Efeitos do Ruído no Organismo Humano
Editor: Sandro Azevedo
Postagem: 2019-04-25T12:40:31-03:00
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A exposição ao ruído no ambiente de trabalho é bastante frequente e capaz de provocar vários efeitos à saúde dos trabalhadores.

Esses efeitos podem ser auditivos como também extra-auditivos.

Antes de adentrar nesses efeitos vamos organizar alguns conceitos?

Som e Ruído

Som é a vibração mecânica capaz de ser detectada pelo ouvido humano (ex. cordas de um violão).

E ruído?

Do ponto de vista físico, não há diferença entre som e ruído...

Mas, quanto à resposta subjetiva, ruído, pode ser conceituado como um som indesejado, desagradável ou perturbador.

Assim, todos os sons que ouvimos podem ser considerados ruídos, quando são desagraváveis para os outros indivíduos que os escutam.

Do ponto de vista ocupacional, ruído é aquele som que, dependendo da sua intensidade e tempo de exposição do trabalhador, pode ser capaz de causar algum efeito indesejado sobre à saúde.

Esses danos podem ser de curto, médio ou longo prazo. Exemplo: tiro de arma de fogo, explosões, detonações...

Funcionamento do Aparelho Auditivo

Em síntese, a audição humana se forma com a ação do “aparelho auditivo”.

O aparelho auditivo é formado por um conjunto de estruturas funcionais, que resultam na capacidade de um indivíduo perceber e entender um som.

O aparelho auditivo divide-se em três partes:

- Ouvido Externo;

- Ouvido Médio;

- Ouvido Interno.

O ouvido externo, conhecido como “orelha”, irá receber o som que foi gerado no ambiente.

Esse som irá se propagar através de um pequeno “corredor” (meato acústico externo), até a membrana timpânica (tímpano - faz parte do ouvido médio).

Quando o aparelho auditivo recebe a energia sonora, a membrana timpânica se movimenta.

Esses movimentos serão transmitidos ao ouvido interno, por meio de uma pequena cadeia de três ossículos (que também fazem parte do ouvido médio, assim como o tímpano).

O ouvido interno está localizado na estrutura óssea do crânio. Dentre seus componentes podemos destacar a cóclea.

No interior da cóclea podemos visualizar uma estrutura chamada “órgão de Corti”.

No órgão de Corti encontram-se milhares de células sensórias - células ciliadas. Quando as células ciliadas são normalmente estimuladas pela propagação do som, geram impulsos nervosos, que serão transmitidos ao cérebro, através do nervo auditivo.

Os impulsos nervosos, então, são “decifrados” e o indivíduo irá perceber o som.  Quando a vibração sonora, que estimula as células ciliadas, é resultado do processo acima descrito, podemos falar que ocorreu a “condução aérea” do som.

Quando a vibração sonora, que estimula as células ciliadas, é resultado da vibração direta do crânio e/ou do meato acústico externo, podemos falar que ocorreu a “condução óssea” do som.

Perceba que, tanto na condução aérea quanto na condução óssea do som, o órgão sensitivo final é o mesmo (cóclea e células ciliadas). O caminho percorrido para a estimulação desse órgão que foi diferente.

Para que o aparelho auditivo funcione adequadamente e seja aprimorado, precisa ser estimulado e exercitado. No entanto, poderá ser sobrecarregado se exposto a agentes capazes de lesá-lo.

Efeitos Auditivos do Ruído

A exposição do trabalhador ao risco físico ruído pode provocar três efeitos auditivos:

- Trauma acústico;

- Perda auditiva temporária; e

- Perda auditiva permanente.

- Trauma Acústico

Sons de alta intensidade e curta duração podem provocar uma perda auditiva imediata, permanente e severa, conceituada como trauma acústico. Decorre de uma única exposição a um ruído muito intenso.

Quando ocorre o trauma acústico, todas as partes do ouvido podem ser prejudicadas, em especial o órgão de Corti. Lembrando que órgão de Corti é uma delicada estrutura sensorial da parte auditiva do ouvido interno (cóclea).

O aparelho auditivo apresenta mecanismos que procuram “atenuar” as vibrações que chegam até ouvido interno, reduzindo as chances de lesão.

No entanto, se o indivíduo for exposto a um som de alta intensidade e curta duração (necessário e suficiente para provocar trauma acústico), tais mecanismos não terão “tempo para entrar em ação”, podendo ocorrer a lesão.

Perda Auditiva Temporária

Exposições moderadas a ruídos podem, inicialmente, causar uma perda auditiva temporária.

A perda auditiva temporária é a diminuição, transitória, da sensibilidade auditiva, provocada pela exposição a sons intensos, por curto período de tempo. O funcionamento do aparelho auditivo, nesse caso, é recuperável! Como a própria nomenclatura expõe, há perda auditiva temporária.

O aparelho auditivo retorna, gradativamente, à normalidade depois de um período de relativo silêncio (por exemplo, descanso da atividade que expôs o trabalhador ao ruído).

As literaturas que tratam do assunto, entendem como sendo de 11 a 14 horas, o período de relativo silêncio para a recuperação.

Existe uma recomendação, ditada por normas internacionais, de que é necessário observar 14 horas de repouso acústico, antes de se proceder ao exame audiométrico.

Repetidas exposições ao ruído capaz de produzir perdas temporárias podem gradualmente originar perdas permanentes (as perdas permanentes são descritas como ocorrendo ao longo de anos de exposição ao ruído).

É importante destacar que vários outros fatores podem influenciar na perda auditiva temporária: tempo de exposição do trabalhador, frequência e intensidade do ruído, susceptibilidade do trabalhador...

Se as células sensoriais, importantes para a transmissão do som, forem destruídas e a região ao redor se degenerar, a perda auditiva será permanente.

A audição não se processará normalmente (diminuição permanente da capacidade auditiva), ou deixará de se processar (surdez).

Perda Auditiva Permanente

A exposição continuada do trabalhador a sons com níveis elevados de pressão sonora poderá causar a perda auditiva permanente.

A perda auditiva permanente tem sido conhecida popularmente como “PAIR” (Perda Auditiva Induzida por Ruído).  Se o ruído é ocupacional, denomina-se “PAIRO” (Perda Auditiva Induzida por Ruído Ocupacional). A irreversibilidade é umas de suas características.

Na maior parte das vezes, o indivíduo só percebe a perda auditiva quando esta já está acentuada. A mensuração da perda auditiva é realizada determinando-se limiares auditivos em várias frequências por meio do exame conhecido como “audiometria”.

O exame audiométrico também é realizado em programas de conservação auditiva (PCA) para verificar se a proteção contra o ruído (individual ou coletiva) está sendo adequada.

A PAIR (Perda Auditiva Induzida por Ruído), ainda não é considerada como reversível, embora algumas técnicas cirúrgicas estejam sendo experimentadas.

A percepção inicial de que a audição do trabalhador não está muito boa é geralmente manifestada pela família (percebem “tom de voz” alto, pois o trabalhador passa a ter dificuldades para escutar a própria voz; volume elevado da televisão...).

A queixa mais frequente do trabalhador é o zumbido, que se torna mais perceptível no silêncio da noite.  Dependendo do quanto o aparelho auditivo foi danificado, haverá o comprometimento da inteligibilidade da fala, prejudicando a comunicação.

Além disso, poderá comprometer a capacidade laborativa do trabalhador, nas atividades onde a audição é fundamental (ex.: afinador de instrumentos musicais). Isso irá resultar na incapacidade total e definitiva para o trabalho...

Efeitos Extra Auditivos do Ruído

A exposição ao ruído pode provocar efeitos extra auditivos no trabalhador: fisiológicos, orgânicos, psicoemocionais e comportamentais.  Esses efeitos podem resultar na diminuição da qualidade de vida do trabalhador.

Alguns trabalhadores, durante ou após a exposição a ruído, podem apresentar reações como: vertigens, náuseas, vômitos, dificuldades de equilíbrio e até mesmo desmaios.

Além das reclamações sobre zumbidos e perda auditiva, reclamam também de diversos outros sintomas como: nervosismo, dor de cabeça, insônia e problemas digestivos.  São exemplos de alterações não auditivas em trabalhadores expostos a ruído intenso:

- Problemas de comunicação, que podem levar ao isolamento social;

- Problemas neurológicos, que podem provocar insônia e dores de cabeça;

- Problemas cardiovasculares: aumento de batimentos cardíacos e variações na pressão arterial;

- Problemas vestibulares: vertigens, dificuldades de equilíbrio e desmaios;

- Problemas respiratórios: aumento da frequência respiratória;

- Problemas digestivos: gastrites, úlceras, vômitos, enjôos e perda de apetite;

- Problemas comportamentais e psicoemocionais: irritabilidade, nervosismo, estresse mental, cansaço, ansiedade, redução da libido, mudança de humor, depressão.

- Problemas comportamentais no trabalho: cansaço físico e mental, falta de atenção e concentração, conflitos, acidente no trabalho, piora do rendimento e da produtividade, absenteísmo.

Os problemas acima citados podem ser justificados considerando o fato de que a exposição ao ruído pode gerar diferentes reações no organismo.

Entres elas, podemos citar o aumento da liberação de hormônios que poderiam afetar de forma negativa os sistemas alvos (digestivo, circulatório, respiratório...). Assim, o ruído afeta os trabalhadores de outras formas e não apenas no aparelho auditivo.

SALIBA, Tuffi Messias. Manual Prático de Avaliação e Controle do Ruído. LTr Editora, 10˚ edição, SP, 2018.