Produzir alimentos para os mais de 7 bilhões de habitantes do planeta não é tarefa fácil. Por isso, o avanço tecnológico é especialmente bem-vindo quando, além de aumentar a produção, consegue reduzir os desperdícios, humanizar o trabalho no campo e diminuir o uso de agrotóxicos (inseticidas, herbicidas e fungicidas).
Hoje, já é possível utilizar nas plantações equipamentos sofisticados como drones, robôs, softwares ou sensores de raios infravermelhos. Esses recursos auxiliam o agricultor a incrementar a agricultura sustentável, que respeita o meio ambiente e seus recursos naturais.
O Brasil é campeão no uso de agrotóxicos, com todas as consequências danosas que isso traz ao homem, aos animais e ao meio ambiente. Mas a pulverização eletrostática surge como uma alternativa promissora para a redução na quantidade de pesticidas numa plantação, bem como na diminuição das perdas.
Esse sistema carrega eletricamente as microgotas geradas nos bicos de pulverização dos aplicadores de agrotóxicos, fazendo com que sejam atraídas para as plantas. Estudos mostram que é possível reduzir mais de 50% dos ingredientes ativos recomendados nas aplicações, sem diminuir a eficácia. Além de aumentar a eficiência no controle, a pulverização eletrostática reduz os efeitos dos inseticidas sobre os organismos que vivem no solo, porque as perdas para o terreno chegam a ser 20 vezes menores que numa pulverização convencional.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) vem estudando a pulverização eletrostática há mais de duas décadas. Após anos de busca incessante para o aperfeiçoamento dessa tecnologia (inclusive a redução das perdas na evaporação), ela conseguiu desenvolver um sistema de baixo custo para a conversão de bicos aplicadores convencionais em bicos eletrostáticos. Um de seus departamentos, a Embrapa Meio Ambiente, já está oferecendo a tecnologia para empresas interessadas na sua comercialização.
A empresa alerta que, embora existam equipamentos similares desenvolvidos e comercializados no exterior, nem todos produzem o efeito eletrostático real. Isso ocorre porque eles ou não geram gotas com nível de carga suficiente para melhorar a deposição nas plantas, ou o tamanho das gotas produzidas não é adequado para uso com carga eletrostática.
Direto no ponto
Outra prática agrícola relativamente recente no Brasil é a agricultura de precisão (AP), que reúne tecnologias para tornar as atividades da lavoura mais acuradas, automatizadas e independentes. Entre outras ferramentas, a tecnologia da informação é utilizada para fazer um mapeamento detalhado de determinada área, avaliando o solo, o clima e outras variáveis que influenciam no rendimento do cultivo. A partir dessa análise, é possível fazer um diagnóstico das necessidades específicas e determinar as melhores alternativas, sempre respeitando as características singulares de cada região.
Isso significa que, em vez de cuidar do todo da sua plantação, o agricultor cuida de partes. A grande vantagem dessa estratégia é setorizar o uso de inseticidas, realizando pulverizações pontuais nas áreas indicadas. Assim, os cuidados ficam restritos a determinados trechos, evitando aplicações abrangentes e desnecessárias.
O uso de drones (equipamentos aéreos teleguiados) propicia a realização de sensoriamento remoto por meio das imagens coletadas e fazer uma estimativa de toda a área produtiva. É possível analisar a saúde das plantas e culturas e encontrar pragas e locais de baixa produção. Assim, o monitoramento aéreo permite identificar os locais que precisam ser recuperadas, analisando o estado da cultura.
Através do mapeamento aéreo com o uso de drones é possível identificar diferentes áreas para o manejo. A captação de imagens permite analisar trechos com maior e menor quantidade de plantas daninhas e possíveis problemas com a saúde dos vegetais.
Para isso, a moderna tecnologia faz o uso de drones produzidos em duas versões. A primeira utiliza um drone equipado com câmeras especiais multiespectrais, que produzem informações decodificadas e analisadas por softwares. O segundo tipo de drone, dotado de um tanque, pode fazer pulverizações em locais específicos.
Drones polivalentes
Sediada em Beijing, na China, a TT Aviation Technology (TTA) é uma fabricante de drones que possui uma linha especial de aparelhos destinados ao uso na agricultura. Os drones agrícolas da empresa podem ser usados de diferentes maneiras, tais como na pulverização, na semeadura e na proteção das plantas. Equipados com câmeras e dispositivos de alta tecnologia, esses aparelhos podem monitorar doenças, pragas, bem como a necessidade de irrigação e aplicação de fertilizantes.
O sistema de coleta e manejo de informações de cultura da TTA se baseia no monitoramento do estado nutricional ou pragas da cultura por câmeras multiespectrais transportadas pelo drone. Um pacote completo de dados é coletado e analisado, trazendo informações sobre o crescimento da cultura, o que ajuda os agricultores a usar fertilizantes e pesticidas de maneira racional.
No Brasil, a TTA é representada pela Hagra, importadora dos drones e demais equipamentos destinados à agricultura. Segundo Bon I Kuo, diretor comercial da empresa, seus drones são perfeitos para grandes e médias plantações, diminuindo as aplicações de agrotóxicos e evitando o contato do ser humano com o produto. Equipados com sensores de altura, esses aparelhos conseguem chegar a locais de difícil acesso e com desnível de solo.
Os pesquisadores da TTA também estão estudando maneiras de os drones realizarem o controle biológico de pragas, sem o uso de inseticidas. As novidades tecnológicas para o campo não param por aí. O fabricante de tratores John Deere, um dos maiores do mundo, comprou por US$ 305 milhões a startup Blue River, que produz robôs capazes de identificar plantas indesejáveis e eliminá-las com jatos certeiros de herbicidas. Isso evita que herbicidas e outros produtos químicos, como pesticidas, sejam aplicados a esmo em toda a plantação.
Os robôs são rebocados por um trator comum, como o equipamento de pulverização convencional. As câmeras que levam a bordo lhes permitem distinguir a plantação das ervas daninhas. Desse modo, é possível reduzir o uso de herbicidas em até 90%.
Economia pelo mapeamento
O robô Mirã, desenvolvido pela Embrapa Instrumentação e pelo Laboratório de Robótica Móvel da USP de São Carlos (SP), analisa solos (estima a quantidade de matéria orgânica no terreno, a fertilidade e o pH, escala que indica se a substância é ácida ou básica) e plantas (analisa a nutrição e detecta doenças). Com base nessa análise, o robô permite um mapeamento preciso da lavoura, gerando uma grande economia de insumos a serem aplicados. A tecnologia é semelhante à do robô Curiosity, que encontrou evidências de água em Marte.
Em Cambé, no Paraná, o robô da Tropical Melhoramento & Genética faz o trabalho de melhoramento genético da soja, avaliando e selecionando as plantas diretamente em seu DNA. Com o robô, a prática de análise e seleção de plantas saltou de 500 para 10 mil por dia, o que equivale a um aumento de 2.000% em produtividade.
Por sua vez, o robô BoniRob, criado pela multinacional de engenharia e eletrônica Bosch, utiliza a tecnologia de reconhecimento de folhas em campos de cenoura. Desse modo, o aparelho pode distinguir entre as cenouras e as ervas daninhas, retiradas mecanicamente por ele com a ajuda de uma vara.
A Green, do Reino Unido, desenvolveu uma colheitadeira de morangos que pode escolher a fruta mais rapidamente do que os humanos. Baseia-se na visão estereoscópica com câmeras RGB para capturar a profundidade, mas são seus poderosos algoritmos que lhe permitem escolher um morango a cada dois segundos (as pessoas podem escolher 15 a 20 por minuto).
No entanto, ainda existem obstáculos para a comercialização de robôs coletores de frutas e legumes. Eles precisam ser aperfeiçoados para conseguir selecionar e escolher os produtos em meio a uma grande variedade de formas, tamanhos e cores.