O Calor Extremo e a Reconfiguração dos Modos de Trabalho
Editor: Sandro Azevedo
Postagem: 2024-04-05T15:02:36-03:00
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As recentes ondas de calor têm despertado o mundo para as consequências das mudanças climáticas na vida de todos. Essas alterações no clima também podem ter sérias implicações na rotina dos trabalhadores.

Quais os efeitos do calor no ambiente de trabalho?

O aumento da temperatura, seja decorrente das ondas de calor, seja devido à exposição a outros agentes, pode desencadear uma série de efeitos adversos na saúde dos trabalhadores. Isso inclui desidratação, exaustão por calor, cãibras e, em casos mais graves, o estresse térmico.

O que é estresse térmico?

O estresse térmico ocorre quando o corpo humano é exposto a condições ambientais que excedem sua capacidade de regular a temperatura interna. Isso pode ocorrer em ambientes muito quentes ou muito frios, onde a capacidade do corpo de dissipar calor é desafiada, aumentando o risco de adoecimento.

Além disso, essas alterações na temperatura ambiente podem contribuir para a diminuição da concentração e aumentar o risco de acidentes no local de trabalho.

O que a NR-15 fala sobre calor?

A Norma Regulamentadora n.º 15 (NR-15) apresenta diretrizes a serem adotadas em atividades ou operações insalubres, ou seja, desempenhadas acima do limite de tolerância a determinados agentes que podem causar danos à saúde dos trabalhadores.

No anexo 3 da norma, encontramos as orientações para atividades insalubres “decorrentes da exposição ocupacional ao calor em ambientes fechados ou ambientes com fonte artificial de calor”.

Porém, para descobrir o nível de calor em algumas aplicações industriais, é preciso considerar algumas variantes que interferem na sensação de calor, como:

- Umidade do ar no ambiente;

- Velocidade do ar;

- Radiação térmica.

Por esse motivo, a norma orienta o uso do Índice de Bulbo Úmido – Termômetro de Globo (IBUTG) para determinar a sobrecarga térmica no ambiente de trabalho, uma vez que as medidas de temperatura (Celsius e Fahrenheit) não são eficientes para detectar a sensação térmica em ambientes industriais.

Cabe ressaltar que esses limites visam proteger os trabalhadores dos efeitos nocivos do calor. Longos períodos de exposição a altas temperaturas podem causar sintomas como:

- Exaustão;

- Desidratação;

- Problemas cardiocirculatórios;

- Náusea;

- Queimaduras;

- Ansiedade;

- Entre outros.

Como manter a temperatura do ambiente mais confortável?

Manter um ambiente de trabalho seguro e saudável durante as ondas de calor exige uma abordagem educativa, envolvendo todos os níveis e setores da empresa.

Primeiramente, todos os colaboradores devem ser informados sobre os riscos associados ao calor excessivo e treinados para reconhecer os sinais de estresse térmico.

É necessário também promover a conscientização sobre a importância do uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) adequados, como roupas e luvas térmicas, máscaras e capuz, dentre outros, além de incentivar a hidratação constante, é claro.

A flexibilidade nos horários de trabalho e a programação de tarefas intensivas para períodos mais frescos do dia também são práticas que contribuem para a proteção dos trabalhadores, bem como a adequação do ambiente de trabalho, com áreas de descanso e ventiladores.

As atividades que oferecem maior risco 

Um relatório da Organização Internacional do Trabalho mostra que o calor extremo impacta na produtividade e no trabalho digno em praticamente todos os países do mundo e afeta todos os setores da economia. Os riscos são maiores, porém, em atividades realizadas ao ar livre e que envolvem trabalho físico, como: 

- Agricultura

- Construção civil

- Trabalho de reparos de emergência

- Transporte

- Turismo

- Esporte

Segundo a entidade, a agricultura e a construção civil são atividades especialmente vulneráveis, pois há uma exposição contínua ao sol e ao calor, o que aumenta o risco de o trabalhador desenvolver algum tipo de doença crônica relacionada ao trabalho, como doenças renais ou câncer de pele. 

“Vendedores ambulantes e entregadores que usam bicicleta ou moto são especialmente vulneráveis, porque o asfalto aumenta a sensação de calor”, afirmou Mayara Floss. 

De acordo com a Organização Internacional do Trabalho, temperaturas de até 26°C são consideradas confortáveis e seguras para atividades laborais ao ar livre. Acima disso, há riscos de estresse por calor e redução da capacidade de trabalho. 

5 milhões é o número de pessoas que morrem anualmente no mundo por causa de temperaturas extremas, diz a Cool Coalition, entidade global para resfriamento eficiente e ecológico do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente 

O aumento das denúncias no Brasil 

Segundo o Ministério Público do Trabalho, as ondas de calor aumentaram as queixas sobre exposição ao calor excessivo e de impactos à saúde no Brasil.

Embora o órgão não tenha informações precisas sobre o número de denúncias envolvendo o tema, a procuradora Cirlene Zimmermann, coordenadora nacional de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho e da Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora, disse que há um “número muito expressivo de casos” . 

Zimmermann afirma que as denúncias vêm principalmente de trabalhadores rurais, da construção civil e motoristas de ônibus e caminhões, além de empregados do comércio e de supermercados. Eles disseram ao órgão que tiveram problemas como desidratação, mal-estar, tontura, desmaios, dor de cabeça e esgotamento físico ocasionado pelo calor excessivo e ambiente de trabalho inadequado. 

Os danos à produtividade

Projeções da Organização Internacional do Trabalho indicam que o estresse por calor vai reduzir em 2,2% as horas de trabalho em todo o mundo até 2030. É uma perda de produtividade que equivale ao rendimento de cerca de 80 milhões de postos em tempo integral.

A estimativa, no entanto, é conservadora, e leva em conta que o mundo conseguirá não exceder a temperatura global em 1,5°C — uma meta que tem se tornado menos possível na medida em que países não atuam para reduzir suas emissões de gases causadores do efeito estufa no ritmo necessário. 

De acordo com o estudo, a construção civil e a agricultura são os dois setores que serão mais severamente afetados pelas ondas de calor extremo. 

No Brasil, a construção civil notou uma queda no rendimento médio dos trabalhadores em 2023 por causa do calor e do sol excessivo por períodos mais longos, algo semelhante ao que ocorria nas estações chuvosas, quando obras de infraestrutura precisavam ser paralisadas. 

60% é a estimativa de perdas de horas trabalhadas no setor agrícola até 2030, por causa de estresse por calor, segundo a Organização Internacional do Trabalho

Conclusão

Em suma, a gestão eficaz da temperatura ambiente é essencial para promover a saúde e a segurança no trabalho, mitigando os riscos associados ao calor.

Fonte: serconmed.com.br

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