Os Acidentes de Trabalho na Administração Pública: Uma Questão Negligenciada
Editor: Sandro Azevedo
Postagem: 2025-08-31T16:57:29-04:00
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Quando pensamos em acidentes de trabalho, é comum que a nossa mente se volte para setores como a indústria ou a construção civil, onde os riscos são mais visíveis. No entanto, o problema dos acidentes de trabalho também assombra a administração pública, muitas vezes de forma silenciosa e invisível. Embora o ambiente de trabalho possa parecer menos perigoso, os riscos existem e afetam a segurança e a saúde de milhões de servidores públicos.

Os desafios e os tipos de acidentes

Na administração pública, a natureza dos acidentes de trabalho é diversa. Muitos desses acidentes são resultados da falta de investimento em segurança e da ausência de uma cultura de prevenção.

Acidentes de trajeto: Uma das ocorrências mais frequentes, que acontecem no percurso de ida e volta do trabalho. Embora não estejam diretamente ligados às atividades do cargo, eles representam um risco significativo e são legalmente considerados acidentes de trabalho.

Lesões por esforço repetitivo (LER/DORT): A repetição de movimentos no ambiente de escritório, como digitar ou usar o mouse por longas horas, pode levar a problemas graves como tendinites e outras lesões musculoesqueléticas. Essas doenças ocupacionais afetam a produtividade e a qualidade de vida dos servidores.

Acidentes com agentes biológicos: Servidores da área da saúde, como enfermeiros e médicos que trabalham em hospitais e unidades básicas de saúde, estão constantemente expostos a riscos de contaminação por vírus, bactérias e outros agentes.

Acidentes relacionados à violência e assédio: Servidores que atuam no atendimento ao público ou em áreas como segurança pública podem ser vítimas de agressões físicas e verbais. Além disso, o assédio moral e sexual, embora não sejam acidentes físicos, podem causar danos psicológicos profundos e também são classificados como agravos à saúde do trabalhador.

Quedas e choques elétricos: Em ambientes de trabalho mais antigos ou com manutenção precária, a infraestrutura pode ser a causa de acidentes. Pisos irregulares, fios expostos e escadas sem corrimão são exemplos de perigos que podem causar quedas e choques.

Causas sistêmicas e a falta de investimento

O problema vai além dos riscos isolados. A falta de atenção à segurança e saúde no trabalho (SST) na administração pública é resultado de causas mais profundas, como:

Orçamento limitado: A falta de verbas para a manutenção de equipamentos, compra de materiais de proteção e realização de programas de prevenção é um dos principais obstáculos.

Burocracia e lentidão: A dificuldade em implementar mudanças e a lentidão nos processos administrativos impedem a adoção de medidas preventivas urgentes.

Falta de cultura de prevenção: A ausência de programas de conscientização e treinamentos periódicos faz com que a segurança seja vista como um gasto, e não como um investimento. Muitos gestores ainda não priorizam a saúde e o bem-estar dos servidores.

O custo humano e financeiro

Os acidentes de trabalho na administração pública geram impactos negativos para todos.

Impacto humano: Para o servidor, um acidente pode significar afastamento, redução da qualidade de vida, incapacidade temporária ou permanente e até mesmo a perda do emprego. A saúde mental também é afetada, com quadros de ansiedade e depressão.

Impacto financeiro: O afastamento de servidores por motivo de saúde resulta em custos significativos para o Estado, incluindo despesas com perícias médicas, licenças e a necessidade de contratação de substitutos.

O caminho a seguir: priorizar a prevenção

Para mudar essa realidade, a prevenção deve se tornar uma prioridade. É preciso mais do que apenas reagir aos acidentes; é necessário agir para evitá-los. Algumas medidas essenciais incluem:

Investimento em SST: A criação de orçamentos específicos para a segurança e saúde no trabalho é fundamental para garantir a manutenção de equipamentos, a compra de EPIs e a realização de treinamentos.

Criação de comissões de prevenção: A formação de grupos de trabalho, compostos por gestores e servidores, para identificar riscos e propor melhorias pode criar uma cultura de responsabilidade compartilhada.

Capacitação e treinamento: É essencial oferecer cursos e palestras sobre segurança para todos os servidores, com foco nos riscos específicos de cada setor.

Modernização e fiscalização: A modernização dos ambientes de trabalho e a fiscalização rigorosa das condições de segurança são essenciais para garantir que as normas sejam seguidas.

Ao priorizar a segurança e a saúde dos servidores, a administração pública não apenas cumpre seu papel de proteger o trabalhador, mas também investe na sua eficiência, na qualidade dos serviços prestados e em um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo para todos. É hora de tirar os acidentes de trabalho da invisibilidade e dar a eles a atenção que merecem.

Por: Sandro de Menezes Azevedo

Presidente/SINTEST-SE

Presidente/ASPROTEST

Diretor de Formação Sindical e de Qualificação Profissional/FENATEST