Relatório da Vale indica risco em barragem de Barão de Cocais
Editor: Sandro Azevedo
Postagem: 2019-05-20T11:46:01-04:00
  0 Avaliações
533 Visualizações

O documento enviado ao Ministério Público de Minas Gerais pela Vale, que mostra o risco de o talude da cava Gongo Soco, em Barão de Cocais, se romper a partir de domingo, foi obtido com exclusividade pela TV Globo.

Segundo o relatório, um radar instalado na cava apontou que existe a possibilidade de deslizamento da estrutura. "As trincas no talude estão evoluindo e os dados de monitoramento demonstram que a movimentação no talude norte da cava está aumentando", diz.

"Caso venha acontecer a ruptura no talude norte, não é possível afirmar se a vibração decorrente desta ruptura poderá causar um gatilho para liquefação da Barragem Sul Superior", conclui.

A engenheira geotécnica Rafaela Baldi reforça que a estrutura que está se movimentando não é na barragem de rejeitos, mas o talude, que é a superfície inclinada de contenção do material da cava. "É comum que parte do talude que fica mais no alto se desprenda. O talude está `pelado’, foi escavado e está solto, lá em cima. Com as vibrações típicas da atividade minerária, esta estrutura vai se desestabilizando e pode cair sobre a cava. Mas, pelo alerta feito, deve ter um problema geológico na área a ser considerado" , concluiu.

Ela explicou que a cava é uma rocha que foi escavada e que, portanto, tem uma estrutura bastante resistente. "Quando a gente fala de cava, cava é material escavado em rocha, ou seja, tem uma resistência muito elevada. Mas, se por algum motivo esta resistência estiver baixa e não segurar o impacto do talude, pode ser que toda a estrutura desça e atinja a barragem, que está abaixo da cava".

De acordo com a Vale, a cava da mina fica a 1,5 quilômetro da barragem e não há "elementos técnicos até o momento para se afirmar que o eventual escorregamento do talude Norte da Cava da Mina Gongo Soco desencadeará gatilho para a ruptura da Barragem Sul Superior". A empresa afirmou ainda que a cava e a barragem são monitoradas 24 horas por dia.

De acordo com o porta-voz da Defesa Civil de Minas Gerais, Tenente Coronel Flávio Godinho, a Defesa Civil está monitorando a região. Ele confirmou que recebeu a informação do deslocamento e da possível ruptura a partir de domingo. "Quando ocorre o rompimento, ocorre de forma abrupta, não dá para calcular a quantidade de material que vai cair, nem velocidade", disse.

A preocupação, segundo Tenente Coronel Godinho, é que a Barragem Sul Superior pode romper por causa do abalo sísmico que a queda do talude pode provocar. "Qualquer movimentação do rejeito, pode fazer fenômeno de liquefação ocorrer, o que inevitavelmente ocasiona o rompimento da estrutura", disse.

Recomendação

O Ministério Público de Minas Gerais expediu, nesta quinta-feira (16), recomendação à Vale para que a mineradora mantenha a população de Barão de Cocais informada sobre os riscos, danos e impactos de um possível rompimento da Barragem Sul Superior. A movimentação pode levar ao colapso da estrutura.

A recomendação foi dada depois que o Ministério Público obteve, da própria Vale, documento que confirma que, caso permaneça a velocidade de aceleração de movimentação do talude norte da Cava da Mina de Gongo Soco, há possibilidade de rompimento da estrutura até o dia 25 de maio.

Alerta

No início de fevereiro, as sirenes da Vale foram acionadas pela primeira vez na cidade, depois que a consultoria contratada pela empresa se negou a dar laudo de estabilidade. A Agência Nacional de Mineração tinha determinado a retirada de 239 moradores das comunidades de Socorro, Tabuleiro e Piteiras.

Em março, a barragem Sul Superior entrou em alerta máximo para o risco de rompimento. As sirenes foram acionadas pela segunda vez, quando o nível de segurança da barragem que estava em 2 foi alterado para 3.