A perícia médica do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) pode ficar prejudicada a partir de janeiro de 2019, quando até 20% dos médicos peritos do órgão poderão se aposentar, de acordo com uma estimativa da Associação Nacional dos Médicos Peritos (ANMP). Caso este total decida deixar a ativa, o órgão pode perder quase 800 peritos, dos cerca de 3.700 que atuam em todo o país. Este é o quadro que o presidente eleito, Jair Bolsonaro, terá de enfrentar já no início de sua gestão.
De acordo com um perito do INSS lotado no Distrito Federal, que preferiu não se identificar, há, sim, a possibilidade de apagão. Segundo ele, dezenas de postos sofrem com carência de peritos, o que faz com que o tempo de espera por uma data seja muito longo.
— Isso com certeza vai piorar, visto que hoje já enfrentamos dificuldades. imagina com quase 800 peritos a menos e sem previsão de concurso — disse.
Hoje, o órgão já sofre com déficit de médicos peritos nas agências. Segundo a ANMP, faltam cerca de três mil profissionais nos postos, visto que o ideal para o total de agências seria em torno de seis mil profissionais atuando nas perícias médicas, necessárias para a concessão de aposentadorias por invalidez e auxílios-doença.
De acordo com o presidente da ANMP, Francisco Alves, no entanto, os exames não serão prejudicados. Segundo ele, a melhor gestão da fila para agendamento de perícias otimizou o atendimento aos segurados nos últimos anos.
— Houve uma eficiente gestão da fila de agendamento de perícias médicas no INSS nos últimos anos. Para ter uma ideia, mesmo com 20% no aumento dos agendamentos, nos últimos três anos conseguimos reduzir a espera por atendimento de 50 para 20 dias.
Alves, porém, concorda com a necessidade de contratação de mais peritos para suprir carências em algumas regiões do país. Entretanto, destaca que não deverá haver processo seletivo para o INSS no ano que vem.
— Não deve ter concurso. Já existe esse pleito da ANMP e do INSS junto ao Ministério do Planejamento, mas não há indicativo de que teremos uma seleção — declarou.
O problema pode não se restringir às perícias, estendendo-se a todas as áreas do INSS e prejudicando ainda mais a concessão de benefícios. Segundo estimativas do próprio órgão, 55% dos servidores estarão aptos a se aposentar em janeiro de 2019, o que poderá levar a um total apagão na prestação de serviço.
A possibilidade de aposentadoria em massa aconteceu porque, durante a greve dos servidores do INSS, em 2016, ficou acordado que 100% da gratificação por desempenho, pago a quem está na ativa, seriam incorporados à aposentadoria, a partir de janeiro de 2019. Portanto, o estímulo de ficar na atividade deixará de existir a partir do ano que vem.