História da Ergonomia: Jornadas excessivas, trabalhadores expostos a condições insalubres, mortes e trabalho semi-escravo.
Postagem: 2020-06-10T19:33:01-03:00
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Muito antes da formalização da ergonomia como disciplina e o surgimento do termo “ergonomia” no Séc XVIII, temos exemplos da criação de ferramentas a partir de pedaços de pedra para melhorar a atividade da caça, tornando-a mais eficaz e confortável para o caçador. Estas adaptações se deram no período pré-histórico e de certa forma, mostram um aspecto importante da ação ergonômica: Adaptar o trabalho ao homem.

A ergonomia, como disciplina, surgiu em 1949 fruto da criação da Ergonomics Research Society na Inglaterra. Nos Estados Unidos, em 1959 foram criadas a Human Factors Society (HFS) e a International Ergonomics Society (IES) assim como em 1963, na França, foi criada a Societé d’Ergonomie de Langue Française (SELF).

Apesar da criação destas sociedades, o termo “ergonomia” que se origina do grego ergon (trabalho) e nomos (regras) foi usado pela primeira vez em 1857 pelo polonês Wojciech Jastrzebowski, que publicou o artigo “Ensaios de ergonomia ou ciência do trabalho, baseada nas leis objetivas da ciência sobre a natureza”.

No final do século XVIII o trabalho era bastante desgastante com jornadas excessivas, trabalhadores expostos a condições insalubres, mortes e trabalho semi-escravo. Tal situação era devido ao contexto socioeconômico da época, onde as indústrias europeia e americana estavam se adequando e buscando elevar a produção em frente a escassez de mão de obra qualificada e no limite da matéria prima.

Surgiram alguns métodos de otimização da mão de obra e um desses foi proposto por Frederick Winslow Taylor (1856-1915). O método ficou conhecido como administração científica do trabalho ou “Taylorismo”. Segundo Taylor, era preciso racionalizar o trabalho por meio de prescrições de gestos e movimentos. O savoir faire ou “saber fazer” do trabalhador era repassado por instâncias superiores a ele, ou seja, o trabalho era planejado por alguns e executados por outros (divisão vertical do trabalho). Desta forma e seguindo os preceitos do Taylorismo, só existia uma única maneira eficaz de realizar uma certa tarefa, não havendo possibilidades de desvios ou adaptações. Por meio de cronoanálises era escolhido o jeito mais eficaz e rápido de realizar o trabalho, fazendo do homem um mero executante sem a capacidade de pensar.

Tal aspecto caracterizou os trabalhadores em “homens médios”, com tarefas simples e repetitivas e escolhidos de forma preconceituosa (Os mais fortes exerciam as tarefas pesadas e os mais fracos as tarefas delicadas – Na indústria de tecelagem, crianças eram utilizadas devido ao tamanho de suas mãos, o que facilitava o manuseio dos fios). As jornadas eram extensas e ainda ganhavam prêmios por produção. Este conceito juntamente com a introdução da linha de montagem proposta por Henry Ford (1863-1947) levou ao adoecimento de muitos trabalhadores por não considerar as variabilidades da atividade de trabalho.

Após a II Guerra Mundial os conceitos da ergonomia serviram para melhorar as condições de trabalho e a produtividade dos trabalhadores em geral e rapidamente começou a ser difundida.

Várias publicações científicas a partir de 1957 e a criação de novas sociedades e escolas pelo mundo ajudaram na difusão da ergonomia. Em 1983 no Brasil foi fundada a Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO), que encontra-se em pleno funcionamento até hoje.

Outro fator decisivo para o crescimento da ergonomia, foram às ações sindicais, principalmente na década de 70 e 80. As condições desfavoráveis de trabalho e o crescente absenteísmo levaram as muitas transformações com a criação de leis que protegiam os trabalhadores e fiscalizações nos ambientes de trabalho.

Na década de 80 com a introdução da informática, surgiram novos horizontes para a ergonomia, já que a atividade de trabalhado caracterizada pelos seus riscos físicos agora se encontrava no âmbito dos processos cognitivos (ex: interação homem-interface-computador, tomadas de decisões, carga mental, raciocínio). As tarefas antes simples, repetitivas e que exigiam pouca qualificação se tornaram complexas e demandavam alta competência por parte dos trabalhadores (ex. engenheiro nuclear monitorando as transformações de uma usina por meio do computador).

Surgiram também novas formas de organização do trabalho ante a idealizada por Taylor. Citamos os Grupos Autônomos (Toyotismo) e Grupos Enriquecidos (Suécia – Volvo). Tais formas privilegiam a autonomia, flexibilidade, inovação e polivalência dos trabalhadores.

No desenvolver de novas tecnologias e com a introdução de fábricas cada vez mais automatizadas, a ergonomia cognitiva encontra vasto espaço. Um controlador de voo deve estar atento a cada instante, pois inúmeras vidas dependem de seu trabalho. Por esta razão, a ergonomia vem dando suas contribuições na prevenção de acidentes de trabalho por meio da confiabilidade humana e visão sistêmica da atividade de trabalho. Cabe aos projetistas e donos de empresas a sensibilidade de reunir a produção com o bem-estar dos seus trabalhadores.

Para tornar as tarefas do dia-a-dia menos complicadas, a ergonomia também se mostra presente. A concepção de dispositivos fáceis de manusear são contribuições ergonômicas. Um automóvel por exemplo, seus comandos, botões e assentos são objeto de muito estudo para que estes se tornem confortáveis e cumpram com seu objetivo. Sempre adaptando a tarefa ao homem e nunca o contrário.

“A ergonomia existirá enquanto o homem continuar a sofrer as diversas mazelas do trabalho”

Referências

Abrahão, J. et al. Introdução à ergonomia: da prática à teoria. São Paulo: Blucher, 2009.

Iida, I. Ergonomia: projeto e produção. 2. ed. Ver. E amp. São Paulo: Blucher, 2005.