A asma ocupacional é a obstrução reversível das vias respiratórias que se desenvolve após meses a anos de sensibilização a alergênios encontrados no local de trabalho. Os sintomas são dispneia, sibilos, tosse e, ocasionalmente, sintomas alérgicos do trato respiratório superior. O diagnóstico baseia-se na história ocupacional, incluindo avaliação das atividades no trabalho, alergênios no ambiente de trabalho e associação temporal entre trabalho e sintomas. Podem-se usar testes dérmicos com alergênios e testes provocativos com inalação em centros especializados, mas costumam ser desnecessários. O tratamento envolve a remoção do indivíduo do ambiente e a utilização de fármacos para asma, se necessário.
Asma ocupacional é o desenvolvimento de asma (asma preexistente ou mais grave) por causa de exposição ocupacional. Os sintomas desenvolvem-se tipicamente no decorrer de meses a anos, em decorrência da sensibilização a um alergênio encontrado no local de trabalho. Uma vez sensibilizado, o trabalhador invariavelmente responde a concentrações muito mais baixas de alergênios que aquelas que iniciaram a resposta. Há dois tipos de asma ocupacional, um com um mecanismo de ação imune e outro com um mecanismo não imune. A asma ocupacional é responsável por 10% a 25% da asma de início na idade adulta diagnosticada por centros médicos.
Identificaram-se inúmeros produtos químicos e outros agentes causadores da asma ocupacional que podem ser encontrados no local de trabalho. Uma lista dos alérgenos aerotransportados no local de trabalho que foram associados à asma ocupacional pode ser encontrada em Commission des normes, de l'équité, de la santé et de la sécurité du travail.
Várias outras doenças das vias respiratórias causadas por exposições à inalação no ambiente de trabalho podem ser distinguidas de asma ocupacional e de asma agravada ocupacionalmente.
Na síndrome de disfunção das vias respiratórias reativas (SDVRR), que não é alérgica, indivíduos sem história de asma desenvolvem obstrução reversível e persistente das vias respiratórias após exposição aguda e intensa a poeiras, vapores, ou gases. A inflamação das vias respiratórias persiste mesmo após a remoção do irritante agudo e a síndrome é indiferenciável da asma.
Na síndrome reativa das vias respiratórias superiores, sintomas relacionados com a mucosa das vias respiratórias superiores (nasal ou faríngea) desenvolvem-se após exposição aguda ou repetida a irritantes das vias respiratórias.
Na disfunção da corda vocal associada a irritante, que mimetiza a asma, há aposição e fechamento anormais das cordas vocais, em especial durante a inspiração, após a inalação aguda de irritante.
Na bronquite industrial (bronquite crônica induzida por irritante), a inflamação brônquica provoca tosse após exposição aguda ou crônica à inalação de irritantes.
Na bronquiolite obliterante, a lesão bronquiolar acontece após a exposição aguda à inalação de gases (p. ex., amoníaco anidro). As 2 formas principais são a proliferativa e a constritiva. A forma constritiva é a mais comum e pode ou não se associar a outras formas de lesão pulmonar difusa. Recentemente, têm sido relatados casos de bronquiolite obliterante em trabalhadores expostos à substância diacetil durante a fabricação de pipoca de micro-ondas sabor manteiga. O chamado “pulmão do trabalhador da fábrica de pipoca” pode ocorrer em trabalhadores expostos a outros aromas e em alguns consumidores expostos a esse químico.
Outros termos às vezes utilizados para classificar as formas da asma no ambiente de trabalho incluem asma exacerbada pelo trabalho, asma induzida por irritação e bronquite eosinofílica ocupacional não asmática.
Etiologia
A asma ocupacional é causada por mecanismos com mediação imunitária ou não.
Mecanismos imunomediados envolvem hipersensibilidade mediada por imunoglobulina E (IgE) ou não IgE a alergênios do local de trabalho. Existem centenas de alergênios ocupacionais, variando de substâncias químicas de baixo peso molecular a grandes proteínas. Os exemplos envolvem: poeira de grãos, enzimas proteolíticas usadas na produção de detergentes, madeira vermelha de cedro, isocianatos, formalina (raramente), antibióticos (p. ex., ampicilina e espiramicina), resinas epóxi e chá. A asma ocupacional é a doença pulmonar ocupacional mais comumente diagnosticada em países desenvolvidos.
Os mecanismos inflamatórios com mediação não imunitária envolvem irritação direta do epitélio respiratório e da mucosa das vias respiratórias superiores. Causas comuns são a exposição a gás cloro, ácido clorídrico e amônia anidra.
Descobriu-se que militares norte-americanos destacados para o Iraque e Afeganistão têm maior risco de asma (e também de bronquiolite obliterante). As possíveis causas incluem emissões das fossas de queima de resíduos e incêndios industriais, poeira do deserto e exaustão veicular.
Sinais e sintomas
Os sintomas da asma ocupacional incluem falta de ar, opressão torácica, sibilos e tosse, frequentemente com sintomas respiratórios superiores, como espirros, rinorreia e lacrimejamento. Os sintomas conjuntivais e das vias respiratórias superiores precedem os sintomas da asma típicos por meses ou anos. Os sintomas podem desenvolver-se durante as horas de trabalho após a exposição a poeiras e/ou vapores, mas com frequência não se tornam aparentes até várias horas após o trabalhador deixar o trabalho, dessa forma tornando menos óbvia a associação com a exposição ocupacional. Os sibilos noturnos podem ser os únicos sintomas. Frequentemente, os sintomas desaparecem nos finais de semana ou durante as férias, embora com exposição contínua as exacerbações temporais e o alívio se tornem menos aparentes.
Diagnóstico
- História ocupacional de exposição ao alergênio;
- Pesquisa imunológica;
- Às vezes, teste de provocação por inalação.
O diagnóstico da asma ocupacional depende do reconhecimento da ligação entre alergênios do local de trabalho e asma clínica. Presume-se o diagnóstico com base na história ocupacional de exposições a alergênios. Pode-se usar uma planilha com dados de segurança (obrigatória em todos os locais de trabalho) para identificar os potenciais alérgenos, e as substâncias listadas podem ser usadas para testes imunológicos diretos (p. ex., teste de punção da pele, pudlagem ou testes de contato cutâneo) dos antígenos suspeitos para demonstrar que um agente no local de trabalho afeta um trabalhador. O aumento da hiper-reatividade brônquica após a exposição a antígenos suspeitos também é útil para efetuar o diagnóstico.
Nos casos difíceis, o teste provocativo de inalação, cuidadosamente controlado e realizado em laboratório, confirma a causa da obstrução das vias respiratórias. Esses procedimentos devem ser reservados a centros clínicos especializados em testes provocativos de inalação e capazes de monitorar as reações graves que, às vezes, podem ocorrer.
Os testes de função pulmonar ou as avaliações de pico de fluxo expiratório, que revelam diminuição do fluxo aéreo durante o trabalho, constituem evidências ulteriores de que a exposição ocupacional é a causa.
Podem-se usar os testes de provocação com metacolina para estabelecer o grau de hiper-reatividade das vias respiratórias. A sensibilidade à metacolina pode diminuir após a interrupção da exposição ao alergênio ocupacional.
A diferenciação da asma idiopática geralmente se baseia no padrão dos sintomas, na demonstração de que existem alergênios no local de trabalho e na relação entre exposição a alergênios e sintomas e piora fisiológica.
Tratamento
- Terapia medicamentosa;
- Prevenção da exposição.
O tratamento da asma ocupacional é o mesmo da asma idiopática, incluindo broncodilatadores e corticoides inaláveis. O tratamento deve também incluir a remoção do paciente da exposição contínua ao agente etiológico.
Prevenção
A extinção da poeira é crucial. Entretanto, pode não ser possível a eliminação de todas as possibilidades de sensibilização e doença clínica. Uma vez sensibilizados, os portadores de asma ocupacional podem reagir de modo extremo a níveis baixos de alergênios veiculados pelo ar. Aqueles que retornam aos ambientes em que há persistência de alergênios geralmente têm prognóstico reservado, com mais sintomas respiratórios, maior alteração da fisiologia pulmonar, maior necessidade de fármacos e exacerbações mais graves e mais frequentes. Sempre que possível, deve-se remover o indivíduo sintomático do setor que sabidamente desencadeia sintomas. Se a exposição for mantida, os sintomas tendem a persistir. Às vezes, é possível curar a asma ocupacional, se for diagnosticada precocemente e se a exposição for interrompida.
Pontos-chave
- A asma ocupacional pode ser de origem não imunitária ou pode se desenvolver depois de meses ou anos da sensibilização;
- Considerar a revisão das planilhas de dados de segurança no local de trabalho quanto a potenciais alérgenos se os trabalhadores desenvolverem novos sintomas respiratórios;
- Considerar testes imunológicos e um teste de provocação por inalação;
- Tratar como para a asma e remover o paciente do ambiente que contém o alérgeno.
Por: Abigail R. Lara
MD, Universidade do Colorado
Fonte: MSD