Seja em trânsito, no trabalho, em casa ou em um espaço público, a segurança é um fator rotineiramente negligenciado. Assim, dirigir dez quilômetros acima da velocidade permitida em uma via é tido como normal e até aceitável, afinal, está inclusive dentro da tolerância dos radares eletrônicos para caracterização de multa. Subir em uma banqueta para trocar uma lâmpada, sem usar luvas ou óculos de proteção e sem desligar a alimentação de energia elétrica, é praxe em qualquer residência.
Segundo o Ministério da Previdência Social, por meio de seu Anuário Estatístico, os acidentes laborais notificados no Brasil ultrapassam a marca de 710 mil, com mais de três mil óbitos todos os anos. Isso significa cerca de duas mil ocorrências por dia, ou seja, enquanto você lê este artigo, ao menos três pessoas se acidentaram em algum lugar de nosso país. E os números certamente são ainda maiores, pois muitos eventos simplesmente não são registrados.
O principal fator é o desrespeito com relação ao risco. As pessoas acham que nada de ruim lhes acontecerá, afinal, o mal está sempre ocupado com outrem. Por isso, as empresas precisam tanto insistir na obediência a regras, normas, procedimentos, sinalização e uso de equipamentos de proteção, combatendo permanentemente a famosa “gambiarra”. Esta é a retórica constante durante as SIPATs (Semana Interna de Prevenção de Acidentes no trabalho) organizadas pelas empresas em cumprimento à legislação.
A atenção deve ser permanente, seja no exercício da atividade profissional, sobretudo em tarefas operacionais e naturalmente com caráter repetitivo, seja ao subir e descer escadas, ou transitando com crianças em centros de compras, onde recorrentemente menores se acidentam e até perdem a vida em escadas rolantes.
Outro aspecto é a responsabilidade pessoal. No acidente mencionado no início do texto, o próprio motorista consentiu ter ciência de que trafegava em horário não permitido, acima do limite de velocidade e falando ao celular. Lamento por ele e por seus familiares, mas o fato é que isso não poderia ser tratado como crime culposo, quando não há a intenção de matar, mas sim doloso, pois ao infringir todas as regras acima o condutor estava conscientemente praticando delitos. Aliás, foi esta conjunção de fatores que o impediu de observar que a caçamba estava levantada.
Precisamos urgentemente colocar a segurança como uma prioridade. Ela precisa ser inserida na carta de valores das empresas, nas políticas de treinamento, nas aulas no ensino fundamental. Desenvolver uma cultura de prevenção não é algo que se alcança de um dia para outro. É um processo, árduo, lento e trabalhoso que, como tal, precisa de um primeiro passo. Afinal, na atitude de cada um está a segurança de todos.
Reduzir os índices de acidentes de trabalho é uma missão urgente das empresas. Para tanto, é preciso agir nos agentes causadores, entre eles, o fator humano. Muitos empresários focam em fornecer EPI, mas dão pouca importância ao comportamento seguro.
Primeiramente, é importante frisar que nenhum trabalhador se acidenta porque quer, isso é uma consequência de inúmeros erros. Entretanto, muitas vezes, os colaboradores não seguem as normas e acabam colocando em risco a própria segurança e a dos demais colegas.
O que é o comportamento seguro
As empresas brasileiras operam sob uma rigorosa legislação de Saúde e Segurança no Trabalho. Há a obrigatoriedade de oferecer EPI, criar a CIPA, Sipat, Brigada de Incêndio, instalar proteções e sinalização, etc.
O comportamento seguro é quando o funcionário, ciente dos riscos que sua profissão oferece, adota ações e medidas para proteger a sua integridade e a dos demais colegas.
Isso inclui fazer o uso correto dos equipamentos de segurança, trabalhar com atenção, respeitar as regras de utilização de máquinas e equipamentos, ajudar os parceiros de trabalho e não se expor a riscos desnecessários, entre outros.
Dicas de conscientização do comportamento seguro:
- Realizar treinamentos sobre saúde e segurança no trabalho;
- Esclarecer os riscos que cada atividade está submetida;
- Educar os colaboradores sobre a importância do pensamento coletivo;
- Mostrar dados e casos de acidentes por causa de comportamento inseguro;
- Conversar com os funcionários sobre o uso de equipamentos de proteção.
Motivos do comportamento errado
Segundo o psicólogo e pesquisador brasileiro na área de segurança do trabalho, José Augusto Dela Coleta, os comportamentos e atitudes dos trabalhadores não podem ser analisados sem considerar todo o contexto que estão inseridos.
Dessa forma, o comportamento seguro é uma consequência de uma série de atitudes e responsabilidades dos gestores. Por exemplo, muitos acidentes acontecem por desconhecimento sobre as normas. Outros, por desatenção ou falta de motivação dos funcionários.
Nesses casos, um olhar mais atento das lideranças tanto em treinamento como percepção dos colaboradores pode ser fundamental para detectar os causadores do comportamento errado.
Além disso, há o acidente causado pelo excesso de confiança, quando a pessoa executa a mesma atividade há tanto tempo que desenvolve o “jeitinho”. Esse tipo de atitude é totalmente contrária ao comportamento seguro e, portanto, precisa ser evitada.