Os trabalhadores rurais desempenham as suas atividades em ambientes de trabalho diferentes daqueles encontrados por trabalhadores de outros setores, estando normalmente expostos a condições climáticas inadequadas, com elevada temperatura, umidade relativa, radiação solar e ventos, que podem influenciar no rendimento do trabalho e causar danos à saúde.
Para se adaptar às condições climáticas adversas, o ser humano possui um sistema termorregulador que permite ao organismo manter a temperatura do corpo constante, em torno de 36,5 ºC. Entretanto, se a temperatura do ambiente externo for muito elevada ou muito baixa, o organismo pode não conseguir manter a temperatura interna constante, ocorrendo uma desregulação térmica. Quando a temperatura interna do corpo ultrapassar a 42 ºC haverá uma alteração na função cerebral e desnaturação proteica, podendo causar a morte. Por outro lado, se a temperatura abaixar de 33ºC, as enzimas param de funcionar levando também o indivíduo à morte.
Sendo assim, existem mecanismos de regulação que permite ao corpo humano conservar ou dissipar o calor, mantendo a temperatura interna constante, independente do ambiente externo. Como principais mecanismos de ganho de calor, cita-se a radiação solar, a atividade física e os efeitos de hormônios que aumentam a temperatura, enquanto como mecanismos de perda de calor, cita-se a evaporação por meio do suor.
As condições climáticas no ambiente de trabalho têm grande efeito sobre o conforto térmico e o desempenho dos trabalhadores, pois quando o clima é desfavorável, ocorrem extenuações física e nervosa, indisposição e fadiga, diminuição do rendimento, aumento dos erros e acidentes de trabalho, além da exposição do organismo às doenças.
De modo geral, trabalho realizado sobre altas temperaturas, normalmente acima de 25 ºC é a situação mais preocupante comparado ao trabalho em baixas temperaturas, pois no primeiro caso, a adaptação leva em torno de duas semanas, devendo ocorrer um aumento progressivo das horas trabalhadas para uma melhor adaptação dos trabalhadores. Além disso, é importante mencionar que nesta condição, ocorre a elevação da temperatura média do corpo, com consequente aumento do ritmo cardíaco e da capacidade de transpiração, sendo melhor a adaptação para os homens com baixa quantidade de gordura no corpo.
As variáveis de maior influência no conforto térmico são classificadas em dois grupos: de natureza ambiental (temperatura do ar, temperatura radiante, umidade relativa do ar, velocidade relativa do ar) e de natureza pessoal (tipo de vestimenta, representada pelo seu isolamento térmico e tipo de atividade física executada, representada pelo metabolismo).
No Brasil, a zona de conforto térmico no trabalho é delimitada pelas temperaturas entre 20 e 24 ºC, com umidade relativa de 40 a 60% e velocidade do ar moderada da ordem de 0,2 m/s, sendo que as diferenças de temperaturas presentes no ambiente não devem ser superiores a 4 ºC. Além disso, deve-se ressaltar que a sensação de conforto térmico de um indivíduo no trabalho é afetada pela idade, vestuário, características individuais, etc.
A Norma Regulamentadora do Ministério do Trabalho e Emprego, NR 15 – Atividades e Operações Insalubres, Anexo 3, estabelece os limites de tolerância para a exposição ao calor, bem como determina que a exposição dos trabalhadores ao calor deve ser avaliada por meio do “Índice de Bulbo Úmido Termômetro de Globo” – IBUTG. O IBUTG é um índice obtido a partir de um equipamento composto por três termômetros: bulbo úmido, bulbo seco e globo que mede a radiação solar. As medições devem ser sempre efetuadas no local onde permanece o trabalhador, tanto em ambientes abertos quanto fechados e na altura da região do corpo mais atingida.
A partir dos resultados de IBUTG encontrados, utiliza-se de tabelas para descobrir se há a ocorrência de sobrecarga térmica no ambiente, classificando o trabalho de leve a pesado e definindo o tempo máximo de exposição dos trabalhadores e as pausas necessárias. O Quadro 1, citado na NR 15 estabelece os limites de tolerância para exposição ao calor, em regime de trabalho intermitente com períodos de descanso no próprio local de trabalho.
Quadro 1 – Limites de Tolerância para exposição ao calor, em regime de trabalho intermitente com períodos de descanso.
No caso de ambiente de trabalho rural com condições climáticas inadequadas e que possam causar o desconforto, algumas medidas ergonômicas podem ser adotadas, propiciando o maior conforto dos trabalhadores, tais como: uso de vestuários adequados e confortáveis, devendo ser de algodão de modo a permitir a evaporação do suor e a troca de calor do corpo com o meio externo; uso de equipamentos de proteção individual apropriado e confortáveis para cada região; estabelecimento de trabalho segundo as horas do dia, de forma a minimizar a exposição dos trabalhadores nas horas mais quentes do dia; estabelecimento de regime de trabalho e pausas de recuperação segundo os valores de IBUTG, devendo as mesmas ser distribuídas durante a jornada de trabalho; e uso de ambientes de trabalho aclimatizado. Recomenda-se ainda o uso de protetores solares e uma adequada hidratação dos trabalhadores durante a jornada de trabalho.
Portanto, percebe-se a importância de oferecermos ao trabalhador rural um ambiente confortável e dentro dos padrões recomendados em relação ao conforto térmico, permitindo a execução de um trabalho contínuo, com maior rendimento, menor índice de acidentes e melhor qualidade.