Riscos Psicossociais e Estresse no Trabalho
Editor: Sandro Azevedo
Postagem: 2019-01-15T08:23:52-03:00
  0 Avaliações
1114 Visualizações

Nos últimos trinta anos, o mundo do trabalho tem sofrido grandes transformações económicas e tecnológicas. Em toda a Europa, investigadores, entidades governamentais e organizações tornaram-se cientes de novos desafios no trabalho e da necessidade de satisfazer as exigências do mercado, ao mesmo tempo que garantem a rentabilidade dos seus negócios. Assim, adotaram novos métodos de organização que lhes permitem ser mais flexíveis e reativos. No entanto, essas mudanças provocaram alterações profundas na produtividade e na forma de trabalhar dos seus colaboradores, criando tensão no local do trabalho e abrindo caminho para o surgimento de riscos psicossociais.

Os riscos psicossociais referem-se a todos os envolventes psicológicos, físicos e sociais que impactam negativamente na vida de uma pessoa, bem como na eficácia de uma organização (European Agency for Safety and Health at Work, 2007; World Health Organization, 2017). Na Europa, cerca de 25% dos trabalhadores referem sofrer de stresse relacionado com o trabalho, e uma percentagem igual associa o trabalho como tendo um efeito negativo na sua saúde (Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho.

Neste âmbito importa referir alguns contextos teóricos, mas que geram diretivas para a praxis, insertos na AESST (2013) que refere que em todos os locais de trabalho existem riscos psicossociais e que o stresse relacionado com o trabalho é uma questão organizacional e não uma falha individual. Estes pressupostos colocam diretamente na “mesa” da decisão os empregadores e todos os que de alguma forma têm poder de assumir, dado o seu estatuto, o destino de quem trabalha.

Para além dos determinantes que podem e devem reorientar as estratégias de recursos humanos em prol da saúde mental, é pertinente salientar os números que implicam uma reflexão tendente a dar uma nova ótica à envolvente organizacional na componente stresse e riscos psicossociais, como sejam, 72% dos trabalhadores consideram que estes se devem à reorganização do trabalho ou à insegurança em termos de emprego, 66% referem que trabalham demasiadas horas que têm um excesso de carga do trabalho, 59% atribuem a sujeição a comportamentos inadmissíveis como o bullying ou assédio, e 51% consideram o stresse comum e com uma gestão inadequada.

Cerca de metade dos trabalhadores europeus considera o stress uma situação comum no local de trabalho, que contribui para cerca de 50% dos dias de trabalho perdidos. À semelhança de muitas outras questões relacionadas com a saúde mental, o stress é frequentemente objeto de incompreensão e estigmatização.

No entanto, se forem abordados como problema organizacional e não como falha individual, os riscos psicossociais e o stress podem ser controlados da mesma forma que qualquer outro risco de saúde e segurança no local de trabalho.

Os riscos psicossociais decorrem de deficiências na conceção, organização e gestão do trabalho, bem como de um contexto social de trabalho problemático, podendo ter efeitos negativos a nível psicológico, físico e social, tais como stress relacionado com o trabalho, esgotamento ou depressão.

 

Ao considerar as solicitações profissionais, importa não confundir riscos psicossociais como a carga de trabalho excessiva, e com as condições, embora estimulantes e por vezes desafiantes, de um ambiente de trabalho construtivo, em que os trabalhadores são bem preparados e motivados para dar o seu melhor. Um ambiente psicossocial positivo promove o bom desempenho e o desenvolvimento pessoal, bem como o bem-estar mental e físico dos trabalhadores.

Os trabalhadores sentem stress, quando as exigências do seu trabalho são excessivas, superando a sua capacidade de lhes fazer face. Além de problemas de saúde mental, os trabalhadores afetados por stress prolongado podem acabar por desenvolver graves problemas de saúde física, como doenças cardiovasculares ou lesões músculo-esqueléticas.

Para a organização, os efeitos negativos incluem um fraco desempenho geral da empresa, aumento do absentismo e subida das taxas de acidentes e lesões. Os períodos de absentismo tendem a ser mais longos do que os decorrentes de outras causas e o stress relacionado com o trabalho pode contribuir para um aumento da taxa de reforma antecipada. Os custos estimados para as empresas e para a sociedade são significativos e chegam aos milhares de milhões de euros a nível nacional.

Com uma abordagem correta, os riscos psicossociais e o stress relacionado com o trabalho podem ser prevenidos e geridos com sucesso, independentemente da dimensão ou tipo de empresa. Nesse sentido, podem ser tratados da mesma forma lógica e sistemática que outros riscos de saúde e segurança no local de trabalho.

A gestão do stress constitui um bom investimento para as entidades empregadoras, sendo também um imperativo legal estabelecido na Diretiva-Quadro 89/391/CEE, reforçado por acordos-quadro com os parceiros sociais sobre stress no trabalho e sobre assédio e violência no trabalho.

Além disso, o Pacto Europeu para a Saúde Mental e Bem-Estar reconhece a mutação das solicitações e a intensificação das pressões no local de trabalho e incentiva as entidades empregadoras a implementar medidas voluntárias suplementares para a promoção do bem-estar mental.

Embora as entidades empregadoras tenham a responsabilidade legal de assegurar a avaliação e o controlo adequados dos riscos no local de trabalho, é essencial garantir também o envolvimento dos trabalhadores. Os trabalhadores e os respetivos representantes têm uma melhor perceção dos problemas que podem ocorrer no local de trabalho. A sua participação garantirá que as medidas aplicadas sejam adequadas e eficazes.