Quando falamos em movimentação de carga com equipamentos de guindar é inevitável pensar no risco envolvido. Uma coisa é certa: o risco sempre vai existir, independente da operação. O aumento do risco não é diretamente proporcional ao tamanho ou peso da carga – e, sim, o risco aumenta quando ocorre falta planejamento.
Ao executarmos o planejamento, estamos mitigando ao máximo o risco e tomando ações antecipadas para que ele seja controlado e a operação seja feita a níveis aceitáveis de segurança. Sim, o planejamento passa pelos equipamentos, pelos procedimentos previamente definidos e pelas pessoas envolvidas.
As estatísticas mostram que só 6 % dos acidentes estão relacionados com a falha do equipamento. O restante (94%) tem como causa-raiz as pessoas, seja no gerenciamento/ supervisão ou na operação.
Toda operação deve ser planejada
Existem casos em que o planejamento exige um plano de rigging, que é um desenho com medidas reais em milímetros, onde consta uma vista de planta para localizar o guindaste, uma vista de elevação onde são definidas as folgas entre a carga, lança, outros obstáculos e todas as informações do guindaste, da carga, da amarração etc.
Nas operações mais simples um formulário pode auxiliar no planejamento, mas, em todos os casos, a porcentagem a ser utilizada da capacidade do guindaste na condição mais crítica, deve estar bem definida e claramente informada.
A equipe envolvida na operação é composta das pessoas do planejamento, do supervisor , do operador do equipamento e dos auxiliares de movimentação de carga (também chamados sinaleiros amarradores conforme as NRs).
Operação de movimentação de carga com guindaste, grua ou guindauto não é para amadores. Nesse ramo, devido ao elevado risco envolvido, não se admite falta de conhecimento e pouca experiência. As equipes têm que saber o que estão fazendo, saber controlar os riscos. Esses profissionais devem ter a sensibilidade de perceber quando algo está saindo do controle, parar e tomar ações, muitas vezes imediatas, para retornar à operação segura novamente. Isso só se adquire com muita experiência.
Mesmo nas operações rotineiras, quando tudo que vai ser feito é repetitivo, a atenção deve ser uma constante e o respeito pelo risco deve fazer parte da característica de todos os componentes da equipe. Os acidentes acontecem em fração de segundos e a falta de respeito pode influenciar na hora da tomada de decisão – e aí pode ser tarde demais.
Com procedimentos bem definidos e conhecidos de todos da equipe, na movimentação de cargas não se admite que eles sejam ignorados ou deixados de lado durante a operação, seja por pressão do cronograma seja por tentar facilitar as coisas. Os componentes das equipes de movimentação de cargas não podem burlar os procedimentos e tomar para si a responsabilidade da operação.
Dizer que “acidentes acontecem”, é sempre uma justificativa leviana e uma falta de análise crítica do fato. Os acidentes com cargas abaixo de 20 t são a maioria. Talvez pelo fato das pessoas pensarem que com cargas pequenas o risco é menor. Estão completamente equivocadas: o risco aumenta com a falta do planejamento.
As pessoas na movimentação de cargas devem trabalhar em equipe, focadas na segurança pessoal e pensando a qual risco os outros membros da equipe estão submetidos e o que fazer para mitigá-los. Todas as vezes que um novo elemento é inserido na equipe ele deve levar uma identificação para que todos zelem por ele até que sua ambientação seja completada.
A relação máquina operador está cada vez mais segura, com o incremento de sensores e computadores que monitoram e limitam as operações. Mas o operador não deve se acomodar com isso e esperar que a máquina desligue. Sempre é ele que deve controlar a operação. Em outras palavras, o operador tem que ter certeza do que está fazendo e usar a máquina para monitorar as reações dos seus atos.
Em nenhuma hipótese, o operador deve desligar o sistema de segurança do equipamento, com a intensão de aumentar a capacidade e assumindo assim todo o risco da operação. Isso parece ser claro, mas muitas vezes pela pressão do cronograma o bypass é utilizado.Segurança nunca pode ser negociada, as consequências podem ser inimagináveis.
Competências exigidas do operador
As competências exigidas dos operadores devem estar à altura do equipamento e da dificuldade da operação a ser desenvolvida. É muito importante que o operador esteja familiarizado com o equipamento. Cada modelo tem suas particularidades e limites que devem ser do conhecimento do operador – não basta sua experiência como operador, mas, sim, o conhecimento do equipamento que ele vai operar. Esse conhecimento é transmitido pelo fabricante ou por alguém que foi treinado por ele.
De um modo geral, as competências exigidas dos operadores de guindastes devem passar por um perfil psicológico específico, conhecimento teórico e habilidade no controle da carga. O perfil psicológico desejado para operadores são: inteligência acima da média, aliada a uma atenção super aguçada, dividida e alternada, que possibilita a tomada de decisão rápida. Uma visão espacial e de profundidade, facilita a antecipação dos perigos como por exemplo uma pessoa estranha entrando na área da carga. A parte teórica exigida dos operadores é onde são definidos os procedimentos de segurança, o que, na verdade, é o planejamento das operações seguras.
Por fim, os operadores devem possuir habilidade suficiente para controlar a carga nas manobras mais difíceis, e isso não é conseguido de um dia para o outro – vai depender da sua experiência como operador.
Como podemos observar, as competências necessárias de um operador vão muito além de um treinamento de 8 ou 16 h. Não se forma um operador do dia para a noite. É necessário treinamento prolongado, estágio monitorado com equipamento, ou auxiliado por simuladores e ter o perfil psicológico necessário.
Muitas são as operações em áreas habitadas, próximas a vias de tráfico intenso, e de linhas férreas, onde um acidente pode ter efeitos catastróficos. Na maioria das operações a carga é um produto acabado que pode impactar em valores altíssimos, caso venha a ser danificadas e, consequente, atrasar o cronograma.
Assim, não existe justificativa para uma falta de planejamento, onde tudo deve ser previsto e calculado, inclusive o nível da mão de obra que irá atuar na operação. Não é admissível que falte experiência para a operação. Os diretores e responsáveis têm que garantir que as pessoas envolvidas estão no nível que a operação exige. Não há espaço para tentativas, desleixos ou insensatez.
Por: Carlos Gabos
Engenheiro mecânico atuante na área de Movimentação de Carga desde 1996 nas empresas American Hoist , Tema Terra, Instituto Opus/Sobratema, Tomé Engenharia, Odebrecht, além de coordenador do Bureau de Certificação de Pessoas da Abendi.