Covid-19: Condicionantes de Proteção Respiratória para Atendimento a Pacientes
Editor: Sandro Azevedo
Postagem: 2020-05-26T20:52:27-03:00
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Definições Básicas Sobre Equipamentos de Proteção Respiratória

Podemos definir Equipamento de Proteção Respiratória (EPR) como equipamento de proteção individual (EPI) projetado para proteção do trato respiratório contra a inalação de contaminantes perigosos, podendo, mesmo que muitos não gostem, ser chamado de máscara ou respirador.

O termo mais usual entre os profissionais é de respirador, que é o equipamento que visa fornecer proteção contra a inalação de ar contaminado ou de ar com deficiência de oxigênio.

Já o respirador purificador de ar é o respirador no qual o ar do ambiente, antes de ser inalado, passa através de filtro para remoção do (s) contaminante (s).

Falamos muito em PPF que é a denominação de Peça Semifacial Filtrante, que é peça constituída parcial ou totalmente de material filtrante, que cobre o nariz, a boca e o queixo e pode ter válvulas de inalação e/ou exalação, nesse tipo de EPI o filtro forma uma parte inseparável da peça facial. Também chamamos de máscara descartável.

Os respiradores para partículas são classificados em P1, P2 e P3, já as peças semifaciais filtrantes em PFF1, PFF2 e PFF3, conforme satisfaçam os requisitos de penetração do aerossol de ensaio e de resistência à respiração especificados nas normas técnicas ABNT NBR 13697 e ABNT NBR 13698.

Como disse, alguns modelos possuem válvula de inalação e/ou exalação, que direcionam o fluxo de ar conforme a fase do ciclo respiratório, sendo que a válvula de exalação deixa sair o ar expirado pelo usuário (quente e úmido) para o meio ambiente. Durante a fase de inspiração, a válvula de exalação fica fechada, obrigando o ar que será inalado a passar pelo filtro. A válvula de inalação, fechada durante a fase de expiração, impede que ar saturado de umidade, proveniente do ar expirado, atinja o elemento filtrante e o danifique, desta forma as válvulas não só aumentam a longevidade do EPI como facilitam a respiração do usuário.

Utilização de Proteção Respiratória por Profissionais de Saúde e Segurança

Todos os profissionais que necessitem utilizar proteção respiratória como forma de proteção, devem ser treinados e orientados sobre as formas adequadas de utilização, remoção, descarte e higienização das mãos antes e após a utilização.

Conforme já postamos nos textos anteriores, os estudos atuais sugerem que a via de transmissão pessoa a pessoa do novo coronavírus se dá através das gotículas respiratórias ou contato por meio das mãos, objetos ou superfícies contaminadas, de forma semelhante como os outros patógenos respiratórios.

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) a máscara cirúrgica pode ajudar na proteção contra a exposição a micro-organismos, fluidos corporais e partículas de dimensões aerodinâmicas relativamente grandes.

Especificamente os centros de referência ou terciários de atendimento a pacientes suspeitos e/ou infectados devem garantir que as políticas e as boas práticas internas de biossegurança sejam implementadas e seguidas como forma de reduzir e/ou minimizar a exposição a patógenos respiratórios, em especial ao coronavírus (SARS-CoV-2), lembrando que estas medidas devem ser implementadas antes da chegada do paciente ao serviço de saúde, quando na sua chegada, na triagem, durante a espera por atendimento bem como durante toda a assistência prestada a este.

Por isso deve ser implementado precauções adicionais (para gotículas e contato) para casos suspeitos e confirmados de infecção pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), no que tange a proteção respiratória TODOS devem fazer uso de máscaras cirúrgicas quando houver risco de contato e de exposição a gotículas (perdigotos), já que o número de partículas infecciosas necessárias para causar uma infecção é frequentemente incerto ou desconhecido para patógenos respiratórios. Além do que podemos ter alguns fatores influenciadores como a duração da exposição, sintomatologia clinica que possa ter probabilidade de gerar infecção de pessoa para pessoa. Por isso reforçamos que devem ser utilizados máscaras e/ou respiradores (dependendo da forma da gotícula gerada) como forma de evitar a contaminação da boca e nariz do profissional pelas gotículas respiratórias, sobretudo quando o mesmo atuar a uma distância inferior a 1 metro do paciente suspeito ou confirmado de infecção pelo novo coronavírus.

Devemos atentar também que os pacientes suspeitos ou confirmados de apresentarem COVID-19 devem ser orientados a permanecerem com a máscara cirúrgica durante toda a sua permanência no serviço de atendimento à saúde.

Especificação das Máscaras Cirúrgicas

Temos visto a mobilização de algumas empresas no que tange a confecção de máscaras cirúrgicas para doação aos profissionais que estão envolvidos direta e indiretamente no atendimento a pacientes suspeitos ou confirmados com COVID-19. Por isso é importante falar sobre algumas particularidades sobre esse importante item de proteção.

A Anvisa recomenda que as máscaras sejam confeccionadas em material Tecido-Não-Tecido (TNT) para uso hospitalar, devendo possuir no mínimo, uma camada interna e outra externa e, obrigatoriamente, um elemento filtrante, devendo atender os requisitos estabelecidos nas normas técnicas brasileiras em especial a ABNT NBR 14873:2002 (Não tecido para artigos de uso odonto-médico-hospitalar – Determinação da eficiência da filtração bacteriológica).

Segundo recomendações da ANVISA a camada externa da máscara e o elemento filtrante devem ser resistentes à penetração de fluidos transportados pelo ar, ou seja, possuir repelência a fluidos. O fornecedor do Tecido-Não-Tecido utilizado para confecção das máscaras cirúrgicas deve determinar a eficiência da filtração bacteriológica do material, devendo o elemento filtrante possuir eficiência de filtragem de partículas > 98% e eficiência de filtragem bacteriológica > 95%. Sendo proibido a confecção de máscaras cirúrgicas com uso de tecido de algodão, tricoline, TNT ou outras fibras têxteis que não sejam do tipo “Não tecido para artigos de uso odonto-médico- hospitalar” para uso pelos profissionais de saúde”.

Máscaras de tecido não são recomendadas, sob qualquer circunstância.

Considerações Sobre Respiradores ou Máscaras Descartáveis

Alguns procedimentos realizados em pacientes com infecção suspeita ou confirmada pelo coronavírus (SARS-CoV-2) podem gerar aerossóis (como por exemplo, procedimentos que induzem a tosse, intubação ou aspiração traqueal, ventilação invasiva e não invasiva, ressuscitação cardiopulmonar, ventilação manual antes da intubação, indução de escarro, coletas de amostras nasotraqueais). Para esses casos, as precauções para exposição a gotículas devem ser substituídas pelas precauções para aerossóis e em especifico da orientação da obrigatoriedade do uso de respiradores tipo PFF2 ou equivalentes, e eles devem possuir eficácia mínima na filtração de 95% de partículas de até 0,3μm, lembrando que 1 micrómetro é 1×10−6 m, ou seja, equivale a milésima parte do milímetro.

Os respiradores filtrantes para partículas (PFF) classe 2, N95 ou equivalentes devem ser fabricados parcial ou totalmente de material filtrante que suporte o manuseio e uso durante todo o período para qual foi projetado, de forma a atender aos requisitos estabelecidos nas normas técnicas brasileiras NBR 13698:2011- Equipamento de Proteção Respiratória – peça semifacial filtrante para partículas; e NBR 13697:2010 – Equipamento de Proteção Respiratória – Filtros para partículas.  Os filtros para partículas capturam e retêm as partículas transportadas pelo ar que escoa através das camadas de fibras que os constituem. A eficiência do filtro em uso depende de muitos fatores, que incluem o tamanho, a forma da partícula e a velocidade do ar que passa através do filtro.

Quando um filtro é usado, ele se torna carregado com o contaminante, dificultando a passagem do ar. É importante que o filtro seja trocado antes que a resistência à respiração incomode o usuário.

Lembramos que os filtros para partículas dos respiradores descartáveis não são “meros” filtros como filtro para coar café, existem diversos mecanismos de retenção de partículas suspensas no ar, tais como:

Interceptação Direta: ocorre quando a partícula segue uma linha de fluxo de ar que a coloca em contato com a fibra. Neste mecanismo, a ação de retenção do filtro é influenciada pelo tama­nho da partícula (quanto maior a partícula, maior a eficiência do filtro).

Inércia: ocorre quando uma partícula segue uma direção devido à inércia, mesmo que a linha de fluxo de ar mude de direção. Neste mecanismo, a ação de retenção do filtro é influenciada pelo tamanho da partícula (quanto maior a partícula, maior a eficiência do filtro).

Difusão: ocorre quando a partícula é capturada pelo material filtrante devido ao movimento aleatório exercido pela mesma (quanto menor a partícula, maior a eficiência do filtro).

Atração Eletroestática: ocorre quando uma partícula se adere ao material filtrante por causa da ação eletroestática gerada na diferença de cargas elétricas entre material filtrante e partícula. Neste mecanismo, a ação de retenção do filtro não é influenciada pelo tamanho da partícula.

Considerações Finais

Reforçamos que o uso do Equipamento de Proteção Respiratória (EPR) tem como objetivo principal prevenir a exposição por inalação de substâncias perigosas e/ou ar com deficiência de oxigênio. Quando não for possível prevenir a exposição ocupacional, o controle da exposição adequada deve ser alcançado, tanto quanto possível, pela adoção de outras medidas de controle que não só pelo uso de EPR como previsto na NR-6 (EPI), devendo sempre que possível ser priorizado a hierarquia das medidas (administrativas, coletivas e individuais).

Portanto podemos dizer que se forem os respiradores fabricados conforme as normas técnicas e utilizados conforme orientado nos treinamentos de proteção respiratória, são equipamentos de suma importância para proteger os trabalhadores contra exposição a fontes patogênicas respiratórias.

Lembramos que não se deve tentar realizar a limpeza da máscara descartável ou equivalente, já utilizadas, com nenhum tipo de produto. Os respiradores Peça Semifacial Filtrante (PFF), a máscara N95 ou equivalentes são descartáveis e não podem ser limpas ou desinfetadas para uso posterior e quando úmidas podem perder sua capacidade de filtração.

Por: Marco Aurélio da Rocha