trabalho em áreas potencialmente explosivas.
Os riscos de acesso ao espaço confinado
O espaço confinado se refere a qualquer lugar que, em virtude de sua natureza fechada, crie condições de risco ao trabalhador como tanque, reator, poço, câmaras ou qualquer outro espaço similar que possam possuir atmosferas inflamáveis ou explosivas, gases e vapores tóxicos, a presença de fluidos ou partículas sólidas que possam ter o volume aumentado, alteração do nível de oxigênio ideal para respiração e temperaturas agressivas. Todos esses riscos são apresentados mais detalhadamente a seguir.
A atmosfera tóxica pode ocorrer por diversos fatores, como vazamentos, fumaça causada por fogo, armazenamento de produtos, infiltrações ou devido ao próprio trabalhado que está sendo realizado pelo colaborador. Estes contaminantes podem causar vários efeitos como tontura, inconsciência e morte.
A alteração do nível de oxigênio pode se dar pela presença de outro gás, através da decomposição de elementos orgânicos, reações químicas, presença de fogo dentro outros. Quando ocorre o aumento do nível de oxigênio, o ambiente pode se tornar uma verdadeira bomba, pois um ambiente rico em oxigênio a ignição do fogo nos materiais ocorre muito mais fácil.
O outro fator que potencializa o risco de explosão é presença de atmosferas inflamáveis ou explosivas. Estas atmosferas apresentam risco de incêndio ou explosão devido à presença de líquidos ou gases inflamáveis ou até mesmo, de pó com capacidade de combustível suspenso no ar. Como área confinada pode não haver ventilação, a concentração destes gases pode se tornar muito elevada impossibilitando a ignição, porém ao abrir acesso ao local a concentração de gás pode chegar rapidamente na proporção ideal e a menor falta de cuidado com as fontes de ignição podem ocasionar uma explosão.
Quando há a presença de fluidos ou partículas sólidas no espaço confinado e não são observadas medidas de controle, pode resultar em afogamento, asfixia, queimaduras e outras lesões.
Outra característica que pode ocasionar graves acidentes é a temperatura nestes ambientes, que pode variar abruptamente, devido a falta de ventilação. A utilização de alguns EPI fundamentais, como mascara de ar mandado, roupas grossas, capacetes e etc, pode contribuir no aumento da sensação térmica e até mesmo causas desmaios se a temperatura do ambiente não for controlada.
Inspeção e manutenção em espaço confinado
Devido as caraterísticas deste tipo de ambiente, são necessárias diversas medidas de segurança para a realização dos trabalhos. Isso faz com que algumas atividades, principalmente relacionadas a manutenção e inspeção, sejam suprimidas ou realizadas de forma pouco eficiente. Por exemplo, a estratégia de manutenção nesses casos costuma ser de reparo ou troca de componentes de forma periódica independente do estado atual ou simplesmente a adoção da manutenção corretiva: quebrou, arrumou. De fato, não está errado a empresa que adotar tais soluções, porque evitam a exposição dos trabalhadores aos riscos o que compensam a questão operacional e financeira.
Algumas situações permitem que sejam instalados instrumentos de medição o que permite acompanhar externamente o que acontece no espaço confinado mas nem tudo pode ser monitorado desta forma.
Instalações industriais e equipamentos mais modernos evitam, desde o princípio do projeto, situações que possam ser consideradas como espaço confinado, como construções e equipamentos em poços. Desta forma se ganha em segurança e eficiência no trabalho.
O uso de drones para acesso ao espaço confinado
O uso de drones para inspeção em espaço confinado, pode ser a solução para melhorar a segurança e a eficiência nas operações. Com este equipamento, projetado especialmente para ser resistente as colisões, é possível acessar locais de difícil acesso de forma rápida e obter imagens precisas de soldas, oxidação, desgastes, limpeza e corrosão além a possibilitar a realização inspeção termográfica. Pode ser usando em condições de temperaturas relativamente altas (não extremas), áreas tóxicas ou ainda com pouco oxigênio. No entanto, o uso deste equipamento também requer a avaliação do ambiente que vai ser acessado, principalmente envolvendo a presença de agentes inflamáveis ou explosivos pois não se trata de equipamento intrinsecamente seguro.
Como visto, os trabalhos em espaço confinado envolve muitos riscos e deve ser muito bem avaliado. Com a adoção da norma NR-33, estas atividades passaram a ser melhores estruturadas aumentando a segurança nas operações. Devido tais exigências, as novas instalações e equipamentos tentam evitar condições de espaço confinado mas, em alguns casos, sempre existirá, como exemplos, tanques e reatores. A instrumentação e projetos de melhorias podem ajudar as atividades de manutenção e inspeção ter um controle maior destes espaços mas ainda haverá a necessidade de acesso. O uso de drones chega no mercado como uma solução interessante para essa demanda pois viabiliza acesso aos espaços confinados de forma rápida e segurança, permitindo avaliação precisa do profissional. No entanto, seu uso requer cuidados para que não venha a ser um problema ou um risco a segurança no trabalho.