É viável a utilização, higienização, desinfecção e reutilização de respiradores descartáveis? Digo que com o nosso conhecimento técnico-cientifico atual, alicerçado por diversos estudos realizados sobre o tema, até pode ser viável sim, mas com cautela. Por exemplo, a reutilização de respiradores “descartáveis”, em especial os utilizados para bioaerossóis, não é recomendado pela maioria dos fabricantes.
No geral para os demais equipamentos, utilizando-se substâncias especificas como os germicidas químicos, calor e/ou luz ultravioleta talvez seja possível realizar a desinfecção sem alterar as características originais do EPI, gerando desta forma um coeficiente de segurança até certo ponto “aceitável”. Entretanto, o próprio uso do respirador nunca utilizado (apto) está vinculado a possíveis desvios e deficiências, tanto que eles são projetados para ajudar a reduzir a exposição do usuário a partículas aéreas, tendo uma eficiência de filtração entre 94 a 95%. Ou seja, estes respiradores são projetados para reduzir a exposição de particulados dispersos na atmosfera, e não para eliminar. Além do mais, há ainda que se tratar de temas como capacitação adequada, ensaios de vedação, bem como a omissão de uso do EPI. Mas lembro que a reutilização de respiradores “descartáveis”, em especial os utilizados para bioaerossóis, não é recomendado pela maioria dos fabricantes.
Sabe-se que pela urgência e criticidade do assunto, e pela falta de EPIs no mercado, aliado a informes de não uso destes em muitos centros de saúde, a iniciativa pode de certa forma contribuir para a garantia da integridade física dos nossos trabalhadores. Mas essa iniciativa deve ser alicerçada em estudos e protocolos técnicos e científicos.
Desta forma, tendo em vista que muitos profissionais de saúde estão se expondo e adoecendo pela falta dos EPIs Básicos, a mudança de procedimentos e protocolos visando permitir a desinfecção e reutilização dos respiradores pelos profissionais da saúde, levando em conta relação custo x benefício, em casos extremos, até pode ser positiva, já que um EPI reutilizado é melhor que nenhum, e só quem está na frente de combate pode opinar com mais propriedade sobre o assunto.
Lembrando que a NR-6 (EPI), ainda em vigor, cita no seu item 6.3. que a empresa é obrigada a fornecer aos empregados, gratuitamente, Equipamento de Proteção Individual adequado ao risco, em perfeito estado de conservação e funcionamento, nas seguintes circunstâncias:
a) Sempre que as medidas de ordem geral não ofereçam completa proteção contra os riscos de acidentes do trabalho ou de doenças profissionais e do trabalho;
b) Enquanto as medidas de proteção coletiva estiverem sendo implantadas; e,
c) Para atender a situações de emergência.
Desta forma podemos concluir que atendidas as peculiaridades de cada atividade profissional, e observado o disposto no item acima, o empregador deve fornecer aos trabalhadores os EPI adequados, de acordo com o disposto no Anexo I da NR-6.
A discussão quanto a desinfecção e reuso, nesse caso especifico da PANDEMIA do Coronavírus é que em muitos lugares, a demanda por EPI está maior que a disponibilidade em mercado para aquisição imediata, e assim, há um déficit em atendimento e compra dos EPIs. O problema é a substituição e reposição dos mesmos, não é falta de vontade, mas escassez de material à disposição imediata.
Confecção de máscaras de tecido para uso da comunidade
Já o segundo assunto, relativo a confecção de máscaras de pano como forma de barreira contra o Coronavírus pela comunidade em geral, tecnicamente falando, pode ser temerário. Desconhecemos os níveis de proteção que possam oferecer os diversos tipos de tecidos (fibras) existentes no mercado, sendo que eles não foram projetados nem testados para filtrar pequenas partículas, isso sem falar em eficiência de filtragem bacteriológica.
Se a desinfecção e reutilização dos respiradores pelos profissionais da saúde pode até ser positiva, já a fabricação e uso de máscaras de tecido pela comunidade, não é a mesma coisa. Ela pode proteger? Sim. Mas quanto? Não sabemos.
Desta forma, podemos dizer que as máscaras de tecido até filtram gotículas dispersas no ar (perdigotos), por isso ser for imprescindível sair de casa, esse é um recurso que pode ser usado pelas pessoas, não quero fazer um desserviço à sociedade nem ir contra as orientações do Ministério da Saúde, muito pelo contrário, só não quero que fique “implícito” que usando “máscaras caseiras” podemos sair de casa totalmente seguros, incentivando desta forma a presença de pessoas sem necessidade nas ruas e em edificações, gerando uma falsa sensação de segurança. Lembramos que a comunidade em geral tem outras formas de minimizar a exposição a patógenos respiratórios, em especial ao coronavírus (SARS-CoV-2), sendo umas delas o distanciamento social.
Vida útil do respirador
Antes de adentrar nas premissas da vida útil do respirador, destaco que: Os respiradores, quando utilizados no controle da exposição ocupacional a patógenos transmitidos também por contato, como é o caso do Coronavírus (SARS-CoV-2), devem ser descartados imediatamente após cada uso. Lembrando que os equipamentos e materiais usados devem ser descartados de acordo com regulamentos pertinentes.
Para os demais casos, a vida útil do respirador é variável, depende de vários fatores, em que todos devem ser observados: Devendo ser descartado quando danificado, perfurado, quando se notar a respiração difícil, quando for contaminado por sangue ou outros fluidos corpóreos, ou quando houver qualquer deformação na sua estrutura física de forma que possa vir prejudicar a adequada vedação facial. Caso contrário, pode o respirador ser guardado e reutilizado de acordo com as normas internas da empresa ou no caso de área hospitalar diretrizes do centro de controle de infecções hospitalares.
Itens a observar sobre as válvulas de exalação
Como disse no post anterior, alguns modelos possuem válvula de inalação e/ou exalação, que direcionam o fluxo de ar conforme a fase do ciclo respiratório, sendo que a válvula de exalação deixa sair o ar expirado pelo usuário (quente e úmido) para o meio ambiente.
O objetivo da válvula de exalação de um respirador é reduzir a resistência à respiração durante a exalação; não afeta a capacidade de um respirador fornecer proteção respiratória. A válvula foi projetada para abrir durante a expiração para permitir que o ar expirado saia do respirador e, em seguida, feche firmemente durante a inalação, de modo que o ar inalado não entre através da válvula.
Desta forma é importante salientar que, mesmo que a válvula não afete a capacidade do respirador de reduzir a exposição do usuário a bioaerossóis, uma pessoa que esteja com sintomas de doença não deve usar um respirador com válvula, pois partículas exaladas podem sair pelo respirador através da válvula e ficar no ambiente circundante, expondo desta forma outras pessoas.
Por: Marco Aurélio Nunes da Rocha
Técnico em Segurança do Trabalho e em Emergências Médicas. Graduado em Segurança e Pós-Graduado em Gerenciamento de Emergências e Desastres, em Segurança e Higiene Ocupacional, em Toxicologia Geral e em Segurança contra Incêndio e Pânico. Especialista em Urgência e Emergência Pré-hospitalar. Professor de cursos de Pós-Graduação de Engenharia de Segurança do Trabalho, Engenharia de Prevenção e Combate a Incêndios, Defesa Civil, Gestão de Emergências e Desastres e em APH Tático. Membro da International Association of Emergency Managers (AEM/USA). Diretor do SINDITEST/RS