As frequentes notícias sobre aumentos nos preços dos planos de saúde têm deixados usuários e empresas em estado de alerta. Só em 2018, por exemplo, os planos coletivos aumentaram de 15% a 19%. Já os individuais e familiares só pararam de subir após decisão judicial, que fixou em 10% o reajuste máximo neste ano. Com a entrada desse gasto extra nos planejamentos financeiros das empresas, foi necessário procurar meios para economizar.
O documento Saúde Suplementar: uma agenda para melhores resultados, produzido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e entregue aos candidatos à presidência, mostra como os empresários são um dos principais financiadores da saúde complementar no país. Para se entender qual o montante gasto, 9,1% do PIB brasileiro de 2015 foi utilizado para consumo final de bens e serviços de saúde – seja pelo Governo Federal (43% do total) ou pelas próprias famílias e empresas (57%).
Além disso, cerca de 80% dos beneficiários de planos de saúde privados – em um universo de 47,3 milhões de pessoas, em 2017 – têm planos coletivos empresariais ou por adesão. E cabe ao setor industrial financiar, parcial ou integralmente, quase 22% dos planos privados do país, o equivalente a 10,2 milhões de beneficiários. Em algumas indústrias, isso já representa 12% dos gastos totais com empregados.
O tema, porém, é tratado com cautela pelos empregadores. A ideia não é reduzir os benefícios do trabalhador, mas sim encontrar soluções para desonerar a folha de pagamento. Para isso, é necessário fazer investimentos na área de saúde e segurança do trabalho.
Um exemplo é o do Grupo GPA, que criou uma linha 0800 para ouvir as queixas de saúde dos seus mais de 140 mil funcionários e 115 mil dependentes. Em entrevista para o Valor, o diretor de RH do Grupo, Frederico Lopes, conta que ação tem gerado bons resultados. “Conseguimos antecipar e orientar por telefone cerca de 80% dos casos e reduzir idas desnecessárias ao hospital.”
As empresas que investem diretamente na saúde e no bem-estar do colaborador também apresentam ganhos econômicos significativos. E engana-se quem pensa que é necessário realizar ações grandiosas para isso. O financiamento de mensalidades na academia, opções mais saudáveis nos cardápios e mudanças de comportamento contribuem para que haja menos consultas médicas e, consequentemente, menos gastos. “Trabalhar a saúde é muito mais viável e mais econômico do que trabalhar a doença”, analisa Almir Ribeiro Neto, presidente da Associação Brasileira para a Promoção da Alimentação Saudável, em entrevista para o G1.
Outro ponto de melhoria é a gestão das informações médicas dos colaboradores. Uma matéria do Valor mostrou que um banco de dados criado pela Volkswagem há dois anos já conta com 200 indicadores diferentes e 59 mil pessoas cadastradas. Esse levantamento ajudou a identificar, por exemplo, que 4% a 5% dos procedimentos médicos não deveriam nem ter sido indicados – o que geraria uma grande economia para a fábrica.
Recomendações da CNI
No documento elaborado pela CNI, são feitas seis recomendações aos presidenciáveis para promover a economia dentro do cenário de saúde complementar:
1. Fazer a remuneração dos prestadores de saúde não mais pelo número de procedimentos realizados, mas sim pelos resultados obtidos.
2. Criar ações para reduzir a desjudicialização na área de saúde e fortalecer o entendimento dos magistrados sobre o tema.
3. Dar maior foco na prevenção, criando programas de atenção primária, de preferência que contenham assistência integrada e combatam dores crônicas não transmissíveis.
4.Implementar metodologias de avaliação de tecnologia em saúde (ATS) para aperfeiçoar o processo de incorporação de novas tecnologias no rol da ANS.
5. Basear-se sempre em evidências empíricas, com modelos econômicos de gestão clínica para propiciar a comparação entre os resultados e os custos associados à sua implantação.
6. Disponibilizar os dados dos usuários e contratantes, de modo a melhorar a gestão da saúde populacional – resguardando, claro, a proteção à identidade dos pacientes.