A Norma Regulamentadora 32, voltada para a segurança e saúde no trabalho em serviços de saúde, pode ser uma aliada para a prevenção da Covid-19 entre os profissionais que atuam no setor. Com o objetivo de estabelecer as diretrizes básicas para a implementação de medidas de proteção, traz itens voltados especificamente aos riscos biológicos (32.2.1 a 32.2.4.17.7). As orientações abrangem questões de higienização, vestimentas, Equipamentos de Proteção Individual – EPI e capacitação.
“A NR 32 obriga os serviços de saúde a adequarem os ambientes de trabalho e a fornecer todos os materiais e EPIs necessários a fim de assegurar a proteção dos trabalhadores. Também obriga a capacitação contínua dos profissionais quanto ao risco e às medidas de proteção e controle que devem ser adotadas. Ainda, exige que o serviço de saúde elabore e implante diferentes procedimentos para o controle do ambiente de trabalho e para a prevenção e o acompanhamento de doenças que podem surgir nesses trabalhadores”, explica a pesquisadora da Fundacentro, Érica Lui Reinhardt.
“Sem dúvida o ponto mais relevante da NR 32 para a prevenção neste cenário é a ênfase na lavagem das mãos, sendo que a Norma possui itens específicos abordando tanto a obrigatoriedade do serviço disponibilizar pias em pontos específicos, quanto as atitudes mais adequadas dos profissionais de saúde em relação a isso”, completa Reinhardt, que é bióloga e doutora em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo – USP.
As pias para lavagem das mãos devem estar em todos os locais com risco de exposição. A higienização das mãos deve ser feita frequentemente, também antes e depois do uso de luvas. Segundo a norma, “todos trabalhadores com possibilidade de exposição a agentes biológicos devem utilizar vestimenta de trabalho adequada e em condições de conforto”. No caso de risco de exposição ao coronavírus, o Ministério da Saúde orienta a disponibilização de avental descartável para esses atendimentos. Os EPIs e aventais descartáveis são de uso exclusivo para essa atividade de trabalho. Os trabalhadores de saúde não devem sair para outros locais usando esses materiais.
É importante saber que feridas ou lesões em membros superiores exigem avaliação médica prévia para liberação para o trabalho e que, no caso de contaminação de profissionais da área da saúde pelo coronavírus, deve ser emitida a Comunicação de Acidente de Trabalho – CAT. O trabalhador deve comunicar qualquer situação com possível exposição ao vírus ao responsável pelo local de trabalho. Medidas de proteção devem ser adotadas imediatamente se identificada a possibilidade dessa exposição.
Procedimentos para a assistência de casos suspeitos ou confirmados
Para uma proteção adequada dos profissionais de saúde, é preciso também olhar para as orientações do Ministério da Saúde. A Nota Técnica Nº 04/2020 da Anvisa apresenta medidas de prevenção e controle que devem ser adotadas durante a assistência aos casos suspeitos ou confirmados de infecção pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2).
“As medidas de proteção individual são mais eficientes quando associadas a medidas de organização do trabalho, como a correta e precoce identificação e o manejo dos casos suspeitos. Esta é, portanto, a etapa realmente crucial para a prevenção da disseminação da doença nos serviços e de proteção dos profissionais. Identificado o caso suspeito, o profissional de saúde deverá usar os EPIs adequados durante todo o atendimento, sendo que normalmente eles compreendem: 1) gorro; 2) óculos de proteção ou protetor facial; 3) máscara cirúrgica; 4) avental impermeável de mangas compridas; 5) luvas de procedimento”, explica a pesquisadora da Fundacentro.
Já para tarefas em que existir risco de formação de aerossóis, como, por exemplo, atividades de intubação, indução de tosse, broncoscopias, algumas intervenções e exames dentários, coleta invasiva de amostras de material biológico ou autópsia em cadáveres, o profissional deverá utilizar protetor respiratório N95 ou PFF2.
O atendimento de pacientes suspeitos ou confirmados de Covid-19 requer ambientes separados e exclusivos, bem ventilados, com acesso a máscaras cirúrgicas, lenços descartáveis para tossir e espirrar e pias para lavagem das mãos ou dispensadores com preparações alcoólicas em gel ou líquidas. “Para que essa separação seja bem-sucedida é crítico que o profissional de saúde seja orientado e tenha a capacidade de identificar os casos suspeitos antes ou assim que eles derem entrada no serviço, separando-os dos demais e os orientando a adotar determinadas atitudes e comportamentos, conhecidos conjuntamente como ‘etiqueta da tosse’ ou ‘etiqueta respiratória’, e que estão descritos na Nota Técnica Nº 04/2020 da Anvisa”, afirma Érica Lui.
A lavagem das mãos com água e sabonete ou higienização com preparação alcoólica a 70% é obrigatória e deve ser realizada constantemente, como recomendado no Protocolo de Manejo Clínico para a Covid-19.
Telemedicina
Um recurso para diminur o contato físico com casos suspeitos de Covid-19 é o uso da telemedicina. Dessa forma, é possível reduzir a transmissão do vírus e proteger tanto os profissionais de saúde quanto os pacientes. A Portaria Nº 467, de 20 de março de 2020, autoriza esse procedimento.
“A telemedicina não poderá ser usada em todos os atendimentos, entretanto. A recomendação para os casos leves de Covid-19 é de que o paciente (e os familiares que vivem na mesma casa) adote o isolamento domiciliar por 14 dias, a contar do início dos sintomas, e que apenas os casos graves procurem atendimento em uma unidade de saúde”, orienta a pesquisadora da Fundacentro.
O uso de telemedicina e esses cuidados são importantes porque o vírus SARS-CoV-2, agente da doença respiratória aguda Covid-19, é transmitido por gotículas respiratórias. “Então, qualquer pessoa que tenha contato próximo, no raio de 1 metro, com alguém que tenha sintomas respiratórios (por exemplo, espirros, tosse, etc) está em risco de ser exposta a gotículas potencialmente infecciosas”, afirma Érica Lui.
“Se essas gotículas entrarem em contato com as mucosas dos olhos, nariz e boca, o vírus rapidamente irá penetrar no organismo e se multiplicar dentro das células das pessoas infectadas, explicando porque a principal medida contra a Covid-19 é a de evitar aglomerações e estar muito próximo das pessoas, o que vale não só para o público em geral mas especialmente para os serviços de saúde”, completa.
As gotículas espalham o vírus pelo ambiente, que pode ser levado até as mucosas de olhos, nariz e boca por meio das mãos contaminadas. “É estimado que o SARS-CoV-2 também sobreviva fora do organismo por tempo elevado, podendo chegar a 9 dias, dependendo da superfície. Por esse motivo é que a segunda recomendação mais importante, a ser observada por todo mundo durante a pandemia, é a de higiene frequente e correta das mãos, com água e sabão por pelo menos 20 segundos, lavando todas as partes”, explica Reinhardt. Como as superfícies contaminadas pelo vírus são outros meios importantes de transmissão, a Nota Técnica Nº 04/2020 traz também procedimentos especiais de limpeza para serviços de saúde.
Outro aspecto a ser considerado é que como este coronavírus é transmitido muito facilmente, se existirem falhas nas medidas de proteção, multiplicam-se as oportunidades de transmissão. Para a bióloga, os profissionais de saúde estão mais expostos ao contato durante a pandemia e se adoecerem, além do impacto à saúde do profissional, há dois graves problemas. Um é a perda temporária ou permanente do profissional num momento crítico para a saúde pública. O segundo é o fato de o próprio profissional tornar-se, involuntariamente, um elemento a disseminar a epidemia, podendo atingir familiares ou pacientes, num fenômeno conhecido como exposição paraocupacional.
“Há ainda dois agravantes: este vírus pode ficar incubado no indivíduo por cerca de 5-7 dias (podendo chegar a até 14 dias), sem que a pessoa apresente sintomas e perceba que está infectada, mas já podendo transmitir a Covid-19. Portanto, pode haver muitas pessoas infectadas completamente assintomáticas e que também estão transmitindo o vírus, o que reforça a necessidade de todos os cuidados de isolamento social e proteção pessoal”, explica Érica Lui.
“É necessário admitir que os serviços de saúde, no momento, são focos de disseminação da doença, e que isso é inevitável. Assim, a recomendação do Ministério da Saúde para que pessoas apenas com sintomas mais leves, como tosse, febre baixa, dor no corpo, etc., não busquem atendimento em um serviço de saúde, optando por consultas virtuais ou por não se consultar, tem por finalidade não sobrecarregar os serviços de saúde, mas também é uma forma de proteger os profissionais de saúde e os próprios pacientes, que podem estar com outra doença respiratória e poderão adquirir a Covid-19 se forem ao serviço”, conclui a pesquisadora da Fundacentro.
Fonte: Fundacentro