Os gases tóxicos, alguns dos quais sem nenhum odor, podem trazer consequências fatais ao trabalhador, mesmo em baixas concentrações.
O monóxido de carbono – CO – por exemplo, pode ser letal a ¹/10 de 1% e perigoso a ¹/50 de 1%, devido ao acúmulo no corpo quando o trabalhador está exposto de maneira contínua.
Alguns gases, como o gás sulfídrico – H2S -, geram efeito paralisante no sentido do olfato ao penetrar no organismo. Isto faz com que níveis fatais de sua concentração passem despercebidos por causa da total “ausência” de odor. Portanto, a única precaução segura está na adoção de métodos de medição.
Grande parte das mortes ocorridas nos incêndios é produzida pelo CO (monóxido de carbono). Este gás é incolor, inodoro e insípido, estando presente em todos os incêndios. A pouca quantidade de oxigênio e a queima incompleta dos materiais inflamáveis provocam a liberação de grande quantidade deste CO. Apesar de estar sujeita a muitas variações, uma boa regra para se identificar grandes concentrações de monóxido de carbono é observar a cor da fumaça produzida. Quanto mais escura a fumaça, maior é o nível de CO. Fumaça negra é rica em partículas de carbono e monóxido de carbono devido a combustão incompleta.
Monóxido de Carbono
O monóxido de carbono afeta diretamente a oxigenação do sangue humano. A hemoglobina, presente no sangue, combina facilmente com o oxigênio, formando uma combinação química instável chamada oxiemoglobina. Devido a afinidade da hemoglobina com o monóxido de carbono, ela se combina com esta substância, 200 vezes mais rápido do que com o oxigênio. Assim, cada molécula de CO reage com uma hemoglobina presente no sangue, formando um composto estável, o qual é chamado de carboxiemoglobina. Esta situação, a perdurar-se por determinado tempo, levará a uma eventual hipoxia do cérebro e dos tecidos, seguindo-se a morte caso o processo não seja revertido.
Os efeitos do monóxido de carbono sobre o corpo humano são apresentados na tabela 1, sendo que os sintomas decorrentes dependem da concentração do gás no ambiente e do tempo em que o indivíduo fica exposto a esta atmosfera contaminada.
Como o monóxido de carbono é produzido em abundância nos incêndios confinados, outra razão para uma rápida e eficiente ventilação, destes espaços, é a sua inflamabilidade. Com um amplo limite de inflamabilidade, que vai dos 12,5% a 74%, e um ponto de ignição de 609°C, o CO é um dos mais perigosos e destrutivos gases com os quais um bombeiro pode deparar-se em um incêndio.
O monóxido de carbono é o maior agente proporcionador das condições da ocorrência do fenômeno conhecido por “backdraft”, mesmo depois de restabelecida a visibilidade na área confinada, onde tenha ocorrido um incêndio, muitos produtos da combustão, embora invisíveis e sem odor, estão presentes em concentrações perigosas. Além do monóxido de carbono, que sempre está presente após um processo de combustão, outros muitos gases, também tóxicos, podem estar no ambiente confinado, dependendo dos tipos de materiais que se encontravam no local.
Caso haja disponibilidade, um detector de gases é de fundamental importância para verificar as condições da atmosfera do recinto e detectar a presença de possíveis gases que possam trazer resultados maléficos para os bombeiros e vítimas. Uma ventilação bem realizada pode reduzir os níveis de monóxido de carbono e outros gases tóxicos na atmosfera do local, minimizando os seus resultados nefastos.
Tabela 1 - Efeitos do monóxido de carbono sobre o corpo humano
Porcentagem no Ar - Sintomas
0,01% - Nenhum sintoma.
0,02% - Leve dor de cabeça.
0,04% - Dor de cabeça, quando exposto de 1 a 2 horas.
0,08% - Dor de cabeça depois de 45 minutos; náuseas; inconsciência depois de 2 horas.
0,10% - Inconsciência depois de 1 hora.
0,16% - Dor de cabeça, vertigem e náuseas depois de 20 minutos.
0,32% - Dor de cabeça, vertigem e náuseas entre 5 a 10 minutos; inconsciência depois de 30 minutos.
0,64% - Dor de cabeça e vertigem entre 1 a 2 minutos, inconsciência entre 10 a 15 minutos.
1,28% - Inconsciência imediata e perigo de morte dentro de 1 a 3 minutos.
É um poderoso irritante das vias respiratórias, o qual é produzido quando se queimam materiais à base de polietileno ou que contenham celulose, como a madeira e outros produtos naturais, queimando sem chama. Ele é comumente utilizado na indústria farmacêutica, de herbicidas e de gás lacrimogêneo.
Gás Clorídrico
É um gás irritante e incolor, proveniente da decomposição térmica de materiais que contenham cloro em sua constituição, como é o caso do cloreto de PVC (polivinila). Em baixas concentrações, como 0,0075%, produz irritação profunda nos olhos e nas vias aéreas superiores. Na concentração de 1,7%, durante 5 minutos, pode provocar incapacidade física.
Gás Carbônico ou Dióxido de Carbono
É um gás incolor, inodoro e não inflamável, produzido pela combustão do carbono quando há excesso de oxigênio, como ocorre nas “queimadas”, incêndios, queima de lenha, de petróleo, etc.
Se por um lado ele não é irritante, por outro, é asfixiante, pois exclui o oxigênio do espaço confinado. À medida que aumenta a proporção do dióxido de carbono no ambiente, uma pessoa que esteja exposta diretamente a ação deste gás tem o seu sistema respiratório estimulado e sua frequência respiratória aumentada até que, em determinada concentração, a frequência respiratória diminui e os movimentos respiratórios cessam, levando a vítima à morte.
Em ambientes de elevada concentração de gás carbônico, a vítima, exposta à sua ação, tem um cansaço prematuro e pode sofrer um dano maior provocado por outros gases tóxicos existentes no local.
Gás cianídrico - HCN
Trata-se de um gás incolor com um odor característico de amêndoa. É vinte vezes mais tóxico do que o monóxido de carbono. É um gás asfixiante e pode ser absorvido pela pele. O gás cianídrico é produzido pela combustão de produtos naturais, como a lã, a seda e outros sintéticos, como o náilon e a espuma de poliuretano, que contém nitrogênio em sua constituição.
A vítima, ao inalar este gás, tem a respiração entrecortada, espasmos musculares e aumento da frequência cardíaca. Se inspirado em concentração de 0,0135% em relação ao ar atmosférico, pode causar a morte da vítima em 30 minutos; se a concentração for de 0,027%, a morte ocorre quase que imediatamente.
Óxidos de Nitrogênio - NO
São gases altamente tóxicos, liberados durante a combustão de certos plásticos. Devido ao fato do óxido nítrico converter-se em NO2 (dióxido de nitrogênio) na presença de oxigênio e pequena quantidade de água, o dióxido de nitrogênio é a substância que mais preocupa os bombeiros. O dióxido de nitrogênio é um gás irritante para as vias aéreas superiores e pode ter um efeito retardado. Os vapores e a fumaça dos óxidos de nitrogênio têm uma cor marrom avermelhada ou cor de cobre.
Fosgênio
Trata-se de um gás incolor e altamente tóxico, com um odor desagradável que se assemelha ao cheiro de feno mofado. Ele pode ser produzido quando gases refrigerantes, como o freon, que é encontrado com diferentes nomes comerciais (D-12, R-134, etc...), entram em contato com o fogo. A sua ocorrência pode ser esperada, normalmente, em incêndios em frigoríficos, bem como em sistemas de ar condicionado. O fosgênio é um forte irritante do trato pulmonar e o seu efeito danoso pode ser evidenciado mesmo depois de várias horas após a exposição.
Riscos de gases tóxicos
Amônia (NH3)
A amônia é um gás alcalino, oxidante e tóxico. Sua densidade é quase metade da densidade do ar e tem um odor característico. O nível de segurança máxima é 25 ppm (ACGIH) e 20 ppm pela NR 15 e, a sua alcalinidade torna altamente reativos com os gases ácidos e o cloro e, a sua presença em atmosferas contendo outros gases é frequentemente mascarado por este. O nível imediatamente perigoso a vida e a saúde (IPVS) para o gás amônia é de 300 ppm (IDLH).
A amônia é inflamável com um limite inferior de explosividade (LIE/LEL) de 15%. Ele é produzido em grandes quantidades em todo o mundo para fornecer fertilizantes, ureia para resinas, explosivos e fibras (como nylon). É também usado como um gás refrigerante e essa aplicação tem aumentado com o desaparecimento dos CFCs.
Geralmente se utiliza sensores eletroquímicos para detectar esse gás mas também pode ser utilizado detectores por fotoionização (PID).
Limites de exposição ocupacional
NIOSH REL: 25 ppm / TWA, 35 ppm STEL
OSHA PEL: 50 ppm (35 mg/m3) TWA
IPVS / IDLH : 300 ppm
NR 15: 20 ppm (jornada de 48 horas / semana)
Dióxido de Carbono (CO2)
Apesar de expiramos o dióxido de carbono e que o mesmo está presente na atmosfera, em cerca de 400 ppm, o nível de segurança máxima é 5000 ppm (0,5%) e 3900 ppm (NR 15). É produzido durante a combustão e na fabricação da cerveja, destilação e outros processos de fermentação, e é um dos principais constituintes, junto com o metano, de gases de aterro sanitário e de biodigestores. O CO2 apresenta um risco significativo na indústria cervejeira, sobretudo porque o gás é mais pesado que o ar e acumula em níveis baixos. Não tem cor, nem cheiro e não é inflamável. Há algum grau de risco, em lugares lotados, mal ventilados, e este problema é muitas vezes agravado pela deficiência de oxigênio. O CO2 também é utilizado para aumentar o crescimento da planta por meio da elevação dos níveis normais em estufas.
É inodoro e incolor, e difícil de medir na faixa de ppm. Absorção de infravermelho é a técnica de detecção de costume adotada mas também são utilizados detectores óticos de chama (ótica flame detector).
Limites de exposição ocupacional
NIOSH REL: 5,000 ppm TWA, 30,000 ppm STEL
OSHA PEL: 5,000 ppm TWA
IPVS / IDLH: 50,000 ppm
NR 15: 3900 ppm (jornada de 48 horas / semana)
Monóxido de Carbono (CO).
O monóxido de carbono é incolor e inodoro e o gás tóxico mais abundante. Tendo uma densidade semelhante à do ar, mistura-se com facilidade e é facilmente inalado. Ele é conhecido como “assassino silencioso”, em ambientes domésticos. Comparativamente, o CO se liga muito mais fortemente à hemoglobina do que o oxigênio (O2) e faz dele um gás extremamente tóxico e letal.
Qualquer processo onde não há combustão incompleta de combustível orgânico é susceptível a produzir o monóxido de carbono como produto (indesejável). A queima de gasolina, diesel, caldeiras de carvão, gás natural e outros derivados de petróleo, e até mesmo o cigarro produzem CO quando a queima do combustível é pobre em oxigênio. A sua presença em minas é devido à combustão lenta de carvão.
Também é utilizado em grandes quantidades como um agente redutor químico barato, por exemplo, na produção de aço e noutros processos de refinação de metais e de tratamento térmico, e na produção de metanol por meio de reação com hidrogênio.
Geralmente se utiliza sensores eletroquímicos para a detecção desse gás (CO).
Limite de exposição ocupacional
OSHA (PEL):50 ppm TWA
ACGIH (TLV): 25 ppm TWA
NIOSH (REL): 35 ppm, TWA: 200 ppm
NR 15: 39 ppm (jornada de 48 horas / semana)
IPVS / IDLH : 1500 ppm
Sulfeto de hidrogênio (H2S)
O sulfureto de hidrogênio é um gás tóxico muito comum em refinarias de petróleo por ser um subproduto (indesejado) nas reações de quebra das moléculas de hidrocarbonetos. Tem cheiro de ovos podres em baixas concentrações. Em altas concentrações (> 60 ppm) não pode ser sentido devido à paralisia das glândulas olfativas, e a exposição pode levar à paralisia instantânea. O H2S é um pouco mais pesado que o ar, e assim detectores fixos são geralmente montados de 1 a 1,5 metros do solo, ou perto de fontes potenciais de vazamentos.
O H2S também é produzido durante a decomposição de materiais orgânicos e, é muitas vezes encontrado preso em galerias de esgoto ou locais com pouco oxigênio e matéria orgânica em decomposição. É um componente do biogás e encontrado em grandes quantidades em praticamente qualquer lugar em que o esgoto é tratado.
Limites de exposição ocupacional
NIOSH REL: 10 ppm [10 minutos]
OSHA PEL: 20 ppm 50 ppm [10 minutos – pico]
NR 15: 8 ppm (jornada de 48 horas / semana)
IPVS / IDLH: 100 ppm (CDC/NIOSH)
Principais efeitos tóxicos
Em incêndios de grandes proporções e em locais confinados, as vias aéreas são prejudicadas pela inalação da fumaça em alta temperatura e das substâncias tóxicas liberadas no processo de queima. Nesses casos, asfixia é a causa de morte mais provável. Veja como acontece o processo de falta de oxigênio no ambiente e no organismo.
Muitos fatores contribuem para que a morte por asfixia seja a mais rápida no caso de um incêndio, ainda que o dano físico seja o primeiro a ser lembrado.
Isso porque, o processo de combustão dos colchões, madeiras, etc., consome o O2 do ambiente, e o produto dessa queima incompleta é um gás de grande toxicidade: monóxido de carbono (CO). Portanto, à medida que os níveis de oxigênio vão caindo, a liberação de monóxido de carbono aumenta. Acontece que as moléculas de CO têm grande afinidade química com a hemoglobina do sangue (Hb), cerca de 250 vezes maior que a do O2, e se ligam a ela, impedindo o transporte do oxigênio até as células e levando à asfixia.
Os sinais mais comuns da falta de oxigênio são tosse, respiração ruidosa e dificultosa, agitação, palidez, dilatação das pupilas, estado de inconsciência e coloração azulada da face e extremidades (cianose).
Sob altas temperaturas, o poliuretano libera gás cianeto (CN-), que quando inalado, se liga às enzimas de dentro das mitocôndrias das células do organismo, impedindo a célula de utilizar oxigênio e produzir energia.
As vítimas expostas ao calor e ao ambiente tóxico precisam ser examinadas por um pneumologista para investigar outras prováveis complicações além da asfixia, como laringotraqueíte, bronquiolite, pneumonite, síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), entre outras.
Toxidade na Queima de Pneus
Pneus não são fabricados apenas com borracha natural dos seringueiros. Eles são um produto industrial bastante complexo e contém um verdadeiro cocktail de químicos: vários tipos de borracha natural e borracha sintética à base de petróleo, o elemento químico negro de fumo, poliéster e nylon, fios de aço, óxido de zinco e ácido esteárico, enxofre e vários antidegradantes, aceleradores e retardadores. Concretamente um pneu comum contem 27% borracha sintética, 14% borracha natural, 28 % negro de fumo, 17 % de derivados de petróleo e produtos químicos, 10 % aço e 4 % têxtil, que também são produtos químicos.
Por isto, quando se queima um pneu vários gases tóxicos são liberados e tantos outros nascem das chamas, como por exemplo: monóxido de carbono, ácido benzeno, óxido de enxofre, oxidos de metais pesados, furanos e várias dioxinas.
Especialmente as dioxinas e furanos são substâncias perigosíssimas, porque elas são teratógenas (causam má formação fetal), mutagênicas (causam mutações genéticas) e carcinogênicas (causam vários tipos de câncer no corpo). Sem dúvida, as dioxinas estão no top da lista das químicas mais tóxicas da humanidade e podem criar deformações embrionárias horríveis. A dioxina TCDD, por exemplo, é conhecida como a grande vilã dentro do famoso agrotóxico chamado Agente Laranja (Agent Orange), usado pelos Estados Unidos na guerra do Vietnã, que criou sofrimento inexplicável aos milhões de vietnamitas afetados.
“Para que tenhamos uma ideia: a queima de pneus a céu aberto é 13 mil vezes mais mutagênica que a queima de carvão”, escreveu o Deputado Marcos Mullerem, em 2016, na justificativa do seu projeto de lei Nº 2176/2016 para proibir a queima de pneus. E a diretora do Departamento de Qualidade Ambiental e Gestão de Resíduos do Ministério do Meio Ambiente, Zilda Maria Faria Veloso, disse: “Se queimado, o produto (pneu) libera componentes químicos pesados e poluentes classificados pelas organizações internacionais como os mais tóxicos já produzidos pelo homem. Esses elementos não são degradados nem pela atmosfera, nem pelo corpo humano, que desenvolve doenças como o câncer e a infertilidade.”
Uma substância altamente perigosa da fumaça dos pneus também é o benzeno. “Há relação causal comprovada entre exposição ao benzeno e ocorrência de todos os tipos de Leucemia”, disse Danilo Costa, médico da Delegacia Regional do Trabalho de São Paulo na sua publicação “A luta contra a intoxicação pelo Benzeno no Brasil”.
Em conjunto, qualquer pessoa que esteja inalando a fumaça tóxica dos pneus queimados pode ter alergia respiratória, como rinite, tosses e espirros. Mais vulneráveis são ainda crianças, idosos, grávidas e asmáticos. “As pessoas nem imaginam o quanto é tóxico à saúde. Quem tem tendência à insuficiência respiratória fica mais suscetível a ter infecções, a exemplo de gripes, viroses e até a pneumonia”, alerta a pneumologista Fátima Alécio.
Mas dentro deste cocktail de tóxicos da fumaça preta da queima de pneus ou de transportes coletivos cheio de produtos plásticos, tem uma substância ainda mais perigosa e mortal. Um veneno extraordinário chamado cianureto de hidrogênio ou ácido cianídrico ou ácido prússico. Este gás cianídrico é um verdadeiro assassino e já causou a morte de milhares de vítimas envolvidas em incêndios com produtos plásticos. Este tóxico também é a base de um gás conhecido como Zyklon B (Ciclone B) produzido pela empresa alemã “Degussa AG” e usado nas “câmaras de gás” dos campos de extermínio do regime do Hitler, durante a Segunda Guerra Mundial.
Toxidade na Incineração de Lixo
A incineração é a forma mais segura de se livrar de lixos potencialmente perigosos, tais como resíduos hospitalares, que envolvem remédios vencidos e materiais contaminados. Assim, alguns hospitais contêm incineradores próprios.
No entanto, o maior problema da incineração são os poluentes gerados e lançados na atmosfera. O dióxido de carbono, que é produzido em toda combustão completa de materiais orgânicos, é o grande responsável pelo efeito estufa e pelo aquecimento global.
Outros gases produzidos podem ser dióxido de enxofre (SO2) e dióxido de nitrogênio (NO2), que contribuem para a formação de chuvas ácidas. Os polímeros, tais como o PVC (policloreto de vinila) e os poliacrilatos, geram respectivamente HCl e HCN.
Um dos maiores poluentes resultantes da incineração do lixo são as dioxinas, um grupo de compostos organoclorados que são bioacumulativos e tóxicos. O mais perigoso é o 2,3,7,8-TCDD (2,3,7,8-tetraclorodibenzo-p-dioxina), mostrado a seguir:
Essa substância é liberada principalmente na incineração do PVC, que é muito utilizado na confecção de artigos hospitalares. Leia o texto Dioxina para saber mais sobre essas substâncias.
Além disso, se o lixo possuir pilhas que foram descartadas incorretamente, substâncias derivadas de metais pesados também poderão ser geradas, tais como o mercúrio, o chumbo e o cádmio, que são muito tóxicos, mesmo em pequenas quantidades. Essas substâncias são bioacumulativas, carcinogênicas e teratogênicas (podem causar dano ao embrião ou ao feto durante a gravidez), podendo ser absorvidas pela pele, inaladas ou ingeridas.
Toxidade na Queima de Polímeros
Ao longo das últimas décadas observou-se um aumento do uso de polímeros em produtos utilizados pela indústria da construção e de mobiliário em geral. Conseqüentemente pode-se considerar que a fumaça produzida em incêndios nos dias de hoje apresenta riscos diferentes daqueles de algumas décadas atrás. A queima de produtos que têm polímeros em sua composição tem o potencial de produzir rapidamente fumaça densa (aerossóis de partículas de fuligem), calor intenso (vapor d’água), líquidos inflamáveis e gases tóxicos. O monóxido de carbono (CO – CAS 630-08-0) é o gás tóxico mais reconhecido na combustão de polímeros, mas o gás cianídrico ou cianeto de hidrogênio (HCN – CAS 74-90-8), também produto desse processo, tem sido o mais crítico nas intoxicações agudas.
Nas edificações, em geral, encontram-se polímeros tais como poliuretano, cloreto de polivinila (PVC), poliestireno, polipropileno, polietileno, resina uréia-formaldeído, entre outros. Exemplos de produtos que contêm polímeros em sua constituição são: espumas flexíveis (isolamento acústico, enchimento de sofás/colchões), espumas rígidas (isolamento térmico, inclusive de geladeiras), tubulações de água, persianas, recipientes de isopor, vernizes de piso/Synteko®, carpetes, capas de fiação elétrica.
Na análise da informação sobre a termodegradação de cada polímero deve-se considerar a existência de inúmeras variáveis. Os produtos da decomposição térmica dependem de como os polímeros foram fabricados, se contêm pigmentos ou outros aditivos (p.ex., agentes plastificantes, de reforço, estabilizantes, antioxidantes, fungicidas) ou ainda se contêm retardantes de chama, tais como compostos clorados e fosforados. A termodegradação de produtos tratados com retardantes de chama clorados, por exemplo, pode formar ácido clorídrico (HCl – CAS 7647-01-0).
Esse ácido também é um importante agente tóxico originado da combustão de PVC. Os produtos de decomposição térmica também variam em função da temperatura e umidade do ar e da presença de outras substâncias no ar. Os gases comuns, e mais prevalentes, resultantes da combustão de polímeros são dióxido de carbono (CO2 – CAS 124-38-9) e monóxido de carbono.
Porém, todos os polímeros que contêm nitrogênio (por exemplo, poliuretanos, náilons, poli-acrilonitrilas), na combustão dão origem também a cianeto de hidrogênio, óxidos de nitrogênio, especialmente o dióxido de nitrogênio (NO2 – CAS 10102-44-0), e amônia (NH3 CAS 7664-41-7). Estes poluentes também podem ser produzidos, em menor quantidade, na queima de plásticos que não contêm nitrogênio por incorporação de nitrogênio da atmosfera. Outras substâncias tóxicas resultantes da termodegradação de polímeros são nitrilas, benzeno (C6H6 – CAS 71-43-2) , tolueno (C7H8 – CAS 108-88-3), isocianatos, negro de fumo e aldeídos. É interessante notar que certos poluentes ocorrem em maiores quantidades quando da combustão incompleta. Essa condição é mais comum em incêndios em locais fechados, que apresentam baixas concentrações de oxigênio.
As vítimas de incêndios apresentam um ou mais tipos de lesões: traumáticas, térmicas e químicas. Destes, a maior causa de mortes durante ou após o acidente é a lesão química pela inalação da fumaça. Os agentes de dano presentes na fumaça são: materiais particulados, que se depositam em diferentes regiões das vias aéreas de acordo com o tamanho das partículas; agentes de intoxicação sistêmica (já foram identificadas cerca de 150 substâncias tóxicas na fumaça de incêndios). Agentes irritantes respiratórios, que causam reações inflamatórias intensas e prolongadas decorrentes de ação química, como dióxido de enxofre, amônia, cloreto de hidrogênio, cloro (Cl2 CAS 7782-50-5) e óxidos de nitrogênio; e calor que pode produzir lesão térmica por queimaduras, predominantemente na orofaringe.
O contato com o ar quente estimula o fechamento da glote. O ar quente úmido é mais perigoso que o ar quente seco, pois consegue atingir as vias aéreas inferiores sem dissipar o calor. O processo de combustão também pode produzir privação de oxigênio, devido ao seu consumo pelo fogo, e consequente asfixia. A asfixia pode ocorrer, portanto, pelo edema causado pela lesão térmica, pela baixa concentração de oxigênio e pela inalação de gases como o monóxido de carbono e o cianeto de hidrogênio.
Os dois agentes de maior impacto nas intoxicações por inalação de fumaça são o monóxido de carbono e o cianeto de hidrogênio. O diagnóstico da intoxicação por monóxido de carbono é facilmente obtido, mas o mesmo não ocorre com o cianeto. Para minimização de sequelas graves e mortes causadas pela intoxicação por cianeto é necessário o reconhecimento precoce e a administração do antídoto o mais rapidamente possível.
Conclusão
A queima dos resíduos em condições de combustão inferiores às ideais, produz partículas e gases nocivos chamados tipicamente de “cortina de fumaça”, destacando-se o monóxido de carbono (CO), metano (CH4) e outros hidrocarbonetos leves, compostos orgânicos voláteis (COV), como benzeno, e compostos orgânicos semi-voláteis (COSV), incluindo hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAP). Dependendo da fonte, quantidades variáveis de metais, como chumbo (Pb) ou mercúrio (Hg), podem ser emitidos, assim como dibenzenodioxinas-policlorados (PCDDs) e dibenzofuranos-policlorados (PCDFs) ou bifenilos-policlorados (PCBs)
Todos os indivíduos expostos a fumaça, devem receber suplementação de oxigênio a 100% (lembre-se que o ar que respiramos é oxigênio a 21%). Este grande volume de oxigênio, serve para reverter a hipoxemia causada pelas baixas concentrações de oxigênio nos incêndios, e para aumentar a competição pela hemoglobina contra o monóxido de carbônico e o cianeto.