Estresse ocupacional no ambiente hospitalar: revisão das estratégias de enfrentamento dos trabalhadores de Enfermagem
Editor: Sandro Azevedo
Postagem: 2019-06-13T10:15:05-04:00
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O processo de trabalho de Enfermagem pode ser permeado pelo ritmo acelerado de trabalho; pela insuficiência de profissionais, o que gera sobrecarga de tarefas; pela necessidade de realizar as atividades rapidamente e com tempos de pausa reduzidos; pela falta de autonomia; pela autoridade institucional excessiva; pela supervisão estrita da chefia; e pela falta de comunicação, culminando em sobrecarga psíquica em virtude do estresse crônico.

O estresse é toda pressão ou acúmulo de pressões, seja de ordem física ou psicológica, causado por um estressor, que acarreta o desequilíbrio de um indivíduo. Trata-se de uma resposta adaptativa do indivíduo, de reação em uma situação emergencial. Os estressores podem ser externos (fontes externas de estresse que afetam o indivíduo, por exemplo, a profissão) ou internos (fontes internas de estresse determinadas pelo próprio indivíduo, como seu próprio modo de ser).

Em doses baixas, o estresse é desejável e benéfico ao trabalhador, pois pode aumentar a disposição, o interesse, o entusiasmo e a atenção e, com isso, a produtividade. Porém, em doses excessivas, pode se tornar maléfico ao trabalhador, uma vez que gera fadiga, irritabilidade, depressão, falta de concentração, interferindo negativamente no ambiente de trabalho e, consequentemente, diminui a produtividade.

Estresse ocupacional é um processo em que o indivíduo compreende as demandas/exigências do trabalho como estressores, ultrapassando sua capacidade de enfrentamento e desencadeando respostas negativas. Pode estar associado à redução da produção e da qualidade do trabalho, ao aumento do absenteísmo (da falta não programada) e à rotatividade dos profissionais e ao surgimento de acidentes de trabalho, podendo gerar prejuízos financeiros à instituição e danos à saúde dos trabalhadores, além de comprometer a qualidade da assistência prestada.

O processo de trabalho da Enfermagem pode contribuir para o estresse ocupacional, visto que é um trabalho que demanda muita atenção e responsabilidade. A dupla jornada de trabalho vivenciada por alguns profissionais favorece o aparecimento do cansaço e reduz o tempo do autocuidado do profissional; provoca sobrecarga nas relações interpessoais entre profissionais, pacientes e familiares; prestar assistência em setores onde o trabalho é desgastante e realizar procedimentos complexos; resulta em menor número de profissionais de enfermagem; disponibiliza menos tempo para execução de tarefas e proporciona escassez de materiais.

O estresse no trabalho da enfermagem é uma realidade, e para superar as situações estressantes são empregadas estratégias de enfrentamento. Essas estratégias são conhecidas como coping, termo da língua inglesa.

Estratégias de enfrentamento são estratégias empregadas pelo indivíduo, de ordem cognitiva, comportamental ou emocional, para controlar situações de estresse e manter a integridade mental e física. Sendo assim, são maneiras que o indivíduo lida com o estresse, minimizando os efeitos dos estressores no organismo, visando ao bem-estar físico e emocional.

As estratégias de enfrentamento são separadas em duas categorias: enfrentamento focado na emoção e enfrentamento focado no problema. O primeiro consiste no controle das emoções pelo indivíduo desencadeadas com o evento estressante, por exemplo, discutir sobre os sentimentos com alguém. Já o segundo é a procura de resolução para o problema que causa o estresse, por exemplo, buscar orientação para resolver um problema. As estratégias podem ser usadas conjuntamente para combater o estressor.

A estratégia de negação e banalização do sofrimento é a resistência em reconhecer a própria dor e o sofrimento do próximo para não se abalar emocionalmente e no momento em que a exposição desse afeto pode representar uma situação constrangedora. Essa estratégia não apresenta eficácia para redução do estresse, pois o profissional se oculta atrás do procedimento técnico e não se mostra como ser humano.

A estratégia de racionalizar o problema, por meio de uma interpretação simples e lógica, acarreta na redução da angústia, do medo e da insegurança em situações referentes ao trabalho, por exemplo, lidar com a morte.

A troca de setor ou desistência da profissão é ocasionada em razão da alta carga de estresse que extrapola a tolerância do trabalhador e gera consequências no ambiente de trabalho e na vida pessoal, motivando-o a tomar tal decisão.

Entre as estratégias de manejo de sintomas existentes, podemos citar a estratégia de autocontrole.  Nela, o profissional faz uma análise da situação para decidir a conduta a ser tomada, para assim abster-se de atitudes impulsivas e desnecessárias que poderiam se tornar motivo de culpa e sofrimento, de forma a preservar-se. Faz-se o controle dos próprios sentimentos e ações quando ocorre o estímulo estressor, de forma a administrar seu comportamento.

As estratégias de manejo de sintomas são eficazes, mas se forem utilizadas como única alternativa para lidar com situações de sofrimento podem alienar o profissional e causar intensificação do sofrimento, tornando-se não efetivas.

Assim, considerando que as estratégias de enfrentamento dependem das características individuais do profissional e das situações vivenciadas no ambiente ocupacional, a adoção de diversas estratégias é mais eficaz do que o uso de apenas uma, visto que o indivíduo tem mais recursos para enfrentar a situação estressante ao aderir a várias delas.

A impossibilidade de excluir o estresse no cotidiano do profissional de Enfermagem evidencia a importância de se buscar estratégias de enfrentamento dele, na tentativa de conter o dano emocional causado nos trabalhadores. Novas estratégias de coping podem ser aprendidas pelos profissionais e pode ser útil iniciar ou aprofundar a discussão dessa temática entre os profissionais de Enfermagem, de forma a propiciar maior satisfação no trabalho, que, certamente, irá se refletir no cuidado que realizam, melhorando a qualidade da assistência aos pacientes.

Reconhecer as estratégias de coping empregadas pelos trabalhadores de Enfermagem no ambiente hospitalar pode proporcionar a compreensão de como as situações estressoras são enfrentadas pelos diversos profissionais e colaborar na elaboração de ações de educação, a fim de preparar os trabalhadores para usar estratégias que reduzam o estresse no trabalho, uma vez que este e seus efeitos sobre a saúde dos trabalhadores podem ser subestimados, contudo são reais e merecem atenção.