Nos últimos meses, temos acompanhado incêndios nos mais diversos tipos de estabelecimentos. Na última semana aconteceu o incidente no galpão na usina de Belo Monte (PR). Recentemente, o ocorrido foi no alojamento do CT do Flamengo (RJ), anteriormente tivemos registros no Instituto do Coração (SP), no galpão da Mitsubishi Chemical Polímeros de Desempenho (SP), no centro de distribuição da Drogaria Pacheco (RJ), no Museu Nacional (RJ), na fábrica da Femsa que atende o Mercosul (SP), na planta da farmacêutica EMS (SP), apenas para citar algumas.
Segundo dados coletados pelo Instituto Sprinkler Brasil de incêndios noticiados pela imprensa em edificações, em 2018 foram contabilizadas 531 ocorrências de incêndio estruturais. Dentre as diferentes categorias de estruturas, a que registrou o maior número foram os estabelecimentos comerciais (lojas, shopping centers e supermercados), com 190 registros, seguida por depósito, com 114 reportes.
“Começamos a contabilizar os incêndios noticiados pela imprensa por falta de dados estatísticos oficiais no país. Como ter consciência de que trata-se de algo alarmante e que pode ser evitado, se nem o poder público tem ideia de quantos incêndios acontecem nem quantos morrem ou ficam feridos no Brasil por causa de incêndios? Fico intrigada sobre qual é o motivo pelo qual os órgãos responsáveis não divulgam tal número e nem são cobrados por isso. Por acompanhar o assunto há décadas, sei que o dado que coletamos pela imprensa é provavelmente cem vezes menor do que acontece oficialmente”, conclui Marcelo Lima, especialista em prevenção e combate a incêndios e diretor do Instituto Sprinkler Brasil.
A legislação de prevenção e combate a incêndios é estadual e está atualizada. A de São Paulo é uma das mais avançadas do país e serve de modelo para grande parte dos estados brasileiros. A questão está em aplicá-la corretamente.
“O estado exige a instalação de sistemas de incêndio mas não faz qualquer exigência quanto ao nível de qualidade dos equipamentos. Não há certificação para equipamento de incêndios, exceto para extintores. Com isso temos sistemas instalados por todo o Brasil que atendem plenamente a legislação, mas que provavelmente não funcionarão porque o equipamento é de péssima qualidade e isso só será descoberto no pior momento, durante uma ocorrência de incêndio”, conclui Lima.
“Temos uma quantidade altíssima de incêndios por vários motivos, mas que começa com a falta de consciência de todos: população, autoridades, empresas, governos. Costumo explicar que incêndios não são acidentais, mas fruto de falhas, desconhecimento ou mau uso das edificações, e principalmente por falta de instalação e manutenção de sistemas de prevenção”, explica o tenente-coronel, atualmente na reserva, do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, Cassio Roberto Armani.