Cultura de Segurança: Psicologia da Segurança do Trabalho
Editor: Sandro Azevedo
Postagem: 2019-08-08T14:13:13-03:00
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Na maioria das abordagens, a cultura de segurança deriva do conceito de cultura organizacional à segurança, sendo mencionado, por vezes, que a cultura organizacional influencia a cultura de segurança .

Para muitos autores, a cultura de segurança é o produto dos valores, crenças, normas, atitudes, práticas sociais e técnicas, partilhados pela organização com o objetivo de minimizar a exposição de trabalhadores a condições consideradas perigosas ou potencialmente causadoras de lesões.

A cultura de segurança também foi definida como o resultado das interações dinâmicas entre três elementos: clima de segurança, comportamento de segurança e sistema de gestão de segurança do trabalho. A cultura de segurança está relacionada com as atitudes, percepção e competências do indivíduo (aspetos psicológicos), o comportamento são aspetos relacionados ao trabalho, e o sistema de gestão de segurança do trabalho, são aspectos relacionados com a organização.

Seja qual for a sua definição específica, todas vão de encontro de que a cultura de segurança, é determinada pelas interações entre os fatores sociais e físicos do ambiente de trabalho, bem como pelas percepções e atitudes individuais, e contribui, de forma determinante, para a melhoria da segurança nas organizações e prevenção de acidentes.

A cultura de segurança constitui um eixo fundamental na promoção da saúde dos trabalhadores, na prevenção dos riscos profissionais e, consequentemente, no combate à sinistralidade laboral.

Alguns estudos têm demonstrado, que a tipificação dos acidentes de trabalho, segundo as causas (humanas, materiais e ambientais), a principal causa é o fator humano. Existe um forte consenso de que a cultura de segurança, desempenha um papel importante na sinistralidade laboral. Por vezes, o desconhecimento da perigosidade das situações de trabalho, leva a comportamentos de negligência, ignorando procedimentos de segurança, contribuindo, assim, para as elevadas taxas de sinistralidade.

Baseado nesta premissa, podemos afirmar que a cultura de segurança, influencia positivamente na adoção de comportamentos seguros, de forma a prevenir os acidentes de trabalho.

Psicologia Organizacional e Psicologia da Segurança do Trabalho

A Psicologia Organizacional é caracterizada pela aplicação dos princípios científicos da psicologia no ambiente do trabalho, ou seja, estuda os comportamentos, as relações entre as pessoas e grupos, disposições, motivos, crenças, reações, atitudes, significados, valores e sentimentos no contexto do trabalho e das organizações.

Já a Psicologia da Segurança do Trabalho, é a área da psicologia que se ocupa da conduta humana na segurança, procurando esclarecer como o indivíduo, o grupo, os fatores organizacionais, sociais e ambientais, moldam a dimensão da segurança de todo comportamento humano. A utilização de seus pressupostos teóricos, dá-se nos mais variados contextos, sendo alguns exemplos o trânsito, o esporte, o transporte (ferroviária, rodoviário e aéreo), e no contexto do trabalho.

A área de atuação da Psicologia da Segurança do Trabalho, pode ser dividida em três campos distintos: do diagnóstico, da teoria e da intervenção. No campo teórico, a Psicologia da Segurança, busca explicar e prever os comportamentos dentro do local de trabalho, e estuda não só os comportamentos seguros e inseguros, mas também os fatores organizacionais que influenciam a conduta humana, e como eles podem variar ao longo do tempo e do contexto.

Os processos de diagnósticos são fundamentais, uma vez que oferecem a segurança de se estar trabalhando com fontes de informações confiáveis, evitando dessa maneira, especulações ou evidencias baseadas em histórias pessoais que não necessariamente representam o contexto organizacional. E é a partir dessas informações que um plano de ação, proposta de intervenção ou tomada de decisão deve-se basear.

Dentro do campo da pesquisa em Psicologia da Segurança do Trabalho, o conceito de Clima e Cultura de Segurança, e seus processos de medições, são parte importante para o desenvolvimento de diagnósticos e o embasam teoricamente. Segundo pesquisas, podemos definir Clima de Segurança, como sendo uma situação e suas ligações com pensamentos, sentimentos e comportamentos dos membros de uma organização. É temporal  e subjetivo, e muitas vezes, sujeito a manipulações diretas por pessoas com poder e influência. Já Cultura de Segurança, pode ser definida como sendo a evolução do contexto, dentro do qual uma situação pode ser incorporada. É enraizada na sua história, mantida pela coletividade, e suficientemente complexa para resistir a muitas tentativas de manipulação direta. É a partir desse referencial teórico, e de outros, que se estabelecem as pesquisas de clima e cultura de segurança. Após algumas revisões e modificações nesses processos, muitos autores concluíram que o conceito de clima pode ser feito a partir de três fatores:

a) Atitudes de gestão, ou seja, a percepção dos empregados sobre como a alta administração se preocupa com o seu bem-estar;

b) Ações de gestão, ou seja, a percepção dos empregados sobre a resposta da Alta Administração aos problemas de segurança.

c) Nível de risco, ou seja, a percepção de risco físico dos trabalhadores.

Matriz Cultural

É interessante que a mudança da cultura organizacional em segurança esteja focada em direção a uma evolução na Matriz de Cultura de Segurança. Neste sentido, o trabalho mais recente e completo desenvolvido até o momento, é o do programa Hearts and Minds , desenvolvido pelo Energy Institute de Londres em parceria com a Shell. Ele trabalha com um plano de intervenção que se propõe a desenvolver os comportamentos seguros, tanto da liderança quanto da força de trabalho, e da empresa em si; inclui a avaliação das organizações a partir da Teoria da Matriz de Cultura de Segurança, em que tais organizações podem ser classificadas em 5 níveis, a partir da realização da pesquisa qualitativa. Os níveis são: Patológico (o mais básico de todos, onde a segurança é uma das menores preocupações da empresa, a produção é a maior, e os acidentes são tratados como responsabilidade unicamente da vítima); Reativo (em que a vítima ainda é tratada como responsável única pelo acidente, cada um cuida de si próprio, e onde as preocupações com melhorias de segurança, só acontecem após um acidente grave); Calculador (um nível intermediário, onde a segurança é considerada importante, existem programas de incentivo a redução de taxa de acidentes, que são percebidos como falhas no “sistema”, mas há uma limitação na interação entre aqueles que fazem as regras de segurança e a força de trabalho, o que acaba por gerar a opinião da força de trabalho, de que a segurança mais atrapalha do que ajuda); Pró Ativo (onde a gestão percebe que possui alguma responsabilidade sobre os acidentes, a segurança é considerada uma prioridade e as habilidades dos funcionários são valorizadas dentro da gestão de segurança), e o Generativo (onde a preocupação com a segurança é prioridade máxima, os sistemas e procedimentos de segurança são revisados com frequência, os funcionários cuidam de si próprios e dos outros também, e qualquer acidente fatal é visto como uma perda de um membro da família). O objetivo da identificação do nível de cultura de segurança da organização, seria o de facilitar o desenvolvimento de um plano de ação que atendesse as necessidades da empresa, dentro das contingências que influenciam seu desempenho de segurança.

ZANELLI C., ANDRADE J. E. B. e BASTOS A.V.B.  Psicolgogia, Organizações e Trabalho.