Avaliação de Contaminação Bacteriana em Laboratórios e Unidades de Saúde
Editor: Sandro Azevedo
Postagem: 2019-08-24T13:01:39-03:00
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O Homem está cada vez mais preocupado em valorizar a saúde e o bem-estar, no entanto, ao contrário do que revela esta realidade, ocorre em determinados ambientes, o descuido com fatores tais como a higiene e a consciência de práticas educativas.

Estudos relacionados a acidentes de trabalho na área da saúde têm sido desenvolvidos desde a década de 70, em consequência principalmente de falta de EPIs, cansaço por excesso de trabalho, mau uso de equipa­mentos e até mesmo armazenamento inadequado de materiais.

A contaminação

A identificação de novos agentes infecciosos, a crescente expansão de infecções e doenças já conhecidas, têm estimulado a revisão das medidas de controle, destacando a utilização de barreiras mecânicas, químicas e ambientais, fundamentadas nas especificidades inerentes aos elementos da cadeia do processo infeccioso.

No Brasil, decorrem vários problemas que afetam a saúde da população, como a contaminação da água, do solo, da atmosfera e a proliferação de vetores, e a saúde dos trabalhadores em função de contato de resíduos. Os problemas são agravados no momento em que ocorre o descaso com o gerenciamento dos resíduos do serviço de saúde. De acordo com dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a estimativa, é de serem coletadas diariamente cerca de 228.413 toneladas de resíduos no Brasil. Em geral, estima-se que 1% destes corresponda aos resíduos da área da saúde, totalizando cerca de 2.300 toneladas diárias. Segundo o IBGE, 74% dos municípios brasileiros depositam o lixo hospitalar a céu aberto, 57% separam dejetos nos hospitais e apenas 14% das prefeituras tratam adequadamente os resíduos dos serviços de saúde, gerando um alto risco de contaminação para a população.

O desafio no tratamento de resíduos provenientes dos serviços de saúde, tem impulsionado a legislação e as políticas públicas para questões relacionadas à sustentabilidade do meio ambiente e preservação da saúde. Atualmente, no Brasil, o manejo dos resíduos de serviços de saúde é regido pela Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 306 de 2004 e pela Resolução CONAMA 358 de 2005. De acordo com a RDC 306/2004, a classificação dos resíduos abrange os seguintes grupos:

a) Resíduos potencialmente infectantes;

b) Resíduos com risco químico;

c) Rejeitos radioativos;

d) Resíduos comuns e recicláveis;

e) Materiais perfurocortantes.

A contaminação laboratorial

Os profissionais da área da saúde, particularmente em hospitais e laboratórios, estão sujeitos a adquirir infecções, principalmente as hepatites B e C, a AIDS e a tuberculose. As duas primeiras incidências podem ser consideradas altas e subnotificadas; a AIDS, ainda pelo aspecto de doença fatal, e a tuberculose, por suas diversas consequências sobre a vida dos profissionais.

Atualmente, mais de 90% de acidentes em laboratório decorrentes de contaminações biológicas, ocorrem devido à deficiência das informações sobre as fontes de perigo, assim como a negligência no respeito às normas de biossegurança. É fundamental que o estudante manipulador de microrganismos, conheça os regulamentos de biossegurança em vigor nas aulas práticas.

As vias de infecção são várias, começando pelas vias aéreas, oral, inoculação direta e mucosas, sendo a maioria dessas contaminações consequentes por uso inadequado dos EPIs, falta de cuidado com material utilizado, e a pressa ao realizar o procedimento. Os acidentes mais comuns não são trágicos, porém, o profissional de laboratório está exposto diariamente a intoxicações e situações nocivas que podem levá-lo a uma lesão, doença ou danos permanentes.

Segundo alguns autores, para a indução de uma doença infecciosa são necessários fatores como: presença de um patógeno, dose de inoculação, virulência do patógeno, suscetibilidade do hospedeiro e uma porta de entrada no hospedeiro. Trabalhadores de laboratórios clínicos que estão expostos a estas condições, possuem uma grande chance de contrair uma infecção.

Dentre as principais vias de transmissão de agentes infecciosos, podem se destacar as mãos. A microbiota das mãos constitui-se de bactérias transitórias e resistentes. A flora transitória que coloniza a camada superior da pele é de mais fácil remoção pela lavagem das mãos e é frequentemente adquirida pelo contato com os doentes, ou com superfícies contaminadas. As mãos dos profissionais de saúde podem se tornar permanentemente colonizadas com uma flora patogênica adquirida no ambiente hospitalar.

Biossegurança

De acordo com estudos em laboratórios que realizam diariamente manipulação de microrganismos, pessoas são expostas a riscos inerentes ao seu trabalho. O mapeamento destes riscos constitui uma importante metodologia para o reconhecimento dos riscos inerentes ao local de trabalho.

Estes riscos têm representado uma importante ameaça à saúde dos trabalhadores, que exercem suas atividades em ambiente laboratorial. O conceito de risco é bidimensional, representando uma possibilidade de um efeito adverso ou dano à saúde. Os fatores de risco podem ser classificados em: físicos (radiação, ruído, vibração e temperatura), químicos (substâncias químicas, poeiras, vapores) e os biológicos (vírus, bactérias e fungos).

Visando minimizar tais riscos, é essencial o estabelecimento de um Programa de Biossegurança específico, que deverá dotar o laboratório de estrutura física, administrativa e técnica compatível com as atividades desenvolvidas, promovendo assim, ações preventivas. Entretanto, somente a utilização de tecnologias e equipamentos adequados, não é suficiente para o controle necessário e garantia da segurança, pois a conduta e o cuidado de cada profissional na execução das atividades são fundamentais.

O ato de lavar as mãos, por exemplo, torna-se essencial, pois é uma medida eficaz de prevenção da transmissão cruzada de microrganismos resistentes a antimicrobianos, além da redução do risco de morbidade e mortalidade, devido a infecções hospitalares. Apesar de evidenciada a eficiência, ainda se observa uma forte resistência em sua adesão após o cuidado do paciente ou manuseio de agentes infecciosos.

A descontaminação do laboratório deve ser realizada visando à distribuição ou remoção de microrganismos de bancadas, artigos e superfícies por meio da esterilização do ambiente, distribuindo também os esporos.  A colonização das mãos, superfícies e artigos, dá-se, na maioria das vezes, por Staphylococcus aureus e bacilos Gram negativos adquiridos durante as mais variadas atividades clínicas.

Estas bactérias podem ser encontradas na forma isolada ou em colônias e podem viver tanto na presença de ar (aeróbias), na ausência de ar (anaeróbias), quanto na forma de anaeróbias facultativas.

As superfícies contaminadas podem servir como reservatório de agentes patogênicos, mas normalmente não são associadas diretamente à transmissão de infecções para profissionais da área da saúde ou pacientes. Mesmo diminuindo o impacto da transmissão através das mãos, a limpeza correta e desinfecção são fundamentais para a redução da incidência de infecções. Dentre os fatores que influenciam na escolha do procedimento de desinfecção das superfícies, são:

a) Natureza do item a ser desinfetado;

b) Número de microrganismos presentes;

c) Resistência do microrganismo;

d) Quantidade de matéria orgânica presente;

e) Tipo e concentração germicida usado;

f) Duração e temperatura do contato com o germicida e, por fim,

g) As especificações e indicações de uso do produto pelo fabricante. Quanto à eficiência dos agentes químicos, o sabão é classificado pela ação menos eficaz seguido do detergente, sendo o agente com maior eficácia o glutaraldeído.

As infecções relacionadas à saúde, atualmente representam uma preocupação não somente dos órgãos de saúde competentes, mas um problema de ordem social, ética e jurídica em face das implicações na vida dos usuá­rios e os riscos aos quais estes estão submetidos.  A higienização das mãos é apontada como a conduta de maior facilidade a ser adotada na prática, contudo não possui adesão generalizada, sendo substituída pelo uso de luvas, que pode ser consequência de maior valorização do profissional de saúde em relação ao desconhecimento da importância e eficácia da higienização das mãos na prevenção da disseminação de microrganismos.

A presença de altos níveis de bactérias, ou a presença de um tipo incomum de microrganismo em um ambiente hospitalar ou laboratorial, indica a ocorrência de fontes de proliferação de microrganismos no interior do ambiente ou deficiência de métodos que possam determinar a destruição dos mesmos. Conclui-se que a presença e a proliferação desses microrganismos, devem-se também em consequência de uma metodologia aplicada de forma errônea de limpeza, ou seja, desinfecção do ambiente onde se manipula microrganismos, como, por exemplo, a bancada de um laboratório, e que, na quantidade encontrada, esses microrganismos podem desencadear processos patogênicos. Contudo, faz-se ainda necessária uma análise mais profunda e complexa de identificação, para, de fato, comprovar que tipos de doenças esse microrganismos podem ocasionar.

Vale ressaltar que algumas bactérias são altamente patogênicas, e, independente da quantidade, podem afetar a saúde do ser humano. A suscetibilidade à contaminação está intimamente relacionada com o estado imunológico do indivíduo, sendo, portanto, questão importante a ser observada à saúde dos trabalhadores,  e às potenciais fontes de agentes biológicos. No ambiente laboratorial, as principais vias de contaminação por agentes biológicos são a dérmica e a respiratória.

Os acidentes mais comuns em laboratório são as colisões devido à falta de espaço na área no laboratório. É prevalente a notificação de acidentes com material biológico entre trabalhadores em laboratórios de análises clínicas. A deficiência das políticas de proteção à saúde do trabalhador, e ao sistema de coleta e disposição final dos resíduos de serviço de saúde, potencializam o perigo de acidentes de trabalho. Quando gerenciados inadequadamente, os resíduos representam um risco para a saúde dos trabalhadores, direta ou indiretamente, especialmente materiais perfurocortantes, principais resíduos associados à transmissão de agravos.

Superfícies tocadas frequentemente por mãos de pacientes ou profissionais da saúde em laboratórios ou hospitais, apresentam uma variedade de patógenos que podem causar infecções. Neste contexto, a limpeza e desinfecção das superfícies são fundamentais, e devem ser realizadas da forma correta com os desinfetantes adequados.

Em busca de resposta do método mais adequado de aplicação do álcool a 70% para descontaminação de superfícies. Um estudo inglês,  publicado em 2009, investigou in vitro, a eficácia de dois métodos de aplicação do álcool em superfície contaminada com microrganismos. Um dos métodos testados foi a fricção com álcool a 70% embebido num tecido por um período de contato de dez segundos, e o outro, pelo método de spray/dry wipe (borrifar o álcool e esfregar com tecido seco). Como resultado, o método por fricção apresentou melhor desempenho na redução da carga microbiana do que o método de spray, o que reflete uma prática comum em nosso meio nos estabelecimentos de saúde. Práticas educativas voltadas à biossegurança, devem ser aplicadas aos alunos e revisadas e cobradas pelos professores. Ressalta-se que, bactérias, fungos, parasitas e vírus, podem estar presentes nas bancadas, sendo que estes têm o potencial de infectar o utilizador da área de trabalho, causando doenças. Isto reforça o emprego de um protocolo de desinfecção, incluindo a aplicação de álcool a 70%.