O zinco é um metal e também um mineral essencial. Pouca toxicidade ocorre com sua suplementação. A ingestão de até 10 vezes a ingestão diária recomendada, não produz quaisquer sintomas, e outras espécies animais também não têm toxidade significativa associada ao zinco. A maior parte dos casos descritos de intoxicação foi relacionada a alimentos ou bebidas contaminados com o mineral. Outras fontes potenciais de contaminação são extração de metais e contaminação por bombas militares de fumaça.
O zinco é absorvido principalmente no duodeno e no jejuno e, em menor grau, no íleo e no intestino grosso. Durante a digestão, o zinco na dieta é liberado e forma complexos com diferentes ligantes, como aminoácidos, fosfatos, ácidos orgânicos e histidinas. Os complexos de zinco-ligante são, então, absorvidos pela mucosa intestinal por um processo ativo e passivo, e a circulação portal transporta o mineral para o fígado.
O zinco é necessário para a função biológica de mais de 300 enzimas. Ele está diretamente envolvido na catálise de enzimas, que controlam muitos processos celulares, incluindo síntese de DNA, crescimento normal, desenvolvimento cerebral, resposta comportamental, reprodução, desenvolvimento fetal, estabilidade de membranas, formação óssea e cicatrização de feridas.
Devido às suas propriedades físico-químicas, o zinco também desempenha papéis estruturais e funcionais em várias proteínas envolvidas na replicação do DNA e na transcrição reversa e é crítico para a função de várias metaloproteínas. O controle homeostático da absorção de zinco é regulado pela metalotioneína, uma metaloproteína que liga o cobre e outros cátions divalentes.
A absorção de zinco pode ser prejudicada na insuficiência pancreática. As enzimas pancreáticas são necessárias para a liberação do mineral na dieta, e os sucos pancreáticos podem conter ligantes complexos de zinco. O zinco é transportado ligado à albumina, sendo absorvido pelos tecidos periféricos, principalmente ossos e músculos, e pelo fígado, onde pode ser armazenado como metalotioneína. A principal via de excreção de zinco é o trato gastrintestinal. Até 10% do mineral circulante também é excretado pela urina.
Manifestações Clínicas
A ingestão aguda de 1 a 2 g de sulfato de zinco pode produzir quadro gastrintestinal com náuseas, diarreia, dor abdominal e vômitos associados à irritação e à corrosão do trato gastrintestinal, e os pacientes ainda apresentam gosto metálico na boca. Na década de 1960, foram descritos diversos casos de intoxicação por zinco por uso de alimentos e água que estavam armazenados em estoques galvanizados. Grandes doses de compostos do mineral também podem produzir insuficiência renal aguda, causada por necrose tubular ou nefrite intersticial. Outros sintomas descritos incluem mialgias, convulsões, tosse, febre e calafrios. Alguns pacientes podem apresentar quadro secundário de hepatite com icterícia e dor em hipocôndrio direito.
O zinco pode interferir na absorção de cobre, e a alta ingestão do primeiro (> 150 mg/dia) pode levar à deficiência do segundo, que é a principal manifestação da toxicidade crônica pelo zinco. O zinco não costuma ter toxicidade crônica significativa, mas já foi descrita associação com leucopenia, neutropenia e anemia sideroblástica.
A Etiologia de Envenenamento
As causas de intoxicação são em caso de inalação de vapores de zinco. Na maioria dos casos, substâncias tóxicas penetram através da mucosa do sistema respiratório. Máquina de soldadura também pode servir como uma fonte de envenenamento.
O excesso de zinco no organismo pode ocorrer quando o limite de concentração exceder 200 mg por dia.
Diagnóstico
A toxicidade por zinco é rara; assim, existe pouca validação no diagnóstico dessa situação. Sintomas clínicos compatíveis associados com história de exposição podem ser suficientes para o diagnóstico, e a dosagem sérica do mineral pode ajudar a corroborar o diagnóstico.
Manejo
O tratamento para a toxicidade por zinco costuma ser apenas de suporte, embora sua quelação com edetato dissódico de cálcio (EDTA)tenha sido usada em alguns casos de toxicidade grave.
Por: Rodrigo Antonio Brandão Neto
Médico Assistente da Disciplina de Emergências Clínicas do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP