No meio rural, os trabalhadores normalmente executam as suas atividades em locais abertos, expostos a condições ambientais desfavoráveis em relação ao conforto térmico, luminosidade, ruído, vibração, gases de exaustão e poeiras, bem como, manuseiam máquinas portáteis e ferramentas que podem demandar elevado esforço físico e adoção de posturas inadequadas. Todas estas situações inadequadas de trabalho podem causar o desconforto, reduzir o desempenho, aumentar os riscos de acidentes e provocar danos consideráveis à saúde dos trabalhadores, além de tornar susceptível o aparecimento de lesões por esforços repetitivos e doenças osteomusculares.
Por isso, a ergonomia como ciência procura a adaptação confortável e produtiva do trabalho ao ser humano, sendo que, atualmente, a ergonomia deve envolver não apenas o homem e o seu local de trabalho, mas também, todos os aspectos que os trabalhadores necessitam para o desenvolvimento de suas tarefas, tais como: máquinas, ferramentas, ambiente físico, mobiliários, sistemas de produção, organização do trabalho e os equipamentos de proteção.
No caso de situações inadequadas em relação aos fatores do ambiente de trabalho (condições climáticas, luminosidade, ruído, vibração, gases de exaustão e poeiras), a aplicação somente das recomendações ergonômicas podem não ser suficientes para solucionar todos os problemas relacionados aos trabalhadores e o seu local de trabalho. Portanto, torna-se necessário o uso dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) como forma de complementação para uma proteção mais eficaz dos trabalhadores em relação aos aspectos da segurança e saúde, dentre os quais cita-se:
Vestuários: No meio rural, os trabalhadores desenvolvem as suas atividades sob condições climáticas adversas em termos de temperatura, umidade relativa e radiação solar. E para que os trabalhadores possam adaptar-se nestas condições adversas, o corpo humano depende da evaporação do suor para a manutenção da temperatura corpórea. Porém, muitas vezes, os EPIs podem recobrir todo o corpo dos trabalhadores, interferindo negativamente na termorregulação corporal e acarretando o desconforto e a fadiga. Por isso, é importante o uso de equipamentos de proteção apropriados e confortáveis para a região, bem como vestuários com tecidos de algodão que facilitará a evaporação do suor e a troca de calor do corpo com o meio externo, contribuindo para o maior conforto dos trabalhadores durante a execução do trabalho.
Óculos de proteção: Uma luminosidade apropriada é primordial em qualquer local de trabalho, não bastando uma intensidade adequada de luz, mas também a existência de um contraste luminoso bem ajustado, com ausência completa de brilho que possa causar reflexos e ofuscamentos indesejáveis. E como na maioria das situações no meio rural os trabalhadores atuam em ambientes abertos com excesso de iluminação, o uso dos óculos de proteção torna-se essencial, evitando os reflexos que possam causar o desconforto e a fadiga visual, com consequente redução dos riscos de acidentes.
Protetores auriculares: Muitas máquinas e equipamentos portáteis (tratores, motosserras, motorroçadeiras, etc.) emitem elevados níveis de ruído, estando acima dos limites mínimos estabelecidos pela legislação e podendo causar danos irreversíveis à saúde dos trabalhadores. E como muitas vezes, a ergonomia de concepção, por meio do projeto de produtos adequados ergonomicamente não consegue solucionar todos os problemas, recomenda-se o uso dos protetores auriculares que permita uma adequada atenuação dos níveis de ruído e a proteção dos trabalhadores.
Botas e luvas: A vibração é outro problema ergonômico presente nos postos de trabalhos, principalmente quando do uso de máquinas e equipamentos portáteis. A vibração pode ser transmitida ao corpo inteiro, situação comum nos tratores agrícolas e florestais ou em partes do corpo (mãos e braços), denominadas de vibrações manubraquiais que são transmitidas por máquinas e equipamentos portáteis, podendo, portanto, causar sérios danos à saúde dos trabalhadores. Por isso, como forma de minimização dos problemas relacionados à vibração, torna-se necessário que os trabalhadores façam uso das botas e luvas de proteção durante o manuseio das máquinas e equipamentos portáteis, contribuindo de forma complementar para a atenuação dos níveis de vibração e a maior proteção dos trabalhadores.
Respiradores e viseira facial: No ambiente rural, os trabalhadores podem atuar em atividades com a presença de gases tóxicos provenientes da queima de combustível, inalando vapores orgânicos, névoas ou finas partículas tóxicas, além de poeiras advindas do solo, situações que podem provocar o aparecimento de doenças nas vias respiratórias e outros problemas de maior gravidade à saúde dos trabalhadores. Neste aspecto, como não existe uma solução imediata do ponto de vista ergonômico, torna-se necessário o uso de respiradores que são classificados em: sem manutenção (descartáveis), que possuem baixa durabilidade; e baixa manutenção (filtros especiais de reposição), normalmente mais duráveis. Já a viseira facial atua na proteção dos olhos e rosto dos trabalhadores contra respingos de produtos químicos no momento de seu preparo e aplicação, como também contra partículas e resíduos diversos quando do uso de máquinas e equipamentos portáteis.
Apesar das contribuições dos EPIs como forma de oferecer maior proteção em relação aos acidentes e à saúde, infelizmente, ainda é muito comum encontrarmos trabalhadores rurais executando as tarefas sem o uso de tais equipamentos de proteção. Tal fato é justificado pela falta de hábitos no uso, por falta de cobranças por parte do empregador ou por considerar que tais equipamentos trazem incômodos no trabalho, cujas situações contribuem para o abandono do uso e a maior possibilidade de ocorrência de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais nos trabalhadores rurais.
Portanto, percebe-se a existência de uma estreita relação entre a ergonomia e os EPIs, podendo estes servir de complementação às recomendações ergonômicas para a melhor proteção dos trabalhadores. E para que as recomendações ergonômicas sejam aplicadas de forma eficiente é fundamental o treinamento e a conscientização dos trabalhadores sobre a necessidade de seguir as recomendações ergonômicas e uso dos equipamentos de proteção, que mesmo sendo esta última considerada como medida curativa poderá contribuir para a maior segurança e saúde dos trabalhadores rurais.