O pouco da experiência que temos adquirido com o passar dos anos, nos faz resgatar raízes profundas na essência do que somos, enquanto profissionais, enquanto prevencionistas e Técnicos de Segurança do Trabalho, verdadeiramente capazes de redigir uma história não apenas de conquistas, mas de amadurecimento contínuo.
Aprendemos que o importante não é proclamarmos nosso nome, conquistarmos o maior número de curtidas nas redes sociais, obtermos o maior número de seguidores, sermos os mais conhecidos, ou até mesmo, os mais conceituados entre os demais, tudo isso, apenas agiganta o nosso ego, afastando-nos da realidade, de que todos somos iguais, e assim sendo, enquanto muitos buscam poder em suas representações de classe, sem ao menos se preocuparem com os rumos da nossa categoria profissional, outros, querendo ou não, silenciosamente, constroem o seu legado;
Aprendemos, que nem sempre podemos estar por cima, e olhando bem, isso não seria tão inteligente, se nós compreendêssemos que na vida profissional, às vezes precisamos nos colocar sobre os níveis mais inferiores da organização, para daí entendermos, que nem sempre aquele que se encontra no ápice da pirâmide, é o que de fato domina a liderança sob o chão da fábrica;
Aprendemos que fazer segurança no ambiente de trabalho, vai um pouco mais além, quando deixamos de ser meros reprodutores de teorias, e passamos a ser autores de uma história sem precedentes, afinal de contas, nossos olhos só conseguem ver, aquilo que nós queremos enxergar;
Aprendemos que o comportamento humano, é responsável pela grande maioria dos acometimentos indesejados nas organizações, principalmente, aqueles envolvendo graves acidentes em cursos operacionais, mas por outro lado, também descobrimos que, somente a mente humana é capaz de gerir os riscos presentes em uma atividade. Desta forma, chegamos à conclusão de que uma expressiva parcela dos profissionais formados para a prevenção em nosso país, lamentavelmente, ainda não foram educados para lidarem com ela;
Aprendemos ainda, que mesmo com todas as mudanças e reformas em nossa legislação, todas as crises e fissuras em nosso sistema político-econômico brasileiro, permanecemos diferenciados pelo papel que exercemos dentro das organizações, e cabe a cada um de nós, transformar a vida do trabalhador, em um conjunto de princípios norteadores para a ciência prevencionista.
Mas até que ponto conseguimos defender a nossa categoria, já que as afrontas do sistema ao qual nos encontramos inseridos, esmagam a ética, esfacelam a cultura da prevenção, e neutralizam a força dos poucos que se somam em prol de melhores condições de saúde e de trabalho para esses trabalhadores?
O sindicalismo irresponsável ditou o ritmo da música durante décadas em regiões importantes sob a ótica industrial, mas isso mudou; A velha ideologia do confronto de classes, que colocou patrões e empregados em lados opostos, atravancou o desenvolvimento de várias regiões brasileiras; O resultado não poderia ter sido pior. Sem arrecadação, a nossa antiga entidade sindical, que hoje representa, mais de 5 mil trabalhadores da categoria em Sergipe, também atrofiou. O que nós estamos fazendo? Aliás, o que foi que nós fizemos?
O sindicalismo à moda antiga está caindo em desuso em razão das profundas transformações na sociedade. O mercado de trabalho mudou, as empresas se ajustaram aos novos tempos, os profissionais se atualizaram, o ambiente de negócios é bem diferente do de anos atrás, portanto, os sindicatos perderam a relevância e terão de aprender a caminhar com as próprias pernas.
É provável inclusive, que centenas de sindicatos deixem de existir num espaço de tempo relativamente curto. Especialmente os pequenos vão desaparecer. Fecharão as portas por falta de dinheiro ou serão devorados por grandes grupos sindicais. Aqueles que viviam às custas da arrecadação do imposto, estão tendo que trabalhar dobrado, adotando uma postura proativa para convencer os trabalhadores de que a contribuição voluntária vale a pena. Isto significa, trabalhar de segunda à segunda, sábados, domingos e feriados em prol dos interesses de classe. Me permitam indagar, quem está realmente disposto a isso? Ou será que nós enquanto simples mortais, aprendemos a fazer mágica no conforto das nossas poltronas, ou mesmo, brincando de sindicalismo nas redes sociais?
Verdadeiros líderes reagem, se movimentam, se questionam, reformulam conceitos fracassados, e trabalham, porque acreditam não nas pessoas, porque elas mentem, traem, se corrompem e se auto-mutilam, mas neles próprios, enquanto agentes de mudança verdadeiramente capazes. Eles jamais se acomodam enquanto meros "personagens" de uma história de "ficção" e de "milagres". Precisamos estabelecer parâmetros de ação, mobilizações sociais e manifestações que possam impulsionar o crescimento, e alavancar a credibilidade das nossas representações de classe. Enquanto estivermos sepultados, como se fôssemos "múmias", no cemitério das nossas ilusões, nada acontecerá, e o mais óbvio, é que nada mais reste para fazermos, além de aceitarmos o fim...
Por sua vez, a categoria precisa acordar de um sono profundo, e enxergar que os Técnicos de Segurança do Trabalho também se encontram depreciados entre os 14,1 milhões de desempregados assumidos pelo estado brasileiro, e que meio ao grande colapso mundial, protagonizado pela catástrofe viral do Novo Coronavírus, atingindo drasticamente a economia dos países, não há muito o que se esperar, se meio a todo esse panorama, permanecermos enclausurados em nossos “templos” individuais, falidos em nossas representações, porque ainda, de fato, somos incapazes de garantir a base para uma representatividade efetiva.
Definitivamente, talvez estejamos vivendo um dos maiores ciclos de mudança em toda a história do nosso país, e mais do que nunca, precisamos garantir a nossa participação e a nossa importância no contexto social, visto estarmos diretamente contribuindo, não apenas com a economia, mas com o bem-estar sustentável do trabalho nas organizações. Precisamos de representantes que mobilizem e transformem a cultura mórbida da prevenção no Brasil, em uma filosofia de reconstrução de base, onde nós, profissionais da prevenção, temos um papel singular, na sobrevivência das empresas. Todos nós afinal, somos responsáveis por aquilo que somos, e intimamente representamos.
Por: Sandro de Menezes Azevedo
Técnico em Segurança do trabalho
Gestor Técnico em Análise de Riscos
Presidente/ASPROTEST
Diretor de Assuntos Jurídicos e de Eventos/SINTEST-SE
Segundo Secretário Geral/FENATEST
Idealizador/Safenation Brasil