Riscos Biológicos em Aviários: Estudo, Entendimento e Abordagem
Editor: Sandro Azevedo
Postagem: 2018-10-15T10:53:34-04:00
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O ambiente de trabalho em aviários tem sido motivo de discussões no que se refere à ocorrência de riscos biológicos, sendo pouco estudado pelos profissionais que atuam no setor. O presente artigo pretende contribuir com o tema, objetivando um entendimento da situação, tendo em vista que as notificações de doenças relacionadas a estes riscos, no Brasil, são praticamente inexistentes. Os registros de acidentes do trabalho relativos à existência de zoonoses ocupacionais registradas no Brasil foram pesquisados no anuário estatístico da Previdência Social do ano de 2002 onde foi constatado que em relação a doenças como aspergilose, blastomicose, brucelose, candidíase, dengue, dermatofitoses, leptospirose e clamidiose não havia registros em CAT (Comunicação de Acidente do Trabalho) do referido ano. Há nove registros de antraz, um de erisipelóide, um de hepatite e um de influenza por vírus não identificado, relacionados ao trabalho. A informação, ao ser confrontada com referencial registrado de doenças ocupacionais por agentes biológicos do Ministério do Trabalho Espanhol2, nos anos de 1997 e 1998, indica um registro de respectivamente 482 e 471 doenças nos referidos anos. Isto pode indicar uma subnotificação das mesmas no Brasil. Infere-se a necessidade de maiores estudos a respeito do tema, abrindo uma discussão ética a respeito do mesmo.

Os agentes biológicos relacionados à saúde humana para Couto3 são os microorganismos, os alergenos de origem biológica e os produtos derivados do metabolismo microbiano (endotoxinas e micotoxinas).

O risco biológico para a Sociedade Brasileira de Engenharia de Segurança (SOBES)4 é assim definido: "Riscos biológicos podem ser capitulados como doenças do trabalho, desde que estabelecido nexo causal, que incluem infecções agudas e crônicas, parasitoses e reações alérgicas ou intoxicações provocadas por plantas e animais. Muitas destas doenças são zoonoses, isto é, têm origem no contato com animais. Um grande número de plantas e animais produz substâncias que são irritantes, tóxicas ou alérgicas. As poeiras advindas dos locais onde ficam plantas e animais carreiam vários tipos de materiais alergênicos, incluindo ácaros, pêlos, fezes ressecadas em pó, pólen, serragem, esporos de fungos e outros sensibilizantes."

A American Conference of Governmental Industrial Hygienists (ACGIH)5 observa que contaminantes de origem biológica veiculados pelo ar incluem bioaerossóis e compostos orgânicos voláteis liberados por estes organismos. Os bioaerossóis incluem microorganismos e fragmentos, toxinas e resíduos particulados de seres vivos.

A Occupational Safety and Health Administration (OSHA)6 define como agentes biológicos: materiais naturais ou orgânicos, tais como terra, argila; materiais de origem vegetal (feno, palha, algodão etc.); subs-tâncias de origem animal (lã, pêlo etc.); alimentos; poeiras orgânicas (farinha, partículas de descamação e poeiras de papel); resíduos, águas residuais; sangue e outros fluidos corporais que poderão estar expostos a agentes biológicos. Estes alérgenos respiratórios são agentes biológicos e químicos que podem induzir doenças respiratórias alérgicas nos seres humanos. Dentre os agentes sensibilizadores de origem animal relacionados ao trabalho em pauta, podem estar presentes proteínas urinárias e epitélios de animais, bolores, ácaros e alguns tipos de pó de madeira.

A saúde do homem pode ser alterada pelo contato com os animais, podendo compartilhar doenças infecciosas com os mesmos. Para Miller7, a forma de transmissão de doenças entre homem e animais pode derivar de quatro tipos de inter-relações:

- Zoonoses: enfermidades transmissíveis de vertebrados ao homem e a outros animais;

- Zooantroponoses: enfermidades transmitidas dos vertebrados ao homem;

- Antropozoonoses: doença transmitida do homem a outros animais;

- Enfermidades transmitidas ao homem pelo meio ambiente (sendo os animais a fonte de contaminação ambiental).

A avaliação dos riscos biológicos de acordo com os agentes permite identificar quais os passíveis de serem risco específico ao trabalho em aviários, portanto, de interesse para o médico do trabalho. Motta8 ressalta as variáveis constituintes do processo saúde-doença, enfatizando que esta relação pode ser vista de uma perspectiva individual, onde o posto de trabalho e suas condições constituem a situação de risco específico ou de uma perspectiva de grupo, onde o processo de trabalho adquire a dimensão de risco específico e uma dimensão social. O processo de trabalho significa a exposição do trabalhador às condições específicas de seu posto de trabalho.

O trabalhador de aviário tem uma rotina de tarefas variadas, não permanecendo no ambiente do aviário durante toda a jornada de trabalho. Em função disso, serão descritas brevemente as atividades por eles realizadas, para que se tenha uma noção de tempo de exposição aos agentes biológicos referidos.

Existem basicamente dois tipos de aviários, com atividades distintas. O aviário de reprodução e o de frangos de corte.

No aviário de reprodução, são identificadas as seguintes atividades bem como o tempo de realização aproximado das mesmas:

- Limpeza de comedouros: trata-se de uma tarefa realizada uma vez ao dia, com duração aproximada de 30 minutos, onde é feita a higienização dos comedouros das aves;

- Limpeza de aviário: atividade realizada a cada 14 meses, com duração de um dia aproximadamente, onde é retirada a cama do aviário e higienizada;

- Revolvimento da cama do aviário: atividade realizada uma vez por semana, onde é feita uma redisposição dos elementos da cama do aviário, com duração aproximada de quatro horas;

- Fumigação: dispor de substâncias químicas no aviário, para manejo de pragas e outras utilidades, tarefa semanal com duração de duas horas;

- Retirada de aves mortas e doentes: tarefa diária, com aproximadamente dez minutos de duração;

- Carregamento de aves: realizado a cada 14 meses, com um dia de duração;

- Coleta de ovos: tarefa diária, realizada oito vezes por jornada de trabalho, com duração aproximada de 30 minutos por coleta;

- Colocar ração nas caçambas: realizada diariamente, pela manhã, para disponibilizar posteriormente a ração nos comedouros;

- Outras atividades nas áreas externas do aviário, tais como capinagem, seleção de ovos e limpeza.

Nos aviários de corte, as atividades são semelhantes, entretanto realiza-se carregamento de aves a cada 45 dias além de atividade de vacinação dos animais a cada lote. Os aviários têm uma estrutura ao redor de 1,200m2, abrigando cerca de 23 aves por m2. Tal proporção explica o tempo de permanência em algumas atividades.

Resultados e Discussão

A seguir, serão discutidos os riscos específicos dos trabalhadores de aviários em relação à lista de doenças de origem biológica oficial, as doenças que possam estar veiculadas pela cama de aviário e a lista de doenças infecciosas das aves.

1. Lista de Doenças de Origem Biológica da Previdência Social

No Brasil, as doenças profissionais reconhecidas por lei estão estabelecidas numa lista de doenças do tipo misto, de acordo com a Portaria nº 1.339 do Ministério da Saúde, de 18 de novembro de 1999, e com o Anexo II do Decreto nº 3.048 do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS). Sendo uma lista de dupla-entrada, pode-se optar pela pesquisa a partir do agente etiológico (lista A) ou a partir das doenças (lista B).

Assim, foi obtida a partir da lista A, as seguintes doenças: dermatose pápulo-pustulosa e suas complicações infecciosas e pneumonite por sensibilidade à poeira orgânica.

Na lista B, foram obtidos os seguintes agentes: tuberculose, carbúnculo, brucelose, leptospirose, tétano, psitacose, dengue, febre amarela, hepatites virais, doença pelo vírus HIV, dermatofitoses, candidíase, paracoccidioidomicose, malária e leishmaniose cutânea.

Todos estes agentes e doenças foram classificados, em relação ao adoecimento dos trabalhadores e sua relação com o trabalho, de acordo com a proposta por Schilling13, nos seguintes grupos:

- Grupo I: Doenças em que o trabalho é causa necessária, tipificados pelas doenças profissionais e pelas intoxicações agudas;

- Grupo II: Doenças em que o trabalho pode ser um fator de risco contributivo, mas não necessário, exemplificado por todas as doenças comuns, mais frequentes em determinados grupos ocupacionais, com nexo causal de natureza eminentemente epidemiológica;

- Grupo III: Doenças em que o trabalho é um provocador de um distúrbio latente, ou agravador de doença já estabelecida, ou seja, concausa, tipificada pelas doenças alérgicas de pele e respiratórias e distúrbios mentais, em determinados grupos ocupacionais.

Análise dos agentes que fazem parte da lista B e dos agentes de dermatoses pápulo-pustulosas e sua relação com o trabalho em aviários, escopo do trabalho:

1.1. Tuberculose

Os agentes etíológicos são o Mycobacterium tuberculosis e o Mycobacterium africanum (tuberculose humana da África Tropical), que atacam primariamente os seres humanos, e o Mycobacterium bovis que acomete primariamente o gado, sendo este o principal agente zoonótico. A distribuição geográfica do M. tuberculosis e M. bovis é mundial, e o M. africanum ocorre na África, Alemanha o Inglaterra.

O reservatório do M. tuberculosis é o homem, e a tuberculose é classificada como Schilling II em trabalhadores de hospitais que se expõem em contato direto com doentes bacteriologicamente positivos bem como em trabalhadores de laboratório de biologia em contato direto com produtos contaminados. O M. bovis tem como reservatório o gado e ocorre em países onde há o costume do tomar leite sem ferver ou não pasteurizado, estando em franca diminuição. Ocorre em idosos debilitados, e a via entérica é a de transmissão mais freqüente e a aerógena pouco frequente. O M. tuberculosis não é risco específico de aviários, sendo classificado corno agente biológico do grupo 3.

As doenças causadas por outras micobactérias (micobacterioses ou doença micobacteriana não tuberculosa ou Mycobacterium avium complex) têm como agente etiológico o M. Avis, patógeno importante para as aves. No homem, causa uma síndrome clínica associada à presença de imunodeficiência grave, sendo o maior fator de risco para a disseminação da doença o nível de disfunção imune. Para Chin14, essa infecção é um problema importante em pessoas infectadas pelo HIV e Horsburgh15 refere tratar-se dos casos mais comuns de micobacterioses não tuberculosas em imunodeprimidos, que as adquirem do meio ambiente. A incidência de M. avis nas indústrias é rara, pois ocorre em locais onde as aves ficam alojadas por muitos anos, o que não acontece na criação em escala industrial. A micobacteriose não é uma zoonose e sim uma doença comum a homens e animais, que adquirem a infecção de fontes ambientais.

Assim, deve ser considerado como risco específico somente para trabalhadores de aviários com imunodeficiência, indicando-se, nestes casos, a troca de função dos mesmos. A M. avis classifica-se como agente biológico do grupo 2.

1.2. Carbúnculo

O agente etiológico da doença profissional clássica é o Bacillus anthracis. No Brasil13, a palavra carbúnculo é usado por muitos autores para designar a furunculose multifocal devido a Staphylococcus aureus e, por outros, para a infecção por B. anthracis. Tem sido relacionado à guerra biológica, é extremamente raro, e ocorre em casos isolados em forma de epidemias em áreas de terras muito contaminadas. Os reservatórios são animais herbívoros (bois, ovelhas, cavalos e porcos). Por sua especificidade, é classificado como Schilling I em tratadores de animais, pecuaristas, trabalhadores em matadouros, curtumes, moagens de ossos, tosas de ovinos e manipuladores de lã (especialmente de cabras). Não consta como doença de aves na bibliografia veterinária consultada, portanto não é risco específico de trabalhadores de aviários. Classifica-se como agente biológico do grupo 3.

1.3. Brucelose

Os agentes etiológicos são a Brucella melitensis, B. abortus, B. suis e B. canis. Por sua raridade e especificidade, é classificada como Schilling I. Os reservatórios são rebanhos de gado, suínos, cabras e ovelhas, além de bisões, alces, renas e veados. A B.canis está relacionada à exposição do trabalhador em canis e cães de laboratórios. Não consta como doença de aves na literatura veterinária, portanto não é risco específico de trabalhadores de aviários. Classifica-se como agente biológico do grupo 3.

1.4. Leptospirose

O agente etiológico é a Leptospira interrogans, classificada como Schilling II, quando relacionada a trabalhadores que exercem atividades em contato direto com águas sujas ou em locais suscetíveis de serem sujos por dejetos de animais portadores de germes. O reservatório principal é o rato, podendo ser encontrada em suínos, gado, cães, guaxinins, roedores silvestres, veados, esquilos, raposas, furões, doninhas, leões-marinhos e sapos. A transmissão ao homem pode ocorrer por contato direto com sangue, tecido, urina de animais infectados ou, por via indireta, através do contato com água ou solo contaminado com a urina de animais portadores. Não consta que as aves sejam reservatório de leptospiras, entretanto devemos lembrar que os aviários são locais com grande trânsito de roedores, podendo contaminar o solo e a água com urina que contenha leptospiras, e, assim, ser de risco específico de aviários. Classifica-se como agente biológico do grupo 2. Relacionado com os roedores, a Divisão de Vigilância de Roedores e Aves de Santa Catarina16 relata a incidência de 50 casos de hantavirose no estado entre 1.999 e 2004, recomendando medidas de prevenção e controle dos mesmos, podendo ser a hantavirose também de risco específico de aviários, sendo classificado como risco biológico 2.

1.5. Tétano

Doença produzida pelo Clostridium tetani, disseminado pelas fezes de eqüinos e outros animais, podendo infectar o homem quando os esporos penetram em lesões, geralmente do tipo perfurante. A exposição dá-se em trabalhadores que sofreram acidentes de trabalho típico, sendo classificado comu Grupo I de Schilling. Alguns autores atribuem aos animais o papel de reservatório, mas é mais provável que o agente se origine no solo e a sua presença no intestino seja transitória. O agente foi encontrado no intestino de eqüinos, bovinos, ovinos, cães, ratos e aves, além do homem. Não é uma zoonoso e sim uma doença comum ao homem e animais. Pode ser risco específico de aviários e classsifica-se como agente de risco biológico 2. A OMS17 observa que, em 1998, morreram 1,6 milhão de pessoas no mundo devido ao sarampo, à difteria e ao tétano, doenças evitáveis pela vacinação, ressaltando, assim, o papel do médico do trabalho como promotor da saúde do trabalhador.

1.6. Psitacose, Ornitose, Doença dos Tratadores de Aves

É uma zoonose causada por exposição ocupacional à Chlamydia psittaci geralmente em trabalhos realizados em criadouros de aves ou pássaros, atividades de veterinária, zoológicos o laboratórios biológicos. Por sua raridade, é classificada como pertencente ao Grupo I de Schilling. As clamídias causadoras de doença humana são classificadas em três espécies: C. psittaci, C. trachbomatis e C. pneumoniae, sendo a espécie psittaci a responsável pela transmissão aviar. Os reservatórios principais são as caturritas, os perus, os gansos, os papagaios e os periquitos; menos freqüentemente os pombos, os canários e os frangos. O homem contrai a doença das aves por via aerógena, podendo ser, portanto, de risco específico em aviários com aves contaminadas. Moschioni18 enfatiza a exposição a aves como um dado importante na anamnese, relativamente ao diagnóstico diferencial das pneumonias comunitárias, que não respondem à antibioticoterapia convencional, onde o tratamento precoce é fator importante no prognóstico. A classificação de agente biológico é grupo 3.

1.7. Dengue

Doença endêmica ou epidêmica causada por um dos Flavovírus do dengue (família Flaviridae, antigamente denominada Togaviridae). Tem sido relacionada ao trabalho em pessoas que exercem atividades em zonas endêmicas, em trabalhos de saúde pública e em laboratórios de pesquisa. Classificação de Schilling II. Não é risco específico de aviários.

1.8. Febre amarela

Doença febril causada pelo Flavovirus da febre amarela transmitido por mosquito dos gêneros Haemagogus e Aedes. Pode ocorrer em pessoas que trabalham ou mantêm contato com as florestas ou, ainda, em atividades de saúde pública e em laboratórios de pesquisa. Classificação de Schilling I. Não é risco específico de aviários.

1.9. Hepatite viral

A doença tem como fonte de infecção principal o homem e, muito raramente, os macacos, além da contaminação pela água e por alimentos contaminados. Classificação de Schilling II. Não é risco específico de aviários.

1.10. Doença pelo vírus da imunodeficiência humana

Pode ocorrer em situações decorrentes de acidentes pérfuro-cortantes com agulhas e outros materiais contaminados em trabalhadores de saúde. Classificação de Schilling I. Não é risco específico de aviários.

1.11. Dermatofitoses

Doenças causadas por espécies de fungos dos gêneros Epidermophyton, Microsporum e Trichopyton. Do ponto de vista epidemiológico, distinguem-se três grupos, segundo o reservatório: antropofilicos, zoofílicos e geofílicos. De interesse para o trabalho, as espécies zoofílicas mais importantes são: Microsporum canis, Trichophyton mentagrophytes e Trichophyton verrucosum. De interesse restrito às aves, há o M. gallinae, que produz a tinha fávica das galinhas, raramente transmissível ao homem, sendo a dermatofitose de risco específico encontrada nas aves, classificado como agente do grupo biológico 2. Radentz19 relata que M. canis e T. mentagrophytes são as mais comumente transmitidas por contato com os animais.

1.12. Candidíase

Doença causada por fungos do gênero Candida. A Candida albicans é hóspede normal do homem. A candidíase aviária é esporádica em aves jovens, sendo uma infecção do aparelho digestivo superior, geralmento assintomática. A maior parte das infecções tem origem endógena, No homem, geralmente a candidíase está associada a outras enfermidades (tuberculose, sífilis, diabetes, Aids); ao tratamento prolongado com citotóxicos, corticosteróides e antibióticos, além de exposição prolongada à umidade, como fatores predisponentes. Pode ser de risco específico de trabalhadores de aviários, e é classificada como agente de risco 2.

1.13. Paracoccidiodomicose

Micose causada pelo fungo Paracoccidioides brasiliensis. Tem sido descrita em trabalhadores agrícolas e florestais em zonas endêmicas (zonas tropical e subtropical da América do Sul, no Brasil mais precisamente na zona Centro-oeste e Sudeste). É uma doença comum a homens e animais, não se conhecendo casos de transmissão entre homem e animal. O reservatório presumível é a terra ou poeira com fungos. Não é risco específico em trabalhadores de aviários, e tem classificação de agente biológico do grupo 3.

1.14. Malária

Doença causada pelo Plasmodium sp. A relação com o trabalho tem sido descrita em trabalhadores de mineração, construção e petróleo que exercem atividades em zonas endêmicas, bem como pela transmissão acidental em material contaminado em pessoal da saúde. Não ó risco específico de trabalhadores de aviários, e é de classificação de risco biológico do grupo 3.

1.15. Leishmaniose cutânea ou Leishmaniose cutâneo-mucosa

Zoonose relacionada ao trabalho em trabalhadores agrícolas ou florestais em zonas endêmicas e em laboratórios de pesquisa e análises clínicas. Não é risco específico de trabalhadores de aviários, e tem classificação de agente biológico do grupo 3.

Doenças que podem estar vinculadas à cama de aviário

Para que se tenha uma visão mais nítida desta variável, será realizada uma breve abordagem a respeito da cama de aviário. Cama de aviário é a cobertura de aproximadamente 5 cm do piso do galpão, que utiliza materiais como raspas ou serragem de pinho, eucalipto, madeira de lei, casca de arroz, bagaço de cana, sabugo de milho ou palha, podendo ser renovada a cada ciclo de produção ou reutilizada a cada quatro a seis lotes de frango (cada lote dura aproximadamente 40 a 50 dias). A finalidade da mesma é absorver umidade, diluir matéria fecal, isolar as aves do piso e atuar como colchão protetor. Aloja-se entre 22 a 30 aves/m2 de aviário.

A biota da cama é uma combinação de material com fezes e água (urina). A umidade da cama, independente do tipo de material, é o principal fator determinante para o aumento da proliferação microbiana e aumento de temperatura com fermentação e liberação de gases como nitritos, nitratos, amônia e sulfato de hidrogênio. O equilíbrio dinâmico dos microorganismos aéreos depende da intensidade e taxa de eliminação dos mesmos, determinado pela idade e pela saúde dos animais, pelo tipo de disposição do esterco, pela viabilidade e infectividade dos microorganismos, pela diluição, pela ventilação e pelo efeito da sedimentação. Na cama de aviário, pode ser encontrado o equivalente à flora bacteriana intestinal das aves, acrescido de patógenos eventuais.

A cama deve ter uma taxa de umidade que não gere poeira em excesso, nem fique muito úmida, com excesso de proliferação de microorganismos. Uma cama com 21,9% de umidade não apresenta Salmonela, Escherichia coli, Listeria, Campylobacter ou Staphylococcus toxigênicos.

A serragem úmida ou a presença de resíduos de grãos (milho, amendoim e arroz) é de elevado risco para a presença de esporos e conídeos de fungos patogênicos e micotoxinas, e são praticamente impossíveis de ser eliminados. Ácaros, piolhos, carrapatos e outros insetos podem ser veiculados por materiais da cama.

Microbiologia da cama aviária: pela análise detectaram-se 31 gêneros distintos de bactéria na cama, com 82% predominando bactérias gram-positivas, principalmente Lactobacillus sp e Salinococcus sp e alguns Clostridium sp, Staphylococcus sp e Bordetella sp.

2. Os agentes a seguir foram encontrados na análise da cama do aviário:

2.1. Mucormicoses

A etiologia deve-se aos gêneros Mucor, Rhizopus, Absidia, Rhizomucor e Cunnighamella. No homem, existem formas clínicas rinocerebral, pulmonar, gastrointestinal, disseminada e cutânea, ocorrendo em pacientes debilitados. A fonte de infecção mais comum é por inalação, existindo ainda infecção por inoculação e ingestão. A infecção não se transmite de indivíduo a indivíduo, sendo adquirida pelo contato com o meio ambiente. Pode ser risco específico de aviários. Não se encontram na classificação de risco de agentes biológicos da CEE.

2.2. Estafilococose

O agente etiológico é a toxina produzida pelo Staphyococcus aureus coagulase positivo. Nas aves, o S. aureus pode causar de piodermites a septicemias com diferentes localizações iniciais (salpingite e artrite). O homem é o reservatório na maioria dos casos, ocassionalmente pode ser encontrado em úberes de vacas infectadas, bem como nos cães. A infecção cutânea tem como modo de transmissão principal o contato pelas mãos, sendo rara a disseminação pelo ar, somente demonstrada tem lactentes de berçário. A intoxicação alimentar é através da ingestão de alimentos contendo enterotoxina estafilocócica, principalmente alimentos sem cozimento, refrigerados inadequadamente, presunto e salame inadequadamente curados e queijos inadequadamente processados. Do ponto de vista epidemiológico, a infecção alimentar se manifesta em surtos acometendo várias pessoas usuárias do mesmo alimento. Pode ser risco específico de trabalhadores de aviários, sendo classificada como agente biológico do grupo 2.

2.3. Estreptococose

Azoonose causada pelo Streptococcus suis, sorotipo 2, tem interesse especial, devido à comprovada transmissão do porco ao homem, embora pouco freqüente. Os principais causadores de doenças no homem são os Streptococcus do grupo A (beta-hemolíticos), sendo o principal reservatório o homem, que pode contaminar outras pessoas através da manipulação ou do contato direto. Os animais não atuam como hospedes da manutenção do S. pyogenes, mas, às vezes, podem ser infectados pelo homem e retransmitir pelo leite contaminado, no caso dos bovinos. Pode ser risco específico da cama de aviários, pertencente ao grupo de risco biológico 2.

2.4. Yersiniose

É importante diferenciar a yersiniose abaixo citada, da peste bubônica, causada pela Yersinia pestis, endêmica no Nordeste do Brasil e região andina, cujo reservatório são roedores selvagens (especialmente esquilos), coelhos, lebres e carnívoros selvagens. Existem dois tipos de zoonoses causadas pela Yersinia. A yersiniose enterocolítica (Yersinia enterocolitica) e a yersiniose pseudotuberculosa (Yersinia pseudotuberculosis).

A yersiniose enterocolítica tem como fonte de transmissão os porcos, sendo a faringe de suínos a fonte mais importante de infecções, causando uma gastroenterite e linfadenite mesentérica no homem. Outras espécies de avese mamíferos, parlicularmente roedores, são fontes de disseminação. A transmissão fecal-oral ocorre por ingestão de alimentos contaminados ou contato com pessoas ou animais infectados.

A yersiniose pseudotuberculosa (ou extra-intestinal) causa uma adenite mesentérica no homem, e os mamíferos silvestres, roedores e aves silvestres constituem o reservatório, ocorrendo a contaminação do tipo fecal-oral. Pode ser de risco específico de aviários, por ser um patógeno eventual veiculado pelo material da cama de aviário.

2.5. Campylobacteriose

O Campylobacter jejuni é a causa mais comum de gastroenterito no homem. O reservatório são as aves e os mamíferos. Entre 30% a 100% das galinhas, perus e aves aquáticas podem apresentar infecção assiritomática do trato intestinal. A transmissão ocorre por via orofecal, pela ingestão de alimentos contaminados ou pelo contato com animais infectados. É risco específico de aviários, pertencente ao grupo biológico 2.

2.6. Criptosporidiose

O parasita Cryptosporidium parvum é o único que afeta o homem, sendo responsável por uma infecção parasitária de importância médica e veterinária. Segundo o Center for Disease Control and Prevention (CDC)20, o C. parvum causa uma doença diarréica de curta duração, podendo ser adquirida pelo homem pela ingestão acidental de algum alimento ou água contaminada. O reservatório são os seres humanos, gado, eqüinos, suínos o roedores. Foi reconhecido como patógeno importante em pacientes imunudeprimidos, já que, em indivíduos imunologicamente sãos, a doença pode ser assintomática ou causar uma leve diarréia. Atualmente, vem sendo reconhecida como um dos patógenos entéricos mais comuns, causando diarréia e outras patologias biliares. As fontes de infecção são outras pessoas ou bovinos infectados. Acha21 relata que as aves são raramente afetadas pelas espécies que infectam os mamíferos. Pode ser, no entanto, risco específico de aviários, pertencente ao grupo de risco biológico 2.

2.7. Vírus da influenza aviária

É causada pelo ortomixovírus que no frango pode levar desde uma laringotraqueíte a uma hemorragia subcutânea; não acomete comumente humanos. Em janeiro de 2004, foi isolado o subtipo H5N1 no Norte do Vietnã, responsável pela atual epidemia sazonal. A influenza humana é causada por três tipos: A, B e C e as vacinas humanas, de acordo com o Ministério da Saúde22, não oferecem proteção contra o FLU A/H5N1. A infecção dá-se a partir da inalação ou ingestão do vírus presente nas fezes e secreções das aves infectadas. A doença é exótica no Brasil, não tendo sido identificada ainda no país, Não é risco específico, portanto, em trabalhadores de aviários no país.

2.8. Bouba aviária (poxvírus)

O principal vírus do grupo dos poxvírus foi o agente da varíola, em extinção, O Orf humano (ectima contagioso) é cansado por um poxvírus transmitido por cabras e ovelhas, sem relação com o aviário. Deve-se ainda distinguir da bouba humana causada pelo Treponema pertenue, treponematose crônica não venérea que ocorre principalmente em crianças.

2.9. Listeriose

Doença causada pelo gênero Listeria, que possui sete espécies, destas, somente duas têm interesse humano e animal: a L. monocytogenes e L. ivanovii. A distribuição da bactéria é mundial, ocorrendo no solo, na vegetação e no intestino dos animais e do homem. No homem, tem baixa incidência, mas alta letalidade, ocorrendo mais em pessoas idosas e recém-nascidos, provocando uma meningoencefalite nos adultos. Nos animais, provoca uma septicemia com lesão cardíaca. Acha21 relata que, com o uso de antibiótico nas rações, houve importante redução dos casos de listeriose aviária, havendo casos indiscutíveis de transmissão direta de animais ao homem e também via fecal-oral. É classificada como agente biológico do grupo 2.

2.10. Escherichia coli, Chlostridium perfringens, Pasteurella multocida, Erisiphelotrix rhusiopatie, Salmonella sp, coronavírus, herpesvírus, paramixovírus, Aspergillus sp e Candida sp

Também foram encontrados na cama de aviário e estão analisadas no texto.

3. Doenças mais frequentes nas aves, baseada na listagem da Mississipi State University:

O Departamento de Ciência Aviária da Mississipi State University, lista, por agente causador, as doenças mais freqüentes das aves. As mesmas foram estudadas para avaliar o potencial de poder ocasionar uma zoonose nos trabalhadores de aviários.

3.1. Botulismo

Doença causada pela ingestão de uma toxina produzida pelo Clostridium botulinum. Todas as aves domésticas e pássaros são suscetíveis aos efeitos da toxina. Os humanos podem adoecer pelo consumo de água e comida contaminadas. O C. botulinum é comum na natureza e extensamente dispersado no solo, sendo este a fonte de infecção. A ingestão do mesmo não é perigosa, mas torna-se quando as condições são favoráveis ao seu crescimento com a subsequente formação de toxina (ambientes úmidos, com alta temperatura e com decomposição de material orgânico). O C. botulinum necessita de ambientes sem oxigenação para proliferar. O botulismo classifica-se em três tipos: o alimentar (transmitido pela ingestão de alimentos contaminados); o de ferimentos (ocorre pela contaminação de uma ferida) e o intestinal (ou do lactente, transmitido pela ingestão de esporos na comida ou poeiras). Nos EUA ocorrem ao redor de 110 casos de botulismo ao ano, sendo 75% o do lactente e 24% o alimentar, tendo o hemisfério norte a maior freqüência da doença. Cecchini23 relata um caso de infecção via cunjuntival, por aerossol, em acidente laboratorial, com evolução letal em poucas horas. O botulismo das aves ocorre em todo o mundo, principalmente nas silvestres, podendo incidir em galinhas domésticas, sendo o sorotipo aviário de tipo C. Para Acha24, o botulismo alimentar no homem deve-se aos sorotipos A, B e E, não sendo confirmados por sorotipo C. Bartlett25 refere que o botulismo das feridas também ocorre pelas toxinas A e B, não sendo demonstrada ainda a relação epidemiológica entre botulismo animal e humano. Assim, botulismo por sorotipo C não é risco específico em aviários, entretanto poderia ser os do sorotipo A, B e E. Pertencem ao grupo 2.

3.2. Colibaciloses

O agente etiológico é a Escherichia coli da família Enterobactericiae, que é um componente normal da flora bacteriana do intestino grosso dos animais homeotérmicos, inclusive humanos. As cepas patógenas se agrupam em cinco categorias: (a) enterohemorrágica, (b) enterotoxígena (diarréia dos viajantes), (c) enteroinvasora, (d) enteropatógena e (e) enteroagregativa. Avaliando-se zoonoses, a enterohemorrágica é a mais importante e a mais severa. A forma enterohemorrágica ocorre pela contaminação da carne bovina e para o CDC26 o sorotipo 0157:H7 é o que mais comumente causa infecção no homem, sendo o reservatório desta espécie o gado e o próprio homem. As formas enterotoxígena e enteroinvasora têm como fonte de infecção o homem. A forma enteropatogênica tem como fonte as fórmulas lácteas e encontra-se virtualmente confinada a lactentes. O outro sorotipo tem como reservatório o homem. As aves podem ter epidemias de colibaciloses, produzindo enfermidades sépticas, salpingite e pericardite nas mesmas. Os animais com diarréia constituem a principal fonte de infecção humana, via fecal-oral, Existem várias cepas de E. coli no intestino das aves, sendo microorganismos comuns no meio ambiente das mesmas. Pode ser risco específico de trabalhadores de aviários, e tem classificação de risco biológico do grupo 2.

3.3. Enterite necrótica

É uma enterite aviária causada pelo Clostridium perfringens. Estes bacilos são altamente distribuídos na natureza, no solo e no trato intestinal da maioria dos animais, incluindo o homem. Pode ocasionar uma intoxicação alimentar leve, de curta duração, decorrente da toxina elaborada pelos organismos. Existem cinco tipos toxigênicos de Clostridium, nomeados de A a E, sendo a variedade humana a do tipo A e a das aves, do tipo C. O modo de contaminação é pela ingestão de alimentos contaminados ou mantidos sob condições inadequadas. Pode ocorrer ainda a infecção clostridiana de feridas, provocando a gangrena gasosa, sendo uma infecção comum ao homem e animais e não uma zoonose. O Clostridium septicum é o principal agente infeccioso nos animais, causando o chamado edema maligno, que ocorre mais em bovinos, sendo raro em aves. Nos homens, a infecção de feridas ocorre pelo C. perfringens, tipo A. Pode ser risco específico de aves ou pode ser um patógeno eventual da cama de aviário, grupo 2.

3.4. Enterite ulcerativa

É uma infecção de aves e de perus causada pelo Clostridium colinum. Não existe referência como patógeno humano.

3.5. Erisipela animal e crisipelóide humana

Doença ocasionada pela Erysipelotríx rhusiopathiae, uma bactéria encontrada em vários tipos de aves, incluindo frangos e patos, mas particularmente importante nos perus. Nos animais, destaca-se a erisipela porcina, sendo baixa a incidência no Brasil. No homem, ocasiona o erisipelóide, lesão localizada predominantemente nas mãos e nos dedos que deve ser diferenciado da erisipela causada pelo Streptococcus hemolítico. O homem pode contrair a doença de aves infectadas. Nas aves, causa uma síndrome septicêmica. No homem, a infecção dá-se pelo contato direto com a carne contaminada e produtos animais. Classifica-se como agente biológico grupo 2, de risco específico de trabalhadores de aviários.

3.6. Cólera aviária (pasteurelose)

É uma doença diarréica de aves causada pela Pasteurella multicida. Esta se apresenta comumente em espécies domésticas e silvestres de mamíferos e aves, podendo causar uma infecção associada à mordida de animais, e este microorganismo é encontrado no trato respiratório e na orofaringe de cães, gatos e outros animais saudáveis. A infecção humana é usualmente secundária à mordida de animal (80% dos casos), originando uma celulite. A doença respiratória ocorre em idosos deprimidos. A cólera aviária é uma doença em diminuição devido à melhoria de manejo das aves em aviários. Ocorre raramente no homem. Doença de risco específico de aviários, classificada no grupo de risco biológico 2.

3.7. Tifo aviário e pullorum

O tifo é uma doença diarréica de aves causada pela Salmonella galinarum, já o pullorum é uma doença respiratória causada pela Salmonella pullorum. Estes sorotipos são adaptados para as aves, e são pouco patogênicos para os homens. Atualmente, existe uma nova nomenclatura para a Salmonella, baseada no parentesco do DNA, existindo somente duas espécies reconhecidas - Salmonella bongori e Salmonella enterica. Numerosos sorotipos de Salmonella são patogênicos para os homens e animais. Os patógenos humanos seriam a S. enterica, sorovar typhi, sorovar paratyphi A e sorovar paratyphi C, sendo o homem o único reservatório natural da typhi e paratyphi. A S. paratyphi pode ser encontrada, embora mais raramente, em outros animais, como as aves. Geralmente, as pessoas se infectam através de alimentos contaminados. Entretanto, os animais também podem ter salmonelose e eventualmente contaminar as pessoas, se as mesmas não observarem os procedimentos higiênicos. Os reservatórios animais são frangos, suínos, gado, roedores, iguanas e tartarugas. Fiorentin27 analisa a diminuição da S. galinarum e S. pullorum pelo manejo adequado das aves que teria levado, por exclusão competitiva, a S. enterica a ocupar seu lugar. Pode ser risco específico em trabalhadores de aviários, classificada com o risco biológico do grupo 2.

3.8. Coriza infecciosa

É uma doença respiratória específica de aves causada pelo Haemophilus gallinarum. Não referenciada como patógeno humano.

3.9. Micoplasma

Doença respiratória aviária causada pelo Mycoplasma gallisepticum, Mycoplasma meleagridis e Mycoplasma synoviae. Koneman28 relata um caso de infecção por espécie, de micoplasma de origem animal (M. arginini) em um paciente idoso, portador de linfomo, em uso de prednisona. No homem, 10% das pneumonias são causarias pelo Mycoplasma pneumomae.

3.10. Onfalite

Doença inflamatória do umbigo de aves causada por Staphyilococcus sp ou Streptococcus sp, já estudados.

3.11. Varicela aviária

Doença viral aviária que acomete a pele das aves, causada pelo Avipox sp, vírus da família Poxviridae, sem interesse humano. A patologia humana é causada pelo varicela-zoster.

3.12. Bronquite infecciosa

Doença respiratória de aves causada por um vírus da família Coronavírus. Os tipos de interesse humano são o HCV sorotipo OC43 (resfriado) e o vírus entérico humano, HECV (diarréia). Para a Agência de Saúde Pública do Canadá29, o modo de transmissão da virose é através da inalação de aerossóis, não havendo zoonose conhecida.

3.13. Doença infecciosa da bursa (Gumboro)

Doença respiratória viral causada pelo avibirnavírus, sem interesse humano.

3.14. Leucose linfóide

Doença virótica tumoral de aves, causada por um vírus da família Retroviridae. Na década de 1970 foram encontrados dois vírus causadores de linfoma linfocítico em humanos, os quais foram denominados HTLV-1 e HTLV-2. Este grupo ficou famoso com a identificação de um terceiro vírus causador da Aids em 1983. Ainda não foi evidenciada a infecção entre espécies.

3.15. Doença de Merek (herpesvírus)

Doença que causa uma bronquite infecciosa e uma leucose visceral que afeta somente aves. Não é risco específico de aviários.

3.16. Doença de Newcastle

Doença viral causadora de distúrbios respiratórios de severidade variável em frangos e perus, cujo agente etiológico é o paramixovírusde aves. No homem, é uma enfermidade pouco freqüente, podendo causar conjuntivite, com raras reações sistêmicas. Pode ser risco específico de aviários, classificação de risco biológico do grupo 2.

3.17. Aspergilose

Doença causada pelo Aspergillus fumigatus e, ocasionalmente, pelo A. flavus, A nidulans, A. niger e A. terreus. É transmitida por inalação dos conídeos, estabelecendo-se em pacientes debilitados (diabetes, câncer, Aids), podendo causar uma infecção respiratória, ou uma aspergilose pulmonar alérgica em pacientes atópicos. A infecção não se transmite de um indivíduo a outro, sendo o solo a fonte de infecção. Encontram-se presentes em várias partes do meio ambiente, no solo, em plantas em decomposição, poeiras, materiais de construção, plantas ornamentais, água e comida. Pode ocorrer aspergilose em frangos, com acometimento pulmonar e lesões de pele. Pode ser risco específico de trabalhadores de aviários e classifica-se como risco biológico do grupo 2.

3.18. Black Head (Histomoníase)

É uma enterohepatite infecciosa de aves causada pela Histomona meleagridis. Sem interesse humano.

3.19. Coccidiose

Trata-se de uma das mais importantes doenças de aves, causada por um protozoário da espécie Eimeria, que provoca uma enterile nas aves sem interesso humano.

3.20. Hexamitíase (Enterite infecciosa catarral)

Doença causada pela Hexamita meleagridis, que provoca uma diarréia que ataca principalmente perus e patos. Sem interesse humano.

3.21. Ascaridíase

Nas aves, é causado pela Ascaridia galli, sem interesse humano.

3.22. Capilária

É uma verminose causada pela Capillaria annulata, sem interesse humano.

3.23. Verminose cecal

É uma verminose provocada pelo Heterakis galinae, sem interesse humano.

3.24. Ácaros

O agente é a Trombiculla splendens; pode atacar o homem, mas não se reproduz nele.

3.25. Gapeworm

É uma doença respiratória da traquéía das aves, causada pela Syngamus trachea, sem interesse humano.

3.26. Piolho aviário

É causada pela Cuclogaster heterographa, Menacanthus stramineus e Menopon gallinae, sem interesse humano.

3.27. Outros ácaros

Provocados pelos Knemidocoptes mutans e Knemidocoptes levis, sem interesse humano.

Conclusões e Recomendações

A probabilidade de transmissão de zoonoses é influenciada por diversos fatores, tais como: tempo em que o animal está infectado, tempo de incubação, estabilidade do agente ao se expor ao ambiente, densidade da população de colônias, manejo dos animais, virulência e via de transmissão.

A biossegurança dos plantéis é um assunto levado a sério pelas grandes empresas, no controle de enfermidades. Ferreira31 ressalta a importância do isolamento das instalações; cuidados de manejo sanitário, como noções de higiene; desinfecção dos ovos para eliminação de microorganismos na casca; fumegação; tratamento de insetos e roedores; cuidados com a água; manejo da cama do aviário; vacinação de acordo com o desafio sanitário da região e monitoramento sorológico, na competitividade das empresas. Entretanto existem pequenos produtores que certamente não seguem estes preceitos, estando mais sujeitos a tais doenças.

Concluindo, os agentes que podem ser de risco específico para trabalhadores em aviários são;

- Constantes da lista de Doenças Profissionais da Previdência Social: leptospirose, tétano psitacose causada pela C. psitacci, dermatofitose causada pelo T. gallinarum e a candidíase.

- Encontrados nos componentes da cama de aviário: mucormicose, S. aureus, estreptococose, yersiniose pseudotuberculosa, listeriose, campilobacteriose e cryptosporidiose.

- Zoonoses das aves que podem afetar o homem: colibacilose, Clostridium perfringens, Pasteurella multocida, Erisipelotrix rhusopatiae, Salmonella sp, Doença de Newcastle e aspergilose.

Avaliados e identificados os riscos potenciais, torna-se fácil o papel do médico do trabalho que, juntamente com o veterinário e zootecnologista, podo implementar medidas higiênicas para controle dos mesmos, sempre privilegiando a fonte de contaminação, agregando ao Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) um programa de vigilância à saúde, com procedimentos operacionais normalizados, treinamento dos empregados, inspeção e cumprimento das normas de segurança, além de controles ambientais e cuidados em relação a equipamentos de proteção.