Tripulações de aeronaves estão expostas à radiação exigindo monitoramento adequado
A radiação ionizante é onipresente no mundo natural. Tório, urânio e potássio – elementos naturalmente radioativos criados no centro do Sol, muito antes da formação da Terra – e seus produtos de decomposição, já existiam antes de haver vida na Terra e ainda estarão aqui por bilhões de anos.
Além dos elementos químicos radioativos presentes na Terra, os cientistas notavam a presença de fenômenos que podiam estar associados com a radiação ionizante em altas altitudes. Pensando nisso, em 7 de agosto de 1912, o físico austríaco Viktor Franz Hess (1883 – 1964), ao alcançar a bordo de um balão, a altitude de 5.350 metros, munido de um eletroscópio associado a um detector de ionização, constatou um aumento evidente dos efeitos ionizantes. A radiação penetrava a partir do alto. Foi assim que a radiação cósmica foi descoberta. Quanto maior a altitude maior a taxa de dose efetiva.
A nova radiação foi inicialmente chamada de “radiação ultrapenetrante” porque ela podia atravessar uma grande massa de matéria sem ser muito absorvida. Só receberia a denominação, mais sugestiva e precisa, de radiação cósmica, cerca de uma década depois, pelo físico norte-americano Robert Millikan (1868 – 1953).
Trilhões e trilhões de raios cósmicos atingem a Terra todos os dias. A grande maioria deles é bloqueada pela atmosfera e pelo campo magnético da Terra, mas por vezes atingem partículas na atmosfera e criam uma chuva de partículas secundárias que chegam ao solo (Figuras 2 e 3).
A maioria provavelmente vem de algum lugar da nossa galáxia, mas algumas parecem vir de fora da nossa galáxia. Os cientistas acreditam que os raios cósmicos são expelidos pela explosão de estrelas distantes (chamadas supernovas). Outros podem ser produzidos quando a matéria cai em buracos negros supermassivos, a partir de estrelas de nêutrons altamente magnetizadas ou quando galáxias colidem. A radiação cósmica que atinge a Terra, pode ser mensurada por meio de monitores de nêutrons. As explosões solares, por exemplo, são causadas pela liberação súbita de energia armazenada em campos magnéticos em sua atmosfera e é uma das fontes de emissão de radiação cósmica conhecida que atinge a Terra. As explosões solares podem aumentar as taxas de dose nas altitudes da aviação.
As partículas da radiação cósmica colidem com os átomos da atmosfera, causando ionização e perdendo energia gradativamente.
DOSE RECEBIDA
A intensidade da radiação cósmica, bem como a sua composição e seus coprodutos, depende da altitude, e, para altas altitudes, o nível de dose recebida é maior que em baixas altitudes. Para estudos de dosimetria, sabe-se que o principal componente de dose em tripulações aéreas em altitudes de voo são os nêutrons gerados pela interação da radiação cósmica na atmosfera, seguidos pelos componentes de elétrons, pósitrons e prótons.
Por: Amaury Machi Junior – Doutor em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina do ABC. Engenheiro de Segurança do Trabalho e Especialista em Higiene Ocupacional pela Universidade de São Paulo (USP). Professor de Pós-Graduação nos cursos de Engenharia de Segurança do Trabalho e em Medicina do Trabalho. Diretor Científico da AIEST (Associação Iberoamericana de Engenharia de Segurança do Trabalho).