Os termos risco e fator de risco, apesar de comumente utilizados no discurso acadêmico e profissional, nem sempre são aplicados na acepção conceitual originária, incorrendo, muitas vezes, em ambiguidades ou superposições. Ora o risco é identificado como um antecedente, ora como consequente.
Especificamente no campo dos riscos psicossociais, adota-se a concepção de risco como um dano à integridade física ou mental de um trabalhador, seja na forma de um transtorno ou doença, seja por lesão ou acidentes de trabalho. A concepção de risco se vincula, neste caso, portanto, ao adoecimento em si.
Já que os riscos psicossociais representam o dano produzido, os fatores que aumentam a probabilidade de ocorrência do dano são denominados fatores de risco psicossociais. Assim, fatores de risco são antecedentes dos riscos a eles associados, ressalva sendo feita que a relação de antecedência e consequência não é linearmente causal, pois os fatores de risco psicossociais interagem entre si, podendo assumir papel moderador, mediador, ou podem agir como proxy de riscos associados.
Os fatores de risco psicossociais estão relacionados à interação dinâmica entre os indivíduos e seu trabalho, compreendendo o desempenho profissional; o controle e autonomia, inclusive em relação às funções, tarefas e atividades realizadas; a forma de organização dos esquemas de produção; a jornada e intensidade do trabalho; às características organizacionais e o ambiente interno e externo no qual as organizações de trabalho se. Estes fatores, quando negativos, relacionam-se e antecedem a um grande número de agravos a saúde do trabalhador, agravos estes que incluem transtornos mentais, acidentes de trabalho, suicídio e abuso de substância, por exemplo.
Os riscos psicossociais, nesta concepção, englobam, portanto, a produção de efeitos deletérios sobre a saúde dos trabalhadores, resultantes da exposição aguda ou crônica aos fatores de risco psicossociais.
Entre os riscos e fatores de riscos mais comuns, podemos destacar o assédio moral, sexual e a violência no trabalho; a adição ao trabalho; o consumo abusivo de substâncias; a corrupção; o estresse; o burnout; os transtornos do humor e de ansiedade; e o suicídio no trabalho, sendo a severidade dos danos ou agravos definidos pela intensidade e tempo de exposição aos fatores de risco. Em contrapartida, quando da existência de fatores psicossociais positivos, ou protetivos, as consequências, segundo especialistas, incluem o bem-estar no trabalho; a satisfação e engajamento; práticas positivas de liderança, por exemplo.
A característica perceptual envolvida na exposição aos fatores de risco psicossociais, em adição aos diferentes níveis que abarcam o fenômeno, implica na necessidade de modelos teóricos que incluam estas dimensões para compreensão de como os fatores organizacionais e do trabalho interagem com os fatores individuais gerando essa percepção. Dentre os modelos aplicáveis a este contexto, o Modelo Demanda-Controle e a psicodinâmica do trabalho atendem a esta necessidade. O Modelo Demanda-Controle apresenta larga utilização neste campo de pesquisa, inclusive em estudos experimentais, além de basear outros modelos. A Psicodinâmica do Trabalho, constitui-se como uma abordagem relevante nos estudos da saúde do trabalhador, além de possibilitar a discussão quanto a experiência subjetiva dos trabalhadores a partir da exposição aos fatores de riscos e aos mecanismos subjacentes a produção dos riscos psicossociais no meio ambiente laboral.
Por: Carlos Manoel Lopes Rodrigues