O chumbo foi um dos primeiros metais utilizados pelo homem. Existem evidências que apontam o uso desse metal na Ásia Menor 4000 a.C. Por ser usado a muito tempo e intensamente, a história de intoxicação é longa.
Este metal é amplamente utilizado nas indústrias que produzem cigarro, tinta de cabelo, gasolina e encanamentos de distribuição de água. Quando aquecido a uma temperatura superior a 550-560°C, o chumbo emana vapores tóxicos que, ao entrarem em contato com o ar atmosférico, transformam-se em óxido de chumbo.
O saturnismo é o termo conferido à patologia resultante da intoxicação por chumbo. Este termo deriva do deus romano Saturno, uma vez que a população da Roma Antiga acreditavam que o chumbo, considerado por eles o metal mais antigo, foi um presente que Saturno lhes concedeu.
A primeira descrição moderna desta doença foi feita em 1839 por Tanqurel. Este realizou um complexo estudo sobre o saturnismo, sendo que pouco foi acrescentado ao seu quadro clínico.
O chumbo está presente no meio ambiente naturalmente ou em consequência de sua utilização industrial. A média de ingestão diária (adulto) desse metal é de 0,1 a 0,2 mg. Os casos de intoxicação decorrem tanto da exposição ambiental quanto da industrial. Uma vez que o chumbo é uma substância cumulativa no organismo, costuma levar a uma doença crônica e, em certos casos, com episódios sintomáticos agudos que resultam em um efeito crônico irreversível.
Existem duas vias pelas quais o chumbo pode adentrar o organismo:
Respiratória: mais comum em ambientes de trabalho onde os empregados ficam expostos a vapores de óxido de chumbo.
Digestiva: via mais comum.
Também há a possibilidade de contaminação cutânea; todavia, somente os seus componentes orgânicos são capazes de penetrar a pele, como é o caso do chumbo tetraetila.
É de grande valia salientar que a absorção intestinal do chumbo fica na dependência, em especial, de fatores dietéticos, como o estado de jejum, a ingestão de proteínas e da presença de outros elementos, como o cálcio, ferro e fósforo. Deficiência desses últimos eleva a absorção de chumbo e vice-versa, provavelmente em conseqüência da competição destes elementos por um mesmo mecanismo de transporte.
Após ocorrida a absorção do mineral em questão, este alcança a corrente sanguínea, sendo, então, distribuído primeiramente para os tecidos moles, especialmente no epitélio dos túbulos renais e fígado, com parte sendo excretada juntamente com a bile; uma segunda é armazenada, enquanto uma terceira penetra na circulação na forma de fosfato de chumbo. Posteriormente, este último será redistribuído para o organismo, sofrendo deposição nos ossos, dentes e cabelo.
Este metal também apresenta a capacidade de transpor a barreira placentária, tornando os níveis sanguíneos de chumbo do feto iguais aos da mãe.
As manifestações clínicas ocorridas nos adultos são: mudança de personalidade, presença de dores de cabeça, sabor metálico na boca, perda de apetite e incômodos abdominais que culminam em vômitos e prisão de vente. Nessa faixa etária, a lesão cerebral é pouco comum.
Em crianças, habitualmente os sintomas iniciam-se com irritabilidade e com a perda de interesse por brincadeiras. Subsequentemente, surgem abruptamente, sintomas mais severos que evoluem dentro de 1 a 5 dias, como vômitos violentos e persistentes, instabilidade da deambulação, confusão, sono e, por fim, incontroláveis convulsões e coma. Este quadro que indica lesão nervosa é causado principalmente pela edemaciação ocorrida no cérebro. Tanto crianças quanto adultos podem apresentar anemia. Se houver uma redução na exposição ao chumbo, pode haver uma melhora espontânea, piorando novamente quando a exposição retornar.
Comumente, o diagnóstico de intoxicação por chumbo é feito por meio de controles periódicos em indivíduo, especialmente crianças, que apresentam elevado risco de contaminação, como, por exemplo, as que moram em antigas construções com pinturas à base de chumbo. O médico ao reconhecer os sintomas pode pedir exames de sangue que evidenciam a concentração sanguínea de chumbo. Medicação do nível de chumbo na urina no primeiro dia de tratamento, também auxilia na corroboração do diagnóstico. Outros exames também são de grande valia no diagnóstico desta moléstia, como análise de amostra de medula óssea e, em crianças, radiografias do abdômen e de ossos compridos.
O principal para o sucesso do tratamento é remover a fonte de contaminação do chumbo.
Nos casos dos indivíduos que apresentam quadro grave, o tratamento deve ser iniciado anteriormente ao resultado das análises laboratoriais. A eliminação do chumbo presente no organismo é difícil. Todos os tratamentos de intoxicação por chumbo são demorados e necessitam de supervisão minuciosa e, do mesmo modo, pode haver diferentes efeitos colaterais. Existe um fármaco, o ácido dimercaptosuceínico (DMSA), que, quando administrado por via oral, liga-se ao chumbo auxiliando sua excreção pela urina. Os efeitos colaterais mais comuns desse medicamento são: erupção cutânea, náuseas, vômitos, diarréia, perda de apetite, sabor metálico na boca e alterações das funções hepáticas.
Casos nos quais os valores de chumbo são exacerbadamente altos que conferem risco de lesão cerebral, a hospitalização deve ser imediata. Certos medicamentos, como o dimercaprol e o edetato de cálcio dissódico, devem ser administrados por meio de injeções. O tratamento tem duração de 5 a 7 dias consecutivos para que não haja um esgotamento das reservas de outros mineiras necessários para o funcionamento adequado do organismo. Normalmente o paciente necessita receber hidratação por via oral ou intravenosa para evitar uma desidratação, uma vez que o dimercaprol provoca vômitos.
Geralmente, após a interrupção do tratamento com estes fármacos, a concentração sanguínea de chumbo eleva-se, devido a uma nova liberação desse mineral que é encontrado armazenado nos tecidos. A penicilina por via oral pode ajudar na eliminação do chumbo, devendo ser utilizada dois dias depois do tratamento com edatato de cálcio dissódico. É comum fazer a reposição de outros minerais, como zinco, ferro e cobre para compensar o que foi perdido ao longo do tratamento.