O termo Internet of Things (IoT), que na tradução para o português significa Internet das Coisas, deve se tornar cada vez mais presente na área de segurança e saúde do trabalho (SST) nos próximos anos, segundo o consultor de tecnologia Juan Bernabó. Esse tipo de tecnologia estabelece uma conexão entre a internet e objetos para coleta e transmissão de dados.
“Assim como o celular e o computador estão conectados à internet, há uma tendência de conectar todas as máquinas. Por exemplo, você vai ter um torno, uma colheitadeira, equipamentos industriais conectados à internet. Desse modo, conseguiremos ter informações do que está acontecendo dentro das fábricas e dos processos fabris. A ideia é monitorar com o objetivo de evitar acidentes de trabalho, pois teremos mais dados em tempo real e assim faremos análises mais profundas, como prever situações de risco e alertar o trabalhador”, explica Juan.
Nos EUA, Austrália e nos países da Europa, empresas de tecnologia e organizações de SST já têm investido em pesquisa e desenvolvimento de produtos que utilizam o conceito de IoT. Uma das gigantes do setor de informática, a norte-americana IBM está desenvolvendo uma roupa com sensores para a indústria de aço. Esse equipamento monitora a temperatura do corpo e a frequência cardíaca do trabalhador. A solução permite que a empresa forneça instruções de segurança personalizadas para cada funcionário, avisando-o para fazer uma pausa de 10 minutos na sombra, se as temperaturas aumentarem para níveis inseguros, por exemplo.
Essa tecnologia pode ser usada para evitar a exposição excessiva a diferentes temperaturas, níveis de radiação, ruídos ou gases tóxicos, usando tags de sensor para medições de temperatura, umidade, ruído ou luz.
Já a empresa australiana Smart Cap Technologies desenvolveu uma solução de monitoramento de fadiga para detectar cochiladas de caminhoneiros e outros operadores de maquinário pesado. A tecnologia monitora as ondas cerebrais para garantir que o motorista não está dormindo ao volante e que sua acuidade mental é boa o suficiente para permanecer acordado.
No Brasil, o investimento em soluções tecnológicas para a área de SST ainda é baixo, diz Juan. “O nível de digitalização na área de SST no Brasil é baixo. Então, hoje não temos aplicativos que ajudem os funcionários. A tecnologia existente no país está muito focada na realização de processos burocráticos, sendo muito mais direcionados para os técnicos”.
Contudo, Juan acredita que esta situação se reverta no futuro. “Creio que o investimento no Brasil ainda é baixo, porque essas coisas estão começando a surgir agora na área de SST. Mas, nos próximos anos teremos uma revolução tecnológica nesse setor no país”, afirma.
O especialista em desenvolvimento industrial do SENAI, Luís Gustavo Delmont, já havia declarado: “É preciso observar esses sinais e se preparar para as mudanças e criar futuros desejáveis para os negócios. Querem um exemplo? Há dez anos, os taxistas deviam ter percebido que o mercado deles sofreria mudanças. Já existiam o GPS, os smartphones e o sistema de pagamento online. Os modelos mudam e estão mudando. Na construção, as construtechs estão aí e já existem elevadores que andam vertical e horizontalmente. Assim, é preciso buscar o protagonismo e fazer a diferença”, afirmou ele.
Trazendo o questionamento de como esse novo cenário impacta nas ações de SST, Thiago Yhudi Taho, especialista em Desenvolvimento Industrial e Coordenador Nacional dos Centros de Inovação do SESI, disse que as tecnologias podem ser usadas a favor desses programas. “É preciso monitorar este cenário de mudanças para desenvolver, de forma diferente, a saúde do trabalhador e a prevenção de acidentes de trabalho. Os drones, por exemplo, permitem o acesso às áreas perigosas ou de difícil acesso nos canteiros. Outro caminho é o BIM, que pode integrar ao projeto os requisitos de segurança exigidos pelas Normas. Então, a inovação na SST reduz acidentes e, consequentemente, os custos com a saúde suplementar”, destacou.
Para o engenheiro e especialista em Segurança e Saúde no Trabalho, Hugo Sefrian Peinado, a área de SST é beneficiada pelas novas tecnologias e o setor da construção deve aprender a usá-las de forma coerente. A realidade virtual foi um dos exemplos trazidos por ele. “É possível se fazer simulações de cenários reais e, assim, identificar os riscos, bem como realizar treinamentos de capacitação de trabalhadores e gestores”, explicou ele, confirmando o que Thiago disse, de que o BIM também pode ser usado a favor da construção civil, facilitando a identificação de possíveis riscos.
Falando sobre o futuro do trabalho na indústria, Alexandre Herculano Coelho de Souza Furlan, presidente do Conselho de Relações do Trabalho da Confederação Nacional da Indústria, destacou os impactos gerados pela chamada construção 4.0, que mudará não só o cenário dos negócios, nos campos da produtividade, da gestão empresarial e da integração da produção, como também o perfil do trabalhador, que precisará ter mais habilidade de cognição, mais criatividade e ser resolutivo. “É importante termos a premissa de que a construção 4.0 é uma grande oportunidade, pois vão surgor novos mercados e protagonismos. O gestor precisa pensar em qualificação, assumindo a responsabilidade de fazer com que quadro funcional seja estável e se capacite, para melhoria da produtividade”, concluiu.
A publicitária, futurista e pesquisadora sobre o futuro do trabalho na Rede Crie Futuros, Datise Biasi, abordou as perspectivas para o mercado do trabalho, com os avanços tecnológicos e as mudanças sociais, e como serão as novas empresas e relações trabalhistas. Para ela, a transição da era industrial para a digital traz desafios de adaptação, pois é preciso pensar neste contexto digital. “É uma mudança cultural e de mindset”, afirmou.
Uma das maiores transformações apontadas pela futurista é a forma como pessoas trabalham. “Hoje, temos muitos casos de pessoas que trabalham no regime de homeoffice. Estamos na era do trabalho remoto, com jornada flexível. As pessoas podem trabalhar de qualquer lugar”, apontou ela, ressaltando que as relações profissionais também sofreram mudanças e estão mais plurais e informais.
Na área da construção civil, ela diz que há déficit de mão de obra capacitada, o que deve levar os gestores a pensar em treinamentos, principalmente que qualifiquem para a utilização de novas tecnologias. Como gerenciar essa capacitação depende de cada um. “Não há respostas, há iniciativas para prover educação e ajudá-los a desenvolver habilidade. A mudança é nossa única certeza”, encerrou.
Fontes: Revista Preven, SECONCI