Doença Alérgica Ocupacional: Aspectos Socioepidemiológicos
Editor: Sandro Azevedo
Postagem: 2018-11-15T08:37:13-03:00
  0 Avaliações
538 Visualizações

A sociedade moderna na qual vivemos tem sofrido aceleradas mudanças e, com isso, as conquistas alcançadas têm afetado a vida humana tanto individual quanto coletivamente. Com novos hábitos de vida, o indivíduo adulto tem passado muito mais tempo em seu ambiente de trabalho, onde fica exposto a uma variedade de substâncias potencialmente irritativas e imunogênicas que podem causar doenças. Nesse cenário, as doenças ocupacionais vêm ganhando espaço para discussões na área da saúde do trabalhador. Doenças ocupacionais são aquelas contraídas ou desenvolvidas em virtude de condições particulares relacionadas à atividade laboral exercida pelo trabalhador.

Quando o mecanismo patogênico envolvido nesses quadros ocupacionais é imunológico (uma reação de hipersensibilidade), pode-se dizer que se trata de uma doença alérgica ocupacional (DAO).Clinicamente, os trabalhadores expostos podem desenvolver alergias ocupacionais respiratórias ou cutâneas, sendo elas: asma relacionada ao trabalho, que pode estar acompanhada de rinite e conjuntivite alérgicas (oriundas do mesmo mecanismo de resposta imune da asma ocupacional); dermatite de contato; e em alguns casos, anafilaxia.

Alergias ocupacionais são aquelas que ocorrem devido à exposição a diferentes substâncias presentes no ambiente de trabalho, com a melhora de sintomas nos finais de semana ou nas férias.

O mecanismo patogênico envolvido nas alergias ocupacionais é imunológico, ou seja, há a participação de anticorpos (IgE, IgM ou IgG), imunocomplexos ou mediado por células (linfócitos T específicos).

Esses quadros podem ser tanto alergias respiratórias (como a asma e a rinite ocupacionais), quanto envolver a pele através de uma dermatite de contato ocupacional. A seguir, explico melhor as características de cada uma dessas alergias ocupacionais:

Asma ocupacional

É considerada a alergia respiratória ocupacional mais prevalente, podendo corresponder a 26% a 52% das doenças respiratórias ligadas ao trabalho em países industrializados. Pode acontecer duas situações:

a) Ser uma alergia iniciada com a exposição ao local de trabalho;

b) Ou ser um quadro agravado no ambiente de trabalho, ou seja, neste caso o paciente reiniciou um quadro de asma que apresentou na infância.

A forma mais comum é com período de latência, ou seja, os sintomas podem aparecer de semanas a vários meses após a exposição do agente causador. Normalmente ela é causada por substancias como:

- Farinhas - padeiros e moleiros

- Proteínas animais - técnicos de laboratórios, tratadores de animais

- Látex - enfermeiros e médicos

- Anidridos - profissionais que trabalham com plásticos e resina epóxi

- Isocianatos - profissionais que trabalham com tintas, plásticos, espumas e borrachas

- Sais de platina - quem trabalha em refinarias e soldadores.

O mecanismo imunológico envolvido pode ser IgE dependente ou não mediado por IgE. Na asma ocupacional sem período de latência, na maioria das vezes o mecanismo envolvido é não imunológico e é desencadeado por exposição à fumaça e gases tóxicos como amônia e ácido clorídrico. Cabeleireiros que trabalham com amônia podem apresentar esse quadro.

Fatores de susceptibilidade ligados ao próprio indivíduo estão envolvidos no desencadeamento da asma ocupacional, como o tabagismo e atopia (suscetibilidade para apresentar asma, rinite alérgica ou dermatite atópica)

Quanto ao quadro clínico acontece uma piora dos sintomas do paciente no trabalho referindo melhora nos finais de semana e feriados.

Em relação ao tratamento, o afastamento da exposição ao agente causal é essencial para obtenção da melhora dos sintomas. Além do tratamento da asma com medicação segundo consensos e diretrizes, pode-se utilizar equipamentos de proteção e medidas ambientais que permitem ao trabalhador manter sua profissão em condições favoráveis. Pode-se fazer também uma recolocação do profissional ou diminuição do tempo de exposição e melhoria das condições de ventilação na área de trabalho.

Rinite ocupacional

Neste tipo de rinite há sintomas nasais na presença de substancias no ambiente de trabalho que podem desencadear coceira nasal, espirros, coriza e/ou obstrução nasal. Pode envolver mecanismos imunológicos ou não imunológicos. Estudos científicos relatam que a rinite ocupacional pode evoluir para asma ocupacional.

Ela pode ser classificada da seguinte forma:

1) Incomoda: O paciente apresenta sensibilidade olfativa elevada, relatando sintomas após exposição de substancias como detergentes e perfumes. Comum em pessoas que trabalham em supermercados e lojas de departamento.

2) Irritativa: Ocorrem sintomas de rinite sem envolver mecanismos imunológicos específicos. Isso pode ocorrer com poluentes ambientais (no caso de trabalhadores de rua), fumaça de cigarro, ar frio (para pessoas que trabalham em frigoríficos), spray de cabelo, talco, entre outros...

3) Corrosiva: Há inflamação intensa da mucosa nasal após exposição à gases e irritantes como cloro e amônia.

4) Alérgica: Envolve mecanismo mediado por IgE. É provocada por látex (profissionais da área da saúde), camundongos (técnicos de laboratório), anidridos ácidos (trabalhadores com resina epóxi), platina (artesãos de joias) e isocianatos (pintores).

O tratamento é semelhante ao da asma ocupacional.

Dermatite ocupacional

As dermatites ocupacionais são desordens cutâneas ocasionadas por exposição à substancias em ambiente de trabalho. Neste caso a lesão cutânea se desenvolve pela primeira vez quando o paciente está trabalhando. A lesão cutânea deve melhorar com o afastamento do indivíduo do trabalho e piorar com o retorno.

A dermatite de contato que o paciente desenvolve está relacionada com um agente causador que pode ser identificado através de teste de contato. A atopia é considerada um fator de risco para doenças ocupacionais cutâneas. As dermatites de contato podem ser causadas por irritantes primários ou podem ser alérgicas.

Exemplos de elementos sensibilizantes em determinados grupos de trabalhadores:

1) Trabalhadores que lidam com cosméticos: anilina, bálsamo do peru, perfume mix, formaldeído, thimerosal;

2) Trabalhadores que lidam com borracha e plástico: látex, PPD mix, resina epóxi;

3) Trabalhadores que lidam com couro: Azocorantes, bicromato de potássio;

4) Trabalhadores que trabalham com metais: sulfato de níquel e cloreto de cobalto.

Profissões como borracheiros, cabeleireiros, costureiros, cozinheiros, dentistas, enfermeiros, fotógrafos, manicures, maquiadores, mecânicos, médicos, metalúrgicos, padeiros, pedreiros, pintores, sapateiros, trabalhadores de construção ou de indústrias podem apresentar dermatite de contato ocupacional e devem procurar o especialista para identificar o agente causador e buscar qualidade de vida no seu ambiente de trabalho.