Glifosato, você já ouviu falar deste nome? Talvez não seja um termo muito familiar nas conversas do dia a dia, mas com certeza, essa substância está mais presente em nossas vidas do que podemos imaginar. É que o glifosato é o herbicida mais utilizado no mundo, a empresa Monsanto investiu no produto e lançou no mercado com o nome comercial de Roundup.
O Roundup é um produto desenvolvido para penetrar nos pontos de crescimento das raízes e rebentos de ervas daninhas e erradicá-las das plantações. A princípio, a ideia é ótima, principalmente para os agricultores que dependem de uma boa plantação para sobreviverem. O fato é que existem controvérsias sobre o uso do glifosato, já que a substância foi associada ao surgimento de câncer em seres humanos.
O caso mais recente aconteceu nos Estados Unidos, na semana passada, quando o júri considerou que o Roundup contribuiu para o surgimento de um linfoma não Hodgkin (LNH) em um aposentado de cerca de 70 anos. O caso ganhou grande repercussão e a Bayer, empresa alemã que comprou a Monsanto e é responsável pela comercialização do produto, nega veementemente as acusações.
No ano passado, a Monsanto foi declarada culpada, e condenada a pagar uma indenização de 289 milhões de dólares a Dewayne Johnson, que desenvolveu o mesmo câncer após exposição ao herbicida. Ao todo, o grupo enfrenta cerca de 11,2 mil processos judiciais envolvendo o uso do Roundup.
No Brasil, o glifosato continua sendo o agrotóxico mais utilizado na agricultura. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), este herbicida não se enquadra nos critérios proibitivos presentes na legislação, uma vez que ele não foi considerado mutagênico, carcinogênico, tóxico para a reprodução, teratogênico, isto é, que causa malformação fetal, entre outros, e, portanto, não há motivos para a proibição de sua venda.
O problema não termina ai, além do consentimento da Anvisa acerca da comercialização do Roundup, vários outros compostos foram liberados. Só em 2018, foram aprovados cerca de 450 registros, um crescimento muito alto, quando comparado, por exemplo, ao ano de 2005, quando foram feitos 91 registros. Já no atual governo, o presidente Jair Bolsonaro, apenas nos dois primeiros meses de mandato, já aprovou 74 registros de produtos ligados a agrotóxicos, o que representa uma média de uma liberação ao dia.
A posição da atual gestão é preocupante, já que os representantes do governo têm apresentado uma postura mais favorável às demandas do agronegócio, ao passo que estão criticando cada vez mais certas políticas ambientais. Além disso, existe o Projeto de Lei 6299/2002, conhecido como Pacote do Veneno que aguarda para ser aprovado no plenário. O PL prevê a flexibilização das regras no uso desses componentes.
De fato, os inúmeros casos, até o mais recente na Califórnia, não representam uma importância direta aqui no Brasil em termo de regulação de agrotóxicos, no entanto, os casos registrados servem para acender um alerta: até que ponto vale a pena arriscar a saúde humana e ambiental em benefício do agronegócio?