A saúde no ambiente laboral tem sido considerada com menos importância do que a segurança, pois trata-se de uma questão que demanda maior esforço para ser identificada e diagnosticada, todavia, os dois contextos encontram-se intimamente ligados, pois um ambiente de trabalho saudável é também um local de trabalho seguro.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define saúde não apenas como a ausência de doença, mas como a situação de perfeito bem-estar físico, mental e social. (OMS, 1946).
A Constituição da República Federativa do Brasil (1988, p.41), em seu artigo 196 afirma que:
"A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação."
Apesar de toda preocupação acentuada com a qualidade de vida no ambiente de trabalho, grande parte das organizações brasileiras, ainda se encontra distante de um padrão ideal, pois insiste em concentrar-se na visão limitada de que o foco encontra-se exclusivamente na produção e nos custos atrelados a indicadores de aproveitamento, produtividade e qualidade dos produtos ou serviços, desta forma, o que não poderia ser diferente, abre-se uma grande lacuna para problemáticas de saúde nos seus trabalhadores, e aumenta-se os índices de acidentes de trabalho.
Atualmente, a implementação de estratégias e programas de qualidade de vida dentro das empresas, precisam ser vistos como prioridade, pois é notório que a satisfação do trabalhador, não depende exclusivamente de seus proventos, mas consideravelmente, do crescimento pessoal e profissional, além do respeito e da dignidade, hora obscurecidos pela mecanização desenfreada do próprio processo produtivo.
As condições estressantes tornam o indivíduo oprimido no ambiente de trabalho. Por esse motivo, devemos considerar a importância do estudo do perfil do trabalhador e da sua função, o que precisa ser muito bem avaliado, antes mesmo de sua seleção ou início de suas atividades, evitando impactos que possam comprometer a satisfação de suas capacidades, recursos ou necessidades. Além disso, essas condições também podem oferecer uma influência direta na saúde e na segurança do trabalhador.
De modo geral, o estresse se instala quando os estressores ambientais interagem com as características individuais, e acabam resultando em uma interrupção aguda da homeostasia psicológica ou fisiológica do trabalhador, atributos esses, essenciais para o equilíbrio entre as necessidades do trabalhador, e o suprimento das mesmas no mesmo contexto.
Com a globalização e a abertura de um mercado cada vez mais competitivo, as organizações estão sendo obrigadas a suprirem as expectativas da sociedade, e para isso, precisarão centralizar suas atenções para a valorização e o respeito ao ser humano. Portanto, discutir sobre esta temática, é uma tentativa de melhor identificar as variáveis que interferem no comportamento do homem diante das mudanças corporativas e organizacionais do trabalho, e o que na realidade pode ser construído, para aprimorar essa relação, promovendo melhoria na qualidade de vida do trabalhador, e proporcionando assim, melhores condições de produtividade aos seus participantes.
O stress é classificado pela medicina moderna como a doença do século, sendo considerado pela Organização Mundial de Saúde, como uma epidemia global cercada por demandas e pressões causadas pela sociedade, trabalho, escola, família e meio ambiente, além da soma inconteste de outros fatores, tais como obrigações, dificuldades fisiológicas, psicológicas, e responsabilidades, podendo acompanhar-se ou tendo o seu agravamento por fatores como a vulnerabilidade individual de adaptação.
Os profissionais de enfermagem e medicina, Técnicos de Segurança do Trabalho, Biomédicos, Assistentes Sociais, sobretudo, todos aqueles que desenvolvem suas atividades em unidades hospitalares, vivenciam situações que levam ao estresse, pois convivem continuadamente com a dor, sofrimento e morte, e são submetidos a sobrecargas intensas de trabalho, jornadas prolongadas, trabalho em turnos, baixos salários, relações humanas complexas, falta de materiais, de recursos humanos e de insumos, dentre outros fatores, que podem desencadear, ou mesmo potencializar o estresse no ambiente laboral.
O estresse permanente no ambiente laboral pode trazer consequências lesivas à saúde mental e física do trabalhador, tais como o desenvolvimento da síndrome metabólica, distúrbios do sono, diabetes, hipertensão, enfermidades psicossomáticas, síndrome de burnout, depressão, uso de substâncias psicoativas, além de queda na produtividade, absenteísmo, insatisfação laboral e baixa qualidade de vida no trabalho
Portanto, torna-se imprescindível que as organizações entendam que a QVT é a base para o sucesso e o desenvolvimento social, todavia, ela só fará realmente sentido, se trouxer resultados satisfatórios, deixar de ser tratada como um simples programa interno de saúde e lazer, e passar a ser discutida, de uma vez por todas, num sentido mais amplo, incluindo qualidade nas relações de trabalho e suas consequências para a saúde das pessoas e das organizações.
Buscando sintetizar os estágios evolutivos da relação trabalho-saúde, podemos observar que as primeiras preocupações foram com a segurança do trabalhador, para afastar a agressão mais visível dos acidentes do trabalho; posteriormente, preocupou-se, também, com a medicina do trabalho para curar as doenças ocupacionais; em seguida, ampliou-se a pesquisa para a higiene industrial, visando prevenir as doenças e garantir a saúde; mais tarde, o questionamento passou para a saúde do trabalhador, na busca do bem-estar físico, mental e social.
Deste modo, em sintonia com o princípio fundamental da dignidade da pessoa humana, expressamente adotado pela Constituição de 1988, precisamos avançar além da saúde do trabalhador, ou seja, defender a integração do trabalhador com o Homem, o ser humano dignificado e satisfeito com a sua atividade, que tem vida própria, dentro e fora do ambiente laboral, que pleiteia, enfim, qualidade de vida.
“É preciso incitar o aumento das expectativas e a motivação dos trabalhadores, reduzindo assim, não apenas o estresse, mas as doenças provocadas por ele, beneficiando não apenas as organizações e o ambiente laboral, como toda a sociedade.
Por: Sandro de Menezes Azevedo
Presidente/SINTEST-SE
Presidente/ASPROTEST
Segundo Secretário Geral/FENATEST
Idealizador/SAFENATION BRASIL
Conselheiro Estadual de Saúde/Sergipe/Biênio 2021-2023