Segurança no Corte de Madeira com Motosserra
Editor: Sandro Azevedo
Postagem: 2018-12-11T19:24:58-03:00
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É notório que o corte de madeira com motosserras é uma atividade de alto risco, exigindo dos trabalhadores o conhecimento das técnicas de trabalho e a adoção de normas básicas de segurança, visando a prevenção ou minimização dos acidentes de trabalho. Por isso, três aspectos importantes devem ser considerados: planejamento do trabalho, uso de equipamentos de proteção individual (EPIs), uso de máquinas em boas condições de funcionamento e adoção das técnicas de trabalho.

Inicialmente é importante ressaltar sobre a obrigatoriedade do registro da motosserra no órgão competente e a obtenção das licenças de porte e uso. Além disso, a motosserra deve ser manuseada somente por pessoas adultas, com boas condições físicas e de saúde, devendo ainda receber um treinamento básico abordando sobre as técnicas de corte, manutenção e segurança. A Norma Regulamentadora NR 12 do Ministério do Trabalho e Emprego relata da obrigatoriedade da oferta de treinamento aos trabalhadores de motosserras, com carga horária mínima de oito horas para o manuseio seguro conforme conteúdo constante no manual de instruções fornecido pelo fabricante. Entretanto, entendemos da necessidade de revisão desta norma, pois devido a alta periculosidade da motosserra, principalmente na etapa de derrubada de árvores, a carga horária mínima exigida deveria ser superior à recomendada.

Em relação ao planejamento do trabalho é importante lembrar que o trabalhador nunca deve executar o trabalho com motosserras sozinho, sendo recomendado sempre estar acompanhado por outro adulto, que poderá auxilia-lo na execução do trabalho e em algum imprevisto ou acidente de trabalho. O trabalhador deve inicialmente observar as situações de riscos no local de trabalho e analisar cada árvore individualmente anteriormente à sua derrubada, a declividade do terreno, os obstáculos existentes na área de trabalho, as árvores quebradas ou tombadas, os galhos secos e a tortuosidade da árvore, a direção de queda natural da árvore, a direção dos ventos, etc. Além disso, deve respeitar uma distância de segurança entre as pessoas na área de trabalho, que deve ser correspondente de duas a três vezes a altura da árvore; nunca operar a motosserra acima da linha da cintura e em dias de chuva ou em terrenos úmidos; e quando possível, disponibilizar na propriedade rural materiais de primeiros socorros e veículo para locomoção do trabalhador no caso de alguma emergência.

Ainda dentro do contexto do planejamento é importante que o trabalhador tenha sempre à disposição algumas ferramentas e acessórios, que poderão auxilia-lo na execução do corte da madeira com menor esforço físico e maior segurança, dentre os quais cita-se:

Alavanca: Acessório utilizado no auxílio à derrubada de árvores de médio porte, principalmente em plantios de pinus. Serve para inclinar a árvore na direção de queda desejada, mantendo o corte de abate aberto e evitando que o sabre da motosserra se prenda na madeira.

Cunha: Acessório utilizado no auxílio à derrubada de árvores de médio a grande porte ou no traçamento da madeira, sendo usado tanto em plantios de pinus quanto de eucalipto. Serve para manter o corte de abate aberto de forma que o sabre da motosserra não se prenda na madeira. Na derrubada da árvore, a cunha tem a função de abrir o corte no momento do abate, evitando ainda o tombamento da árvore na direção contrário à direção de queda. Deve ser de alumínio, madeira ou plástico, de modo a evitar danos caso entre em contato com a corrente da motosserra.

Fisga: Acessório utilizado no auxílio à derrubada de árvores de pequeno porte, principalmente em plantios de eucalipto, em dias de vento e quando as árvores apresentam inclinação contrária à direção de queda desejada. Deve ser acoplada a uma vara de madeira e utilizada por um auxiliar para empurrar a árvore no momento que o trabalhador estiver executando o corte de derrubada.

Ganho: Acessório utilizado para auxiliar no manuseio das toras de madeira, minimizando o esforço físico e oferecendo maior segurança ao trabalhador.

Machado, foice e facão: Ferramentas utilizadas na limpeza da área de trabalho, limpeza ao redor da árvore antes de execução da derrubada e na execução do desgalhamento de árvores.

Galão de combustível conjugado: Acessório utilizado no transporte de combustível e óleo lubrificante de corrente para o campo, em quantidades suficientes para um dia de trabalho. Possui dois compartimentos separados para depósito de combustível e óleo lubrificante e bico de regulagem automática que facilita o abastecimento na dosagem correta, editando derramamento e desperdícios.

Na sequencia, outro aspecto importante que o trabalhador deve atentar-se se refere às questões da segurança no trabalho, devendo sempre usar os seguintes EPIs:

Capacete com protetor auricular e facial: Trata-se de capacete especial, confeccionado em polietileno de alta resistência, com regulagem, carneira e suspensão e em cores que permita a visualização do trabalhador em longas distâncias. O protetor auricular é acoplado ao capacete e visa proteger o ouvido do trabalhador do ruído excessivo advindo da motosserra, enquanto o protetor facial, também acoplado ao capacete, composto de material plástico com tela de náilon, visa proteger o rosto e os olhos do trabalhador contra galhos e serragens advindos do corte da madeira.

Camisa: Deve ser usada camisa de mangas longas e material 100% algodão, que permite maior proteção dos braços do trabalhador, bem como favorece a evaporação do suor e a troca de calor com o meio externo.

Luvas: Confeccionada em vaqueta e náilon, possui a função de proteger aos mãos do trabalhador contra cortes e perfurações, além de contribuir para a minimização da vibração da motosserra.

Calça de proteção: Confeccionada em tecelagem especial e fios 100% poliéster, possui proteção interna na parte da frente e na panturrilha com camadas de malha e poliéster que confere alta resistência e proteção completa das pernas do operador contra cortes.

Botas: Também conhecido como coturno, são confeccionadas em vaqueta, palmilha de montagem em couro, acolchoado internamente, solado anti-derrapante e biqueira de aço, permitindo a proteção dos pés do trabalhador contra cortes e perfurações.

É importante ainda que o trabalhador rural tenha preocupação em relação ao estado de conservação da motosserra, devendo realizar sempre as manutenções periódicas da máquina após o seu uso, de modo a mantê-la em boas condições de funcionamento e proporcionando maior desempenho no trabalho, aumento da vida útil da máquina e segurança ao trabalhador. Os principais itens a serem verificados na manutenção são: afiação da corrente; limpeza do sabre, pinhão, filtro de ar e sistema de lubrificação. Além disso, é importante verificar diariamente o correto funcionamento dos dispositivos de segurança da motosserra, os quais são:

Freio de corrente: dispositivo que interrompe o giro da corrente no caso de um “rebote”.

Pino pega-corrente: dispositivo que no caso de rompimento da corrente, reduz seu curso, evitando que o trabalhador seja atingido.

Trava de segurança do acelerador: dispositivo que impede a aceleração involuntária da máquina.

Sistema anti-vibratório: dispositivo que minimiza as vibrações transmitidas pelo motor da máquina.

Silencioso e escapamento: dispositivo que protege o trabalhador em relação ao ruído emitido pelo motor e os gases de combustão do motor.

Por fim, um aspecto fundamental refere-se à necessidade dos trabalhadores conhecer e serem capacitados em relação às técnicas de trabalho no corte de árvores com motosserra. Basicamente ao realizar a derrubada de árvores, o trabalhador deve usar a técnica do entalhe direcional ou ângulo de corte (boca de corte), que tem a função de determinar a direção de queda desejado da árvore. O entalhe direcional é formado por um corte oblíquo e outro horizontal, com ângulo de 45° e profundidade entre 1/5 e 1/3 do diâmetro da árvore. Após realizar o entalhe direcional, o trabalhador deve fazer o corte de abate no lado oposto, na horizontal e mais alto em relação à superfície do entalhe direcional, formando o filete de ruptura. O filete de ruptura deve possuir uma espessura de aproximadamente 1/10 do diâmetro da árvore, possuindo a função de servir como uma espécie de “dobradiça”, oferecendo maior segurança ao trabalhador e garantindo a queda suave da árvore na direção desejada, conforme ilustração da Figura 1.

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O desgalhamento consiste na retirada dos galhos das árvores, sendo considerada uma operação de alta periculosidade devido à possibilidade da ocorrência de “rebote”, que consiste quando apenas o terço superior do sabre entra em contato com a madeira a ser cortada, onde então o conjunto de corte pode rebotear e voltar-se para trás e atingir o trabalhador. Por isso, sempre que possível, o desgalhamento deverá ser efetuado com auxílio de ferramentas, e quando for utilizado a motosserra, o trabalhador deve segurar firmemente a máquina e procurar cortar com a extremidade do sabre.

Já o traçamento consiste no seccionamento do tronco em toras, conforme as medidas de interesse. Apesar de uma menor periculosidade, trata-se de uma atividade de elevado esforço físico, devendo o trabalhador segurar firmemente a motosserra, adotar uma postura adequada e observar a disposição do tronco sobre o terreno no momento do corte, de modo a evitar que o sabre da motosserra se prenda na madeira.

Portanto, apesar das atuais tecnologias disponíveis para o corte de madeira, a motosserra continua sendo indispensável para o trabalho, principalmente nas pequenas e médias propriedades rurais. Entretanto, a falta de conhecimentos e de informações, que na maioria dos casos acabam não chegando ao campo têm provocado sérios acidentes de trabalho, muitos dos quais fatais. Diante deste cenário, é fundamental a união de forças entre o poder público e privado na busca soluções, dentre as quais cita-se a necessidade da capacitação de nossos proprietários e trabalhadores rurais, visando a execução de um trabalho produtivo, de qualidade e com total segurança, trazendo, consequentemente, melhor qualidade de vida no campo.