Gestão Estratégica dos Riscos Crí­ticos Socioambientais na Mineração
Editor: Sandro Azevedo
Postagem: 2018-10-23T09:31:51-03:00
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A cultura de segurança é um conceito muito importante a ser tratado para promover uma importante mudança organizacional.

Já abordarmos algumas vezes sobre a necessidade de se priorizar a criação de uma cultura de segurança nas empresas para a prevenção de acidentes e mitigação de riscos. Contudo, a cultura de uma organização não é tão difundida e esclarecida como deveria ser, pois poucos entendem realmente o que é ou como gerenciá-la.

O que é cultura organizacional?

Entende-se por cultura organizacional como um conjunto de padrões de comportamento, crenças e conhecimentos que, juntos, servem para caracterizar a maneira de atuar da maioria das pessoas de uma empresa. Assim, muitas pessoas acabam vendo a cultura organizacional como algo somente emocional, que pode ser resolvido na base da conversa. Certas empresas chegam até a discutir em reuniões como promover uma cultura de segurança, por exemplo, somente através de comunicados em murais ou ações do tipo.

Até certo ponto, tratar a cultura organizacional de forma “emocional” não está errado; porém, é muito mais do que isso – apesar de a mentalidade fazer muita diferença na questão. O importante, na verdade, é estar ciente de que a cultura organizacional não deve ser trabalhada de maneira isolada, pois é parte integral de um sistema de gestão!

Uma cultura de qualidade, por exemplo, é somente um efeito de seu próprio Sistema de Gestão, resultado de como as coisas são realizadas em sua empresa. Um ótimo exemplo disso é caso sua empresa seja de prestação de serviços: a qualidade dos serviços depende diretamente da qualidade dos processos envolvidos na prestação dos serviços. O mesmo vale para a criação de produtos.

A cultura de segurança de uma empresa deve ser transformada através da mudança do pensamento das pessoas. Mudanças que devem ser realizadas através da aprendizagem e vir da alta diretoria, da gestão, principalmente através do exemplo e do alinhamento das ações dessas pessoas com o discurso da empresa, traduzido nos seus valores, missão e visão. Ou seja, essa aprendizagem tem origem no comportamento individual daqueles que são reconhecidos como líderes ou formadores de opinião, que em última análise deveriam ser os gestores.

A corrente de contaminação do comportamento desce da alta direção e contamina aqueles que estão na linha de frente e portanto, expostos aos agentes perigosos inerentes às suas atividades.

Você, individualmente, independente da “patente” que tenha na sua organização, pode ser o agente alavancador da formação da cultura de segurança por que você sempre terá alguém próximo que o elegerá como líder. Certamente que o processo de adesão e de contaminação das pessoas por comportamentos seguros formando uma corrente que se transforma em cultura será mais intenso quanto mais você for reconhecido como um líder.

Grandes expoentes mundiais da mineração adotam códigos e princípios a fim de incluir a cultura prevencionista na missão, visão e política de seus associados. No Canadá, o The Mining Association of Canada (MAC) adota um conjunto de indicadores de desempenho que demonstram o cumprimento dos compromissos assumidos para a inclusão social, boas práticas ambientais, além da segurança e saúde de seus trabalhadores e das pessoas nas comunidades de entornos das atividades – http://mining.ca/towards-sustainable-mining. Na Austrália, o Minerals Council of Australia (MCA) também estabelece uma série de políticas de meio ambiente, saúde e segurança, povos indígenas e dentre outros, para auxiliar seus membros quanto a gestão preventiva desses aspectos em suas atividades.

A maioria das empresas de mineração atuam globalmente, ou seja, desenvolve suas atividades em diversos países de maneira que a governança dos temas socioambientais vigentes pode divergir bastante de um país para outro; desta forma a homogeneização desta governança para os grandes operadores globais nasceu através da criação do International Council for Mining and Metals (ICMM), uma organização internacional que elabora diretrizes e boas práticas de planejamento estratégico de SSMA para agregar valor ao setor da mineração, que reúne 27 companhias de mineração e mais de 30 associações com forte desempenho socioambiental.

Em 2015, o ICMM estabeleceu um conjunto de 10 princípios para a sustentabilidade na mineração, dos quais 5 (respectivamente 4°, 5°, 6°, 7° e 8°) são dedicados à gestão de riscos críticos e melhoria do desempenho ambiental e de segurança e saúde ocupacional, sendo eles:

- A implementação de estratégias para gestão efetiva dos riscos;

- A melhoria contínua no desempenho de saúde e segurança;

- A melhoria contínua no desempenho ambiental, como em água, energia e mudanças climáticas;

- A contribuição para a conservação da biodiversidade e o planejamento integrado para usos do solo;

- O suporte ao conhecimento para desenvolvimento de sistemas responsáveis para o uso, reuso, reciclagem e disposição de produtos minerários.

No setor financeiro, o International Finance Corporation (IFC), parte do Banco Mundial, elaborou em 2007 o The Environmental, Health and Safety (EHS) Guidelines, um guia técnico para auxiliar na gestão de riscos de SSMA na mineração, que além de contar com casos internacionais de boas práticas, apresenta alternativas para a proteção da saúde humana e do meio ambiente. O guia relaciona os aspectos associados na mineração, como água, ar, resíduos e materiais perigosos, indicando as práticas recomendadas para seu gerenciamento adequado, como elaboração de balanço hídrico, construção de dispositivos e sistemas de tratamento de efluentes e resíduos, além de outras ações.

Ainda no tema de gestão de riscos nos negócios, a International Organization for Standardization (ISO) elaborou uma família de normas para tratar o assunto, a ISO 31000, com base em princípios para a criação de valores e proteção ao negócio – e a 31010, que apresenta formas de avaliações de riscos. Lançada em 2009, a ISO 31000 teve seu escopo revisado em 2018, incluindo novos critérios para o mapeamento de riscos; a integração da alta governança com as lideranças de gestão de riscos; a interação com os stakeholders e dentre outros.

A ISO 31010 apresenta dentre outras informações, as ferramentas de avaliação de riscos ao negócio, com identificação das consequências, a definição de probabilidades e os fatores de mitigação.

O mapeamento e a gestão dos riscos críticos devem ser iniciados o quanto antes possível, já que de acordo com o ICMM, a antecipação do planejamento socioambiental estratégico, traz menos incertezas ao longo da vida do negócio.

Dessa forma, consequentemente os custos para manter os riscos dentro de um nível aceitável, serão bem menores, ou seja, o custo do controle destes riscos será tão menor quanto mais cedo iniciar-se seu planejamento.